segunda-feira, 8 de abril de 2019

ATAULFO ALVES, 50 ANOS DE SAUDADE

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Ataulfo Alves nasceu em 2 de maio de 1909, em Mirai/MG. Filho de Matilde Rita de Jesus e do lavrador, violonista, sanfoneiro e repentista Severino de Souza, conhecido por Capitão.

Um dos sete filhos do casal (Ataulpho, Alaor, Paulinho, Tita, Maria Mercedes, Maria Antonieta e Norina) iniciou seus estudos no Grupo Escolar Dr. Justino Pereira. Aos dez anos tornou-se órfão de pai, precisando trabalhar para auxiliar o sustento de sua família.

Teve várias ocupações: foi leiteiro, condutor de bois, menino de recados, carregador de malas na estação, marceneiro, engraxate e lavrador.

Mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro em 1926, em companhia de um médico de Mirai, para trabalhar em seu consultório, entregando recados e receitas durante o dia, e fazia alguns serviços domésticos na casa do médico durante a noite. Sem perspectivas nesse trabalho, empregou-se em uma farmácia onde lavava frascos. Em pouco tempo passou a ser o manipulador de drogas da farmácia.

Como prático da farmácia passou a residir no bairro de Rio Comprido, onde tocava violão nas rodas de samba da região, fazendo parte do bloco “Fale quem quiser” como diretor de harmonia. Em 1928, com apenas 19 anos, casou-se com Judite. O casamento durou até a morte do compositor. Tiveram 5 filhos: Adélia, Matilde, Adeílton, Adelino (que morreu muito cedo, ainda criança) e Ataulfo Júnior.

O compositor Alcebíades Maia Barcelos, o Bide, que já fazia sucesso com "Agora é Cinza", ouviu algumas de suas composições e resolveu apresentá-lo ao Mr. Evans, diretor da gravadora RCA Victor, em 1933. Foi então que Almirante gravou o samba “Sexta-feira”, sua primeira composição a ser lançada em disco. Entre 1933 e 1941, Ataulfo não cantava suas músicas, mas vários intérpretes gravaram seus sambas: Carmem Miranda (Tempo perdido), Silvio Caldas (Saudade dela), Carlos Galhardo (Quanta tristeza) e Orlando Silva (Errei, erramos). Nesse período teve como parceiros Bide, Claudionor Cruz, João Bastos Filho e Wilson Batista, com quem venceu os Carnavais de 1940 e 1941, com “Oh!, seu Oscar” e “O Bonde de São Januário”. Nesse último ano, Ataulfo também gravou os sambas “Leva meu samba” e “Alegria na casa de pobre” (com Abel Neto).

Já conhecido, passaria a gravar suas músicas sempre acompanhado de algum grupo musical. Em 1942, com a Academia do Samba gravaria “Ai, que saudade da Amélia”, em parceria com Mário Lago. Essa parceria ainda resultaria em “Atire a primeira pedra” (1944) e “Pra que felicidade” (1945). Com um grupo vocal feminino chamado “As pastoras”, Ataulfo emplacou grandes sucessos como “Laranja madura”, “Mulata assanhada” e “Na cadência do samba”. Outros intérpretes continuaram a cantar suas composições como, por exemplo, Dalva de Oliveira, com as músicas “Errei sim” e “Fim de comédia”, nos anos 1950. Suas músicas possuíam ritmos mais lentos, pois misturavam as toadas da roça, com uma dose de melancolia e tristeza à cadência do samba.

No final da década de 1940, entrou para UBC (União Brasileira de Compositores), sociedade de direitos autorais, onde se tornou grande ativista, chegando a ser conselheiro da associação e diretor da ADDAF (Associação em defesa dos direitos autorais). Em 1961, participou da excursão de divulgação da música popular brasileira pela Europa, uma das sete caravanas da UBC organizadas por Humberto Teixeira. Na volta fundou o ATA - Ataulfo Alves Edições, tornando-se editor de suas músicas.

Debilitado por uma úlcera que o incomodava havia duas décadas, viajou em 1966 para Dacar, Senegal, representando o Brasil no I festival de Arte Negra. Ainda comporia “Você passa e eu acho graça” em 1968, gravado por Clara Nunes. Refinado, gentil e muito elegante, chegou inclusive a ser eleito “um dos mais 10 elegantes”. Ganhou vários apelidos: “general do samba”, “diplomata do samba”, “embaixador do samba brasileiro” ou “o mais elegante sambista”. Em sua carreira bem sucedida acumulou troféus e medalhas, seu lenço branco tornou-se a sua marca registrada. Teve dois quadros pintados por Pancetti, inspirados em seus sambas “Pois é” e “Lagoa serena”.

Ataulfo morreu após uma intervenção cirúrgica em decorrência da úlcera no duodeno, no Rio de Janeiro em 20 de abril de 1969.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CABRAL, Sérgio. Ataulfo Alves: vida e obra. Rio de Janeiro: Lazuli, 2009
DINIZ, André. Almanaque do Samba. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2006
PIMENTEL, Luis. Com esses eu vou: de A a Z, Crônicas e Perfis da MPB. Rio de Janeiro: ZIT, 2008

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