Por Henrique Cazes
Os caminhos que levam a um grande sucesso quase sempre são tortuosos. São muitas as chances de dar errado, contra apenas uma de dar certo. E para que o êxito seja alcançado é preciso convicção, sorte e talento. Nada disso faltou a Miguel Gustavo Werneck de Sousa Martins, um compositor de jingles famosos e sambas espetaculares.
Desde o começo da década de 1950, Miguel Gustavo se destacou na publicidade, a partir de um jingle das Casas Bahia que utilizava a melodia de "Jesus, alegria dos homens" de Bach. Depois vieram os sucessos com produtos variados como cerveja (quem gosta de cerveja bate o pé reclama: quero Brahma), comprimido para dor de cabeça (Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal), lâmpadas, leite em pó, etc.. Além de perfeitas como peças publicitárias, as criações de Miguel foram cantadas por craques como Elizeth Cardoso, que eternizou o Melhoral, Lúcio Alves que fez sucesso com o Leite Glória e Zezé Gonzaga, impecável com as lâmpadas GE.
Em paralelo, o compositor colheu sucessos com os sambas "E daí" lançado por Isaurinha Garcia, "Café soçaite" com Jorge Veiga e "Achados e perdidos" com Elizeth. Marchinhas de Gustavo também caíram no gosto popular como "Fanzoca do rádio", gravada pelo inesquecível palhaço Carequinha e "Brigitte Bardot", que mais tarde ganhou letra em francês e fez grande sucesso na França em ritmo de chá-chá-chá. Como se não bastasse, Miguel Gustavo criou para Moreira da Silva uma série de sambas de breque geniais com as aventuras do herói Kid Morengueira: "O rei do gatilho", "O último dos moicanos", "Moreira da Silva contra 007", "O conto do pintor", dentre outros.
Um ramo de seus sucessos publicitários foi a série de jingles para a Varig, que incluiu uma música natalina (estrela brasileira no céu azul) e anúncios voltados para as comunidades de imigrantes portugueses, italianos e japoneses residentes no Brasil. E foi para essa companhia aérea que Miguel criou no início de 1970 mais uma peça publicitária, com seