domingo, 22 de dezembro de 2019

QUATRO DÉCADAS DE EXCELÊNCIA SONORA

13 anos após o lançamento do seu último projeto fonográfico, o grupo de origem baiana volta aos mercado com um álbum comemorativo e repleto de convidados

Por Bruno Negromonte


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O que temos por cerne da Música Instrumental Brasileira em suas origens são três gêneros considerados como de extrema relevância para a sua formação: o choro, o jazz e a música erudita advinda da Europa. A origem do choro acredita-se quase que unanimemente que tenha sido no Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX, a partir dos chamados grupos de “pau e corda”, constituídos por violão, cavaquinho e flauta. Desse gênero descaram-se nomes como Joaquim Antônio da Silva Callado. A partir do século XX o choro passou a dialogar com o jazz, como resultado dessa mistura surgiram as primeiras jazz bands brasileira a exemplo do Oito Batutas”, grupo que surgiu em 1919,somou ao choro o saxofone e tinha Pixinguinha entre seus integrantes. Unindo mazurcas, lundus, maxixes, choro e outros ritmos à influência da música europeia, o grupo destacou-se por ser o primeiro grupo de música popular brasileira a alcançar projeção internacional. A partir deles os grupos de música instrumental começara a ganhar força a partir de nomes como Severino Araújo  e a sua Orquestra Tabajara entre outros ainda na primeira metade do século XX. Com o advento da Bossa Nova, a música instrumental sob influência do jazz reformulou o modo de se tocar samba e deu origem a grupos mais compactos com 3, 4 e 5 integrantes. Nessa miscelânea sonora, surgem na vanguarda A Cor do Som, que formada por músicos experientes no cenário nacional apreende em sua sonoridade distintos gêneros e permite que a soma de influências resulte em uma música coesa e original. Experimentando novos padrões de som, valeu-se das vivências anteriores com nomes como Moraes Moreira e os Novos Baianos.






A banda que surgiu em meados de 1977 para ser a princípio um grupo instrumental, A Cor do Som tinha a princípio como integrantes Dadi Carvalho (ex-Novos baianos e Jorge Ben) no baixo, seu irmão Mú Carvalho (ex-A Banda do Zé Pretinho) nos teclados, Gustavo Schroeter (ex-A Bolha) na bateria e Armandinho Macêdo (Trio Elétrico Armandinho, Dodô & Osmar) na guitarra, bandolim, e guitarra baiana. O percussionista Ary Dias passa a fazer parte do grupo em seguida. Dentre os feitos musicais, vale o destaque de que A Cor do Som tornou-se o primeiro grupo musical brasileiro a participar do Montreux Jazz Festival, na Suíça. Dessa apresentação veio o segundo disco "Ao Vivo em Montreux", a partir de uma apresentação com o material quase todo inédito e instrumental. Com discos essencialmente instrumentais, o grupo só viria a executar músicas cantadas a pedido da gravadora a partir do "Frutificar", trabalho que corroborou significadamente para a projeção popular do grupo. "A Cor do Som - 40 anos" faz um passeio sonoro pela trajetória do grupo com o olho no futuro. São 12 faixas (incluindo alguns dos grandes sucessos), além de  cinco inéditas. Com um repertório totalmente autoral o disco apresenta parcerias dos integrantes com nomes como Arnaldo AntunesMarisa MonteFausto Nilo e Maria Vasco e sucessos que marcam até hoje a trajetória do grupo com a participação especial de grandes nomes da MPB a exemplo de de Gilberto Gil (voz e violão em “Abri a porta”), Roupa Nova (em “Alto astral”), Samuel Rosa (voz em “Zanzibar”), Lulu Santos (voz em “Swingue menina”), Djavan (voz em “Alvo certo”), Moska (violão e voz em “Magia tropical”), Flávio Venturini (órgão e voz em “Eternos meninos”) e Natiruts (em “Semente do amor”).

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Produzido por Ricardo Feghali (aquele mesmo, integrante do grupo Roupa Nova), os arranjos ficaram a cargo dos integrantes da banda e do próprio Feghali em gravações realizadas nos estúdios Oasis Music e Boogle Woogle Music. No processo de materização a participação de nomes como Enrico de Paoli e Daniel Carvalho, e na tessitura sonora do álbum, além dos reverenciados nomes que formam a banda, músicos como André Neiva (baixo), Thiago Feghali (bateria), Waldonis (acordeon), Jessé Sadoc (flugel), Pedro Mamede (bateria), Luis Mauricio (baixo), Kiko Peres (guitarra), Ana Zingoni (vocal) e um quarteto de cordas formado por Felipe Prazeres (1º violino), Priscila Rato (2º violino), Marcus Ribeiro (cello) e Ivan Zandonade (viola) para abrilhantar ainda mais a festa neste projeto presente nas principais plataformas de streaming de música (além do álbum físico e uma tiragem também em LP a ser lançada em breve).


Seja em Zanzibar (arquipélago da Tanzânia), na indiana cidade de Calcutá às margens do rio Hooghly, em um município cearense litorâneo a cerca de 87 quilômetros da capital Fortaleza ou em qualquer lugar aleatório de uma representação cartográfica a linguagem do som é uma só. Universal, a música representa, de certo modo, um instrumento de comunicação que mostra-se capaz de ser feito de diversas maneiras, seja instrumental ou vocal, com um ou vários instrumentos. Sendo assim, dentro dessa seara, DadiArmandinhoMuAry Dias e Gustavo Schroeter mostram-se poliglotas sonoros e fazem da comunicação do grupo algo abrangente e capaz de agradar as mais distintas tribos. A relação com a música destes artistas, vai para além da aptidão já testada e comprovada ao longo destas últimas quatro décadas seja em disco ou em show. Conhecedores dos mais distintos meandros sonoros existentes e detentores de uma alta devoção à deusa-música, o quinteto fez dessa ponte Rio-Bahia caminho para qualquer pairagem onde existam ouvidos atentos. Aliás, não é só o sentido da audição que o talento desses exímios músicos é capaz de despertar. Como o próprio nome do quinteto já diz, eles são capazes de colorir o abstrato, aquilo que aparentemente não se vê, apenas se percebe. Com o pincel do talento e uma acepção arguta, ao longo desses 40 anos de estrada, o grupo que surgiu como uma espécie de séquito dos músicos que acompanhavam Moraes Moreira soube firmar-se com uma identidade própria, onde a magia e a habilidade que cada um cedeu ao projeto acabou resultando nessa força e referência que hoje é. Icônica, a banda que tem por marca ser a consociação de alguns dos melhores instrumentistas brasileiros firmou-se, e hoje, com a retomada do grupo, em um projeto animoso, se apropria da letra da canção "O Show Não Tem Final", canção gravada pelo grupo no álbum "Mudança De Estação", de 1981: "Enquanto houver corações hão de nascer por aí novas canções"...


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