Por Laura Macedo
Ruy Castro
Se estivesse vivo - e, nesse caso, estaria com 85 anos-, Tom Jobim teria sido recebido com clarins nos salões do Riocentro, na abertura da conferência Rio+20. Não por ser o autor de "Corcovado", "Chovendo na Roseira", "Águas de Março", "Borzeguim", "O Boto" e muitos outros sambas que celebram a conservação da natureza. Ou não apenas por isso. Mas por ser um porta-voz da ecologia, desde a época em que, no Brasil, essa palavra tinha de ser procurada no dicionário.
Na maioria das entrevistas que concedeu, Tom sempre denunciou a destruição da mata e da fauna, a contaminação dos rios, lagoas e baías, o envenenamento do ar e a descaracterização das cidades pelo automóvel e pela política de terra arrasada da especulação imobiliária. Era quase uma ideia fixa, mais até do que a música - sobre a qual, aliás, pouco falava para jornalistas.
De repente, entre duas frases, Tom desfiava os nomes das diversas espécies de urubu. Ou se queixava:
"Outro dia fui ao mato piar um inhambu, e o que saiu de trás da moita foi um Volkswagen". Ou, como num passeio que fiz com ele pelo Central Park, em Nova York, em 1989 - parecia saber identificar pelo nome cada passarinho americano. Mas a paixão pelo Brasil é que era sua seiva criativa: "Toda a minha obra é inspirada na mata atlântica".
Conto isso para contrastar com a brutalidade com que Tom era visto nas redações em que trabalhei, no Rio e em SP, durante os anos 70 e boa parte dos 80. Era visto como um chato. "Ih, lá vem de novo o Tom Jobim com aquela mania de ecologia." Ou, diante de minhas repetidas sugestões de uma entrevista com ele, para uma revista que se orgulhava de suas entrevistas: "Não! Tom Jobim é a coisa mais rançosa que existe!".
Ainda não percebíamos que ele estava dando em prosa o mesmo recado que dava nas canções.
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