terça-feira, 28 de janeiro de 2020

GONZAGA LEAL - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Garbo e precisão talvez sejam as palavras de ordem nos projetos que este artista abraça,  seja em disco ou em shows. Atualmente, Gonzaga Leal vem apresentando nos palcos do Brasil dois espetáculos distintos e acaba de lançar em disco mais um tributo para ser somada à sua discografia: "Olhando o céu, viu uma estrela", uma homenagem a Dalva de Oliveira

Por Bruno Negromonte





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É impossível falar da música pernambucana dos últimos quarenta anos sem, em dado momento, citar o nome de Gonzaga Leal. Nascido em Serra Talhada, cidade localizada a mais de 400 quilômetros da capital pernambucana, Leal tornou-se um dos nomes mais relevantes da música de Pernambuco nos últimos anos a partir de uma história que vem sendo construída desde os anos de 1970 ao dividir momentos musicais com alguns relevantes nomes do cenário musical não apenas pernambucano como também nacional como foi possível conferir a partir da recente matéria "EM TEMPOS DE EFEMERIDADE, "OLHANDO O CÉU, VIU UMA ESTRELA" É MEMÓRIA ARGUTA QUE REITERA A FORÇA DO ADJETIVO ATEMPORAL ", publicada aqui mesmo em nosso espaço. Com dez discos lançados, sendo o mais recente em homenagem a um dos nomes mais expressivos nomes do cancioneiro popular brasileiro do século XX, hoje o artista volta ao nosso canal para reiterar a sua paixão pela arte, abordar como se deu seus primeiros contatos com o trabalho de sua homenageada, e para nos contar como se dá a elaboração de seus projetos entre outras peculiaridades de uma carreira pontuada por detalhes positivamente peculiares. 


Gonzaga, são mais de quatro décadas de palco e música sem nunca ter aberto concessão para aquilo que você não acredita enquanto arte em um mercado cada vez mais heterogêneo (no sentido mais reles da palavra). Como é para você remar contra essa maré?

Gonzaga Leal - Na vida, quando fazemos escolhas e andamos enlaçados ao nosso desejo, o sentimento de remar contra a maré torna-se algo menor. Logo muito cedo, defini o tamanho do artista que eu quis ser e, com isso, o compromisso que eu tenho com a minha carreira, de conduzi-la para construir uma obra e não para buscar o sucesso, cujo compromisso é com o efêmero.


A linha do tempo de sua discografia já traz alguns tributos a exemplo dos projetos “Gonzaga Leal cantando Capiba... e sentirás o meu cuidado” e “Minha adoração - Um tributo a Nelson Ferreira” que aborda a obra de dois grandes compositores. Como você chegou a conclusão que era a hora de abordar dessa vez uma intérprete?

GL - Conduzo minha carreira apoiada em três paradigmas: o estético, o ético e o político. Uma das funções que abraço é a responsabilidade de estabelecer conexões e interfaces com a história da música brasileira e, portanto, com o tempo, esse senhor dos deuses.


Dentre as suas mais remotas reminiscências musicais onde Dalva de Oliveira está presente? Em que momento o canto de Dalva cruza o seu caminho?

GL - Logo muito cedo, no auge da minha infância, presenciava meu pai ouvindo os discos da Dalva e a minha mãe cantarolando seu repertório. É uma lembrança muito fértil, feliz e marcante. É nítido em meu imaginário ver minha mãe, enquanto arrumava a casa, cantando “Ave Maria do morro”.


A escolha na abordagem do repertório especificamente da Dalva se deu a partir de qual contexto?


GL - O repertório da Dalva é muito caudaloso e expressivo, portanto, estabelecer um recorte para o show e, consequentemente o disco, não foi das coisas mais fáceis. Assim, essa escolha recaiu sobre um recorte marcante na vida da Dalva de Oliveira e Herivelto Martins - os momentos de desassossego e desenlace que viveram em sua relação amorosa. Foram esses momentos que geraram um capítulo musical absolutamente belo e febril para a música brasileira.




Tem sido recorrente projetos seus ao lado de grandes damas da canção brasileira. Como se dão essas parcerias e como surgiu o convite para que a Áurea Martins participasse desse seu mais recente projeto?

GL - É verdade. Adoro trabalhar com cantoras que têm um passado na música brasileira. Foi assim com Alaíde costa e agora com a Áurea Martins, ambas queridas amigas e extraordinárias artistas.
O desejo de fazer um trabalho com a áurea já era de um tempo, desde a primeira vez que a vi cantando na loja Modern Sound, no Rio de Janeiro, quando, naquele dia, eu fazia uma tarde de autógrafos do meu disco “E o nosso mínimo é prazer...”. Era o ano de 2006.


