sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

CESTA DE CRÔNICAS E OUTRAS ESSÊNCIAS

Por Xico Bizerra




A CHITA DO VESTIDO DE MINHA AMADA


Ficou escuro e quase não se via o caminho. Mais parecia uma vereda, uma senda. Da última vez que o céu nublou, demorou mais de 20 anos para desnublar. E a cada dia ficava mais fechado o tempo. Mas um dia o sol raiou. Como sei que qualquer hora outro sol raiará e amanhã será outro dia. Mas quando será o amanhã? Parei, cauteloso, esperando tempo bom, mesmo sabendo que não adianta ficar parado no acostamento no aguardo de bom tempo: tem que botar o carro na estrada, ainda que ela seja estreita e cheia de catabis, encarar o perigo e chegar ao destino final. Redobrar os cuidados, faróis acesos, que o perigo mora perto, mas seguir é preciso, sempre acelerando, cantando e sorrindo, quando possível. Dona Alzira, a costureira, aguarda o corte de chita que eu levo pra fazer um vestido pra minha amada ficar mais bela do que ela já é. Se eu ficar parado no acostamento esse vestido jamais a vestirá. E a chita é muito bonita para se perder numa estrada só porque o tempo escureceu. Logo eu, que nunca tive medo do escuro e que por tantos escuros já passei ... Melhor seguir, cantando e sorrindo, mas sempre atento às negras nuvens e às assombrações. Vai passar ...

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