CASAMENTO MATUTO
Era semana pré-carnavalesca e o Anjo da Guarda de Bastião, mermo de ressaca, nesse dia tava de prontidão e foi ele quem segurou a mão de seu Benedito de Dora, que já tava se coçando em procura da lambe-suvaco amolada, num sei quantas polegadas. O ‘bigodim de beiço de gato mijado’ do caba fazedor da mal à fia dele chega arrupiou-se todim. E Francisquim, ali quieto e embuchado já há cinco meses, só assistindo, de camarote, à solenidade. O cabra do Cartório já tava meio invocado com o lero-lero do vigário, falando da riqueza e da pobreza, da doença e da saúde, aquele papo que rola em todo casório. Quando Padre Luiz, afinal, perguntou se tinha alguém contra aquele casamento, Francisquim arretou-se, levantou o dedo, de dentro do bucho cutucou o umbigo da mãe menininha do Crato e gritou em alto e bom som pra todo o sertão do Araripe escutar: ‘tem não, seu Pade, se avexe e acabe logo esse babado que eu tô querendo descansar um pouquim’. Descansou por mais quatro meses, sonolento e preguiçoso desembuchou, e hoje tá aí, contando história, fazendo poesia bonita que só a gota e aumentando a prole. Benedito Neto que o diga. E inté hoje são felizes que só a gota serena!
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