Por Aïcha de Figueiredo
Esta pesquisa, realizada na PUC do Rio de Janeiro, investiga a relação entre a música e a cultura visual nos séculos 20 e 21. A autora recupera discos antigos e mostra como as capas agregam sentido a cada obra e são importantes na maneira como se produz música até hoje, mesmo após o declínio da venda dos cds. Entre as conclusões, a pesquisadora destaca que o aspecto visual é um dos elementos que compõem as práticas do artista para além da música, e que as capas também ajudam a mostrar questões visuais de cada época.
A que pergunta a pesquisa responde?
A pesquisa defende a ideia de que as capas de disco contribuem para a construção de um sentido musical, enriquecendo o processo estético do fruidor. Os anos 1950 foram essenciais para firmar a capa como elemento primordial para o disco. Foi quando artistas plásticos e fotógrafos penetraram no mercado das gravadoras, vendendo seus talentos e experimentando concepções visuais inovadoras. Assim, a tese procura mostrar que as capas foram locus privilegiado e fértil para diversos fotógrafos e artistas plásticos consagrados se expressarem em escala industrial. Entender a capa para além da simples ilustração é compreendê-la não só como invólucro ou objeto de design, mas principalmente como objeto artístico, tão importante quanto o conteúdo do disco. Estão em foco neste trabalho dois aspectos que se complementam: a capa como campo de experimentação plástica e a capa como suporte para o retrato do sujeito, no sentido restrito de portrait, que se vincula ao gênero pictórico secular. Um exemplo que conjuga estes aspectos é "FA-TAL", disco de Gal Costa de 1971.
Por que isso é relevante?
É relevante pois apesar do ressurgimento material do vinil, ainda há pouca produção de pensamento crítico sobre as capas fora do campo do design. Houve uma tomada de consciência da importância dos discos e das capas como icônicas. Contudo, geralmente eles são inseridos na história da música menos por sua visualidade que por sua sonoridade, ainda que haja reconhecimento estético. Uma vez que se entende o álbum como a junção disco e invólucro, contendo texto e imagem, fica evidente que, a partir dos anos 1950, abriram-se caminhos para pensá-lo como uma possibilidade de forma artística total da contemporaneidade. O disco, ao mesmo tempo que está inscrito na duração de sua audição, é materializado no espaço pela sua capa. O álbum envolve, portanto, diferentes linguagens, distintos sistemas de códigos: é, em suma, mais que um simples suporte. Embora o disco em sua forma física não tenha mais a presença que tinha, a noção de álbum e a importância de seu aspecto visual ainda estão presentes na maneira como se concebe e produz música hoje. Por isso, é importante voltar às capas do passado, para tentar entender o seu lugar em nossa cultura visual e musical.
Resumo da pesquisa
"Capas de disco: modos de ler" busca chaves de leitura para compreender a relação entre a música e a cultura visual no século 20 e 21. Ao deslocar o objeto de uma discoteca, seu espaço tradicional de fruição musical, e trazê-lo para o campo dos estudos culturais, uma infinidade de leituras se apresenta. As capas são uma forma de arte muito particular, analisá-las é fundamental para entender as diversas formas em que seus mecanismos operam. A música é, por sua vez, um instrumento importantíssimo para entender a cultura visual de forma mais ampla. Este trabalho se vale de ferramentas do campo da história da arte e de outros dispositivos analíticos interdisciplinares para explorar as imagens e sua potência. O argumento central da tese defende a ideia de que as capas contribuem para a construção de um sentido musical, enriquecendo o processo estético do fruidor. Foi a partir dos anos 1950 que artistas plásticos e fotógrafos penetraram no mercado das gravadoras, experimentando concepções visuais inovadoras em capas. Procura-se mostrar que as capas foram locus privilegiado e fértil de expressão para fotógrafos e artistas plásticos consagrados trabalharem em escala industrial.
Quais foram as conclusões?
Não obstante o declínio do CD, a indústria do vinil voltou a crescer com força. O retorno – talvez nostálgico – do vinil ainda traz artistas preocupados com a concepção total de sua obra. Para eles, a capa de disco é tão importante quanto o próprio disco – ou, melhor dizendo, não é possível, em muitos casos, separar um do outro. É um elemento que trabalha em harmonia com diversos outros elementos que compõem as práticas do artista para além da música. É um espírito do tempo similar que move os audiovisuais de Andy Warhol como o “Exploding Plastic Inevitable”, com o Velvet Underground, ou as Cosmococas, de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, nas quais projeções de slide se conjugam com a música de Jimi Hendrix e Luiz Gonzaga. A tese revela que a capa é um campo que não só reflete a visualidade de cada época, como também provoca, por meio de seus projetos gráficos, leituras culturais de um dado momento na carreira do artista. Adaptando a afirmação do pintor Paul Klee, a arte de uma capa não reproduz o visível, ela torna visível. Isto é, ela coloca em evidência a influência da visualidade poética, que, de outra maneira, não estaria ressaltada.
Quem deveria conhecer seus resultados?
Pesquisadores e público leigo interessados em música popular, artes plásticas e fotografia. Aïcha de Figueiredo Barat tem graduação e mestrado em história da arte contemporânea pela Paris I - Panthéon Sorbonne. É doutora em literatura, cultura e contemporaneidade pela PUC-Rio.
