segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A MÚSICA POPULAR NA REPÚBLICA - O FENÔMENO JÂNIO QUADROS

Por André Diniz


O rock balança a juventude rebelde


A classe média brasileira do período Juscelino Kubitschek, guardadas as devidas proporções, vivia sonhos e desejos similares aos da classe média nos Estados Unidos. Os americanos propagandeavam o american way of life, o “jeito americano de viver”. Depois de todas as privações da economia de Guerra, eles estimulavam o consumismo desenfreado dentro e fora de casa, produzindo uma série de bens e ampliando o crédito para a classe média. O resultado não poderia ser diferente: superficialidade das relações sociais, conservadorismo, interesses apenas voltados para bens materiais. 

Esse vazio existencial terminou por gerar em alguns jovens uma visão crítica e rebelde do consumismo, e aos poucos operou-se uma mudança nos costumes e valores da época. A transformação foi impulsionada, num primeiro momento, pelas camadas mais pobres, alijadas do consumo desenfreado. Entre as artes, a música foi a que simbolizou com mais força os desejos dessa geração à procura de identidade. E o rock’n’roll seria a marca dessa galera.

No Brasil, a influência do novo ritmo foi frenético sobre a juventude. O rock estava ligado às classes médias, àqueles que tinham acesso aos meios de comunicação de massa e grana para comprar discos, revistas, livros, frequentar shows e adquirir guitarras elétricas. Quem lançaria definitivamente o gênero em nosso país seria uma cantora tímida, que faria bastante sucesso como “roqueira”, mas que largaria cedo a vida de artista para cuidar da família: Celly Campello. 

A música com a qual a cantora paulista arrebataria multidões – e que acabaria tema de novela de mesmo nome, no final dos anos de 1970 – era a versão de Fred Jorge para “Stupid Cupid”, de Neil Sedaka e Howard Greenfield, gravada em 1959 como “Estúpido cupido”: 

Ó, ó! Cupido, vê se deixa em paz 
Meu coração que já não pode amar. 
...
Hei, Hei, é o fim.
Ó, ó, Cupido, pra longe de mim. 

É bom dizer que o rock brasileiro desse período vivia principalmente de versões. O cantor Sérgio Murilo foi eleito o Rei do Rock pelo registro de versões para músicas americanas. “Broto legal”, versão de Renato Corte Real, foi um de seus sucessos: 

Ô, ô, que broto legal! 
Garota fenomenal! 
Fez um sucesso total 
E abafou no festival! 

No começo dos anos 60, o Brasil dançava ao som do rock, da bossa nova, da música nordestina, e entrava de novo em campanha eleitoral para presidente. A instabilidade econômica dava o tom das candidaturas. O professor Jânio Quadros concorria por um pequeno partido, mas tinha apoio da UDN. Já o marechal Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra de JK, tinha apoio do PTB e do Partido Social Democrático (PSD). 

Jânio Quadros teve uma carreira meteórica. Passou pela vereança, foi deputado, prefeito e governador de São Paulo. Falava um português perfeito e tinha a simplicidade do homem do povo. Fez campanha falando em moralidade, em prender os políticos corruptos, em colocar para trabalhar os funcionários públicos (chavões sempre usados por parte de segmentos da direita para encobrir o vazio de propostas políticas). Queria passar a imagem de moderno e eficaz. Vendia-se como alguém diferente do métier da vida pública. A letra de seu jingle destacava o símbolo da campanha: uma vassoura para limpar a sujeira da administração federal e da política em geral. A música agradou em cheio o eleitor: 

Varre, varre, varre, varre, 
Varre, varre vassourinha, 
Varre, varre a bandalheira,
Que o povo já está cansado 
De sofrer dessa maneira. 
Jânio Quadros é esperança 
Desse povo abandonado. 

Jânio caiu no gosto do povo pelo seu jeito e sua origem humilde. Caiu no gosto da classe média pelo discurso moralista. E caiu no gosto da elite porque era conservador e anticomunista. Mais de 11 milhões de eleitores compareceram ao pleito conferindo-lhe uma vitória folgada, com 48% dos votos. O marechal Lott ficou com 32%, Ademar de Barros 20% e João Goulart foi eleito vice-presidente.

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