sábado, 1 de setembro de 2018

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior





OS CLÁSSICOS E ERUDITOS DE NOSSA REGIÃO – VITOR ARAÚJO

Vitor Araujo: prodígio e virtuose – erudito e popular, além de extravagante; alvirrubro militante!



Soube da existência de Vítor Araújo de forma prosaica. Não sabia que havia surgido um novo virtuose no Recife.

Não foi coisa de indicação ou chamamento para conhecer uma grande e alvissareira novidade musical.

O que me chamou a atenção foi que um garoto de 17 anos, este virtuoso, torcia por meu velho e conhecido Náutico, de esquadrões históricos no anos 1960, embora mais recentemente não conquistasse nada de grande relevância, a não ser alguns dos sempre honrosos títulos estaduais (aliás, domingo, na Arena, o time deixou de conquistar o acesso à série B – com público de 27 mil fanáuticos!).

Vitor me abriu os olhos para romper um pouco essa coisa de que jovem só se associa aos vencedores de momento. Com tradição, clube de 1901, paixão e uma pitada de imponderável, é possível angariar torcedores onde existe hegemonia financeira e política em prol de uma só agremiação.

Nosso grande pianista era mais que um expoente torcedor, era um militante, como vemos nessas imagens, em que doa a camisa timbu para seu ídolo, Chico Buarque:



Vitor chegava mesmo a incluir em seus concertos a execução do frevo “Como Dorme”, do magistral Nelson Ferreira, o hino informal do Clube Náutico Capibaribe.


Canto n.3 – primeiro single do disco “Levaguiã Terê”



O pianista e compositor Vitor Araújo surgiu como o menino-prodígio que tocava Radiohead pisando no piano.

Começou a tocar aos 9 anos de idade e lançou seu primeiro álbum aos 18, resultado de um gosto musical eclético, que transita entre a música contemporânea, o popular e o erudito.

Já gravou ou dividiu o palco com diversos nomes – Otto, Junio Barreto, Mombojó, Seu Chico e Rivotrill – fazendo apresentações em várias cidades do Brasil.

Em 2008, recebeu o Prêmio de Revelação, da Associação Paulista de Críticos de Arte.


Samba e Amor, de Chico Buarque


Uma nota – nas redes sociais – do músico Felipe Ventura (Baleia, Xóõ) convocando o público carioca para o show de lançamento de “Levaguiã Terê”, terceiro disco de Vitor Araújo, no Solar de Botafogo, chamava atenção pela maneira como o amigo categorizava o pianista e compositor pernambucano: “ex-menino prodígio, atual jovem adulto prodígio”.

Como foi dito aqui, Vitor despontou muito cedo como músico virtuoso. Aos 17 anos, ele já lançava seu primeiro disco, o DVD “Toc – Ao vivo no Teatro de Santa Isabel” (2005, Deck).

Ali aparecia basicamente como intérprete de releituras de Luiz Gonzaga (“Asa branca”), de Villa-Lobos (“Dança do índio branco”) e até de Radiohead (“Paranoid android”).

O reconhecimento de seu talento fez o músico rodar o Brasil, seja com apresentações solo ou com a banda “Seu Chico”, que fazia versões de Chico Buarque. Apesar do retorno – financeiro, inclusive – o sucesso instantâneo cobrou seu preço.


Miudinho – Bachianas nº4 / Trenzinho Caipira (Villa-Lobos) | Instrumental SESC Brasil



Passaram quatro anos entre o seu primeiro disco e o “A/B” (2012, independente), quando viveu momento de muita agonia: tinha estagnado em seus estudos e não desenvolvera ainda uma linguagem própria, como reafirmou o músico. Era o reconhecido por algo com o qual não se identificava mais.

Só depois de lançar o “A/B” e participar de trabalhos de outros amigos, peças, filme é que se acalmou.

Capas dos dois primeiros discos:

Quatro anos depois, Vitor, agora com 28 anos, reapareceu com “Levaguiã Terê” (Natura Musical), disco que o consolida como o compositor que todos esperavam – é o primeiro trabalho em que ele escreveu para orquestra.

Inicialmente idealizado como um estudo do candomblé, o álbum foi se moldando durante seu longo e trabalhoso processo de composição e orquestração até se tornar o que o próprio músico define como uma ideia de sincretismo entre o indígena, o africano e o europeu.

Produzido pelo carioca Bruno Giorgi (“esse, sim, um prodígio”, define Vitor), o disco surge como um dos grandes destaques dos lançamentos do ano na nova música brasileira.

Para o concerto no Rio, Vitor revezou entre piano, synths e as vozes que ecoam por algumas faixas do trabalho.



Na complexa missão de adaptar o disco para apresentações ao vivo, o acompanharam Felipe S, vocalista e compositor da banda Mombojó (guitarra, baixo e MPC), o supracitado Felipe Ventura (guitarra), Hugo Medeiros (bateria), Rafa Almeida e Amendoim, ambos na percussão.

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