Referências:
KLEE, Paul. Teoría del arte moderno. Buenos Aires: Ediciones Caldén, 1979.
GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.
COSTA, Gal. FA-TAL – Gal a todo vapor. Rio de Janeiro: Phillips, p1971. 1 disco sonoro.
A que pergunta a pesquisa responde?
A pesquisa defende a ideia de que as capas de disco contribuem para a construção de um sentido musical, enriquecendo o processo estético do fruidor. Os anos 1950 foram essenciais para firmar a capa como elemento primordial para o disco. Foi quando artistas plásticos e fotógrafos penetraram no mercado das gravadoras, vendendo seus talentos e experimentando concepções visuais inovadoras. Assim, a tese procura mostrar que as capas foram locus privilegiado e fértil para diversos fotógrafos e artistas plásticos consagrados se expressarem em escala industrial. Entender a capa para além da simples ilustração é compreendê-la não só como invólucro ou objeto de design, mas principalmente como objeto artístico, tão importante quanto o conteúdo do disco. Estão em foco neste trabalho dois aspectos que se complementam: a capa como campo de experimentação plástica e a capa como suporte para o retrato do sujeito, no sentido restrito de portrait, que se vincula ao gênero pictórico secular. Um exemplo que conjuga estes aspectos é "FA-TAL", disco de Gal Costa de 1971.
Por que isso é relevante?
É relevante pois apesar do ressurgimento material do vinil, ainda há pouca produção de pensamento crítico sobre as capas fora do campo do design. Houve uma tomada de consciência da importância dos discos e das capas como icônicas. Contudo, geralmente eles são inseridos na história da música menos por sua visualidade que por sua sonoridade, ainda que haja reconhecimento estético. Uma vez que se entende o álbum como a junção disco e invólucro, contendo texto e imagem, fica evidente que, a partir dos anos 1950, abriram-se caminhos para pensá-lo como uma possibilidade de forma artística total da contemporaneidade. O disco, ao mesmo tempo que está inscrito na duração de sua audição, é materializado no espaço pela sua capa. O álbum envolve, portanto, diferentes linguagens, distintos sistemas de códigos: é, em suma, mais que um simples suporte. Embora o disco em sua forma física não tenha mais a presença que tinha, a noção de álbum e a importância de seu aspecto visual ainda estão presentes na maneira como se concebe e produz música hoje. Por isso, é importante voltar às capas do passado, para tentar entender o seu lugar em nossa cultura visual e musical.
Resumo da pesquisa
"Capas de disco: modos de ler" busca chaves de leitura para compreender a relação entre a música e a cultura visual no século 20 e 21. Ao deslocar o objeto de uma discoteca, seu espaço tradicional de fruição musical, e trazê-lo para o campo dos estudos culturais, uma infinidade de leituras se apresenta. As capas são uma forma de arte muito particular, analisá-las é fundamental para entender as diversas formas em que seus mecanismos operam. A música é, por sua vez, um instrumento importantíssimo para entender a cultura visual de forma mais ampla. Este trabalho se vale de ferramentas do campo da história da arte e de outros dispositivos analíticos interdisciplinares para explorar as imagens e sua potência. O argumento central da tese defende a ideia de que as capas contribuem para a construção de um sentido musical, enriquecendo o processo estético do fruidor. Foi a partir dos anos 1950 que artistas plásticos e fotógrafos penetraram no mercado das gravadoras, experimentando concepções visuais inovadoras em capas. Procura-se mostrar que as capas foram locus privilegiado e fértil de expressão para fotógrafos e artistas plásticos consagrados trabalharem em escala industrial.
Quais foram as conclusões?
Não obstante o declínio do CD, a indústria do vinil voltou a crescer com força. O retorno – talvez nostálgico – do vinil ainda traz artistas preocupados com a concepção total de sua obra. Para eles, a capa de disco é tão importante quanto o próprio disco – ou, melhor dizendo, não é possível, em muitos casos, separar um do outro. É um elemento que trabalha em harmonia com diversos outros elementos que compõem as práticas do artista para além da música. É um espírito do tempo similar que move os audiovisuais de Andy Warhol como o “Exploding Plastic Inevitable”, com o Velvet Underground, ou as Cosmococas, de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, nas quais projeções de slide se conjugam com a música de Jimi Hendrix e Luiz Gonzaga. A tese revela que a capa é um campo que não só reflete a visualidade de cada época, como também provoca, por meio de seus projetos gráficos, leituras culturais de um dado momento na carreira do artista. Adaptando a afirmação do pintor Paul Klee, a arte de uma capa não reproduz o visível, ela torna visível. Isto é, ela coloca em evidência a influência da visualidade poética, que, de outra maneira, não estaria ressaltada.
Quem deveria conhecer seus resultados?
Pesquisadores e público leigo interessados em música popular, artes plásticas e fotografia. Aïcha de Figueiredo Barat tem graduação e mestrado em história da arte contemporânea pela Paris I - Panthéon Sorbonne. É doutora em literatura, cultura e contemporaneidade pela PUC-Rio.
Referências:
KLEE, Paul. Teoría del arte moderno. Buenos Aires: Ediciones Caldén, 1979.
GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.
COSTA, Gal. FA-TAL – Gal a todo vapor. Rio de Janeiro: Phillips, p1971. 1 disco sonoro.
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