Primazia define “Olhando o céu, viu uma estrela” a partir de vários aspectos. Aliás, seus projetos fonográficos e cênicos trazem por característica esse refinamento. Como se dá a concepção e materialização destas ideias?

GL - Conceber um trabalho artístico, com o mínimo de rigor, leva tempo, sofrimento, prazer e dor. São sentimentos inalienáveis ao artista. Criar implica em abordar camadas tantas e percorrer os mais diversos itinerários.
Sou um artista em primeiro lugar. O cantor e o intérprete chegam depois. Lembro-me agora do poeta, dramaturgo, ator e ensaísta francês, uma de minhas inspirações, Antonin Artaud: “O ser possui estados inumeráveis e cada vez mais perigosos”.


Seus projetos são sempre agregadores. Seja no palco ou em disco, você tem por característica abarcar distintos nomes, existem critérios para além da afinidade que define essas escolhas?

GL - Não exatamente. O artista que habita em mim, de mãos dadas com a minha intuição, me conduz. Sou muito respeitoso com a minha intuição e com os meus processos inconscientes, deixo-me levar por eles. Até então, não tenho do que queixar-me dessa minha postura diante do meu fazer artístico.


Olhando o céu, viu uma estrela” chega de modo atípico ao que geralmente é pré estabelecido. Primeiro veio o espetáculo e depois o disco quando o espetáculo já estava bem amadurecido no palco. Por que esse caminho inverso?

GL - Essa não é a primeira vez que isso me ocorre. “Olhando o céu, viu uma estrela” seguiu o mesmo itinerário que o CD “Porcelana”. Os shows vieram primeiro, a resposta e o desejo do público e, como se não bastasse, o aparecimento de um patrocinador para o CD, nesse caso, o Estúdio Muzak.
Somado a isso, a forma amorosa e intransigente do nosso diretor musical e arranjador Caca Barretto, que, junto com os músicos (Cláudio Moura, Maurício Cézar, Aristide Rosa, Alexandre Rodrigues, Rafael Marques, Tomás Melo, George Rocha Júlio César Mendes, Fabiano Menezes, Ítalos Sales, Renato Bandeira, Maestro Spok e Roque Neto), também amorosamente e identificados com o projeto, gravaram o CD.


Dalva se faz presente em homenagem, repertório e depoimento. Como se deu essa ideia de agregar aos números musicais textos e a voz da própria Dalva?

GL - Lendo a biografia da Dalva, pouco depois que se decidiu gravar o disco, tomei conhecimento de que ela, alguns poucos anos antes de falecer, deu um depoimento ao museu da imagem e do som, no Rio de Janeiro. Esse depoimento me foi disponibilizado por Paulo Henrique de Lima pereira, biógrafo de Dalva de Oliveira. Qual foi a minha surpresa, encontrei trechos do depoimento que dialogavam com o repertório do CD.
Dessa forma, a voz falada da Dalva se diz presente, comentando uma boa parte do repertório do disco, que tem um alcance um pouco além de um CD de reunião de canções.


Fugindo um pouquinho da abordagem do álbum “Olhando o céu, viu uma estrela”, você vem apresentando pelos palcos do Brasil o espetáculo “Concerto de assobios”, um show singelo o qual você aprofunda-se nas entranhas musicais de um Brasil muito peculiar. É um projeto a se pensar em um registro fonográfico também ou será algo restrito aos palcos? 

GL - Esse projeto tem me dado muito prazer. É um presente para qualquer artista adentrar ao universo poético de Manoel de Barros e cantar os temas serenados do brasil. Até que enfim ele ganhou vida e forma, pois, há muito tempo que ele era para acontecer. Mas, como não sou um artista com pressa, tinha a clareza de que o tempo dele ia chegar.
Ainda esse ano, voltaremos à Curitiba - onde estreamos na Caixa Cultural, mas dessa vez será no teatro paiol, com produção de Rodrigo Browne.
Quanto ao CD, temos disponível somente nas plataformas digitais com o nome “Concerto de assobios”, contendo boa parte do repertório do espetáculo.



Maiores Informações:
E-mail: leal-producoess@hotmail.com
Myspace: gonzagaleal2
Facebook: Gonzaga Leal
Twitter: @GonzagaLeal
Leal Produções Artísticas Ltda.
Rua Raul Lafayette, 191 - sala 403
Boa Viagem - Recife - PE
CEP: 51021-220
Fone/fax: (81) 3463.4635 e 98712.5110

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