sexta-feira, 14 de agosto de 2020

WILSON SIMONAL EM UM DISCO EM QUE CONFIRMA SUA VERSATILIDADE

Ironicamente, o disco tem uma faixa premonitória do destino de Simonal

Por José Teles



O chato destas descobertas da MPB dos anos 60 e 70, é que o pessoal se fixa num disco só. Vejam Os Novos Baianos, tem-se a impressão de que só gravaram Acabou Chorare (particularmente, gosto muito do primeiro, Ferro na Boneca, tinha nada no Brasil na época). É assim com Belchior, de Alucinação, que não aguento mais, ou Gonzaguinha, da sua época mais chata, dos samboleros politicamente corretos. O melhor dele são os primeiros LPs, sobretudo o primeiro, que foi proibido pela censura do regime militar. Gonzaguinha foi um dos mais visados pelos censores.

Para escutar em época de confinamento, Show em Si... monal, de 1967, gravado ao vivo no Teatro Record, registro da celebração do primeiro ano do programa homônimo, exibido pela TV Record, a Globo da época. Wilson Simonal estava no auge da carreira. O show é um espetáculo todo marcado, com roteiro, começo, meio e fim. Ele mostra que não deve nada a nomes da Broadway, feito o americano Sammy Davis Jr.

Vai de citações de comerciais de rádio e TV, a tiração de onda em cima das canções “subversivas de Geraldo Vandré (“ O terreiro lá de casa/não se varre com vassoura/varre com ponta de sabe/bala de metralhadora”), João do Vale e outros autores engajados. “Você que está me ouvindo, você que está sorrindo, você precisa confiar cada vez mais nesta, confiar nos seus autores, compositores e confiar na música brasileira. E mesmo se você não tiver um dia ninguém que em possa confiar. Você pode confiar na Shell”. Brinca com um jingle badalado. A Shell, pouco tempo, depois usaria os Mutantes no comercial de TV cantando o jungle (que eles incluíram num disco do grupo).

Ele vai se alternando entre o bom humor, e esbanjando talento cantando Dorival Caymmi, Erasmo Carlos, Roberto Carlos, e seus grandes sucessos, do efêmero movimento da Pilantragem. Mas com um timing perfeito. 

Show em Si...monal é de 1967, soa às vezes datado, mas mostra a versatilidade de Simonal. Ele imita todo mundo. Até canta uma paródia, como moda caipira, de Something Stupid, estourada no mundo inteiro com Frank e Nancy Sinatra, rebatizado de Rocinha Estúpida. Em seguida imita Hebe Camargo, Não existia no país, talvez nunca mais existiu, um showman igual. Muito menos cantando como ele cantava.

Simona era como se definia Coalhada, jogador de futebol, personagem de Chico Anísio: Jogo em todas as posições, chuto com as duas,e meto a bola onde quero”. Quer entender a fama de Wilson Simonal? Ouça este álbum. Em que se acompanha com o SomTrês – Cesar Camargo Mariano (piano, Sabá (contrabaixo), e Toninho (bateria). E mais os músicos convidados, Isidoro “Bolão” Longano Bolão (Sax tenor), Carlos Alberto (sax alto), Dorival ‘Buda” Auriani e Magno “Maguinho” de Alcântara (Trompetes).


PREMONIÇÃO

Agora a ironia do destino. No meio do show, para ler um Jornal da Tarde, edição do futuro que recebeu de um marciano, seu amigo. Ele começa a ler os títulos das matérias. Lê várias, todas engraçadas. Talvez tenha deixado de ler uma, porque não tinha nada de engraçado nela. O jornal imginário é de junho do ano 2000. Mesmo mês, e ano, em que ele morreria.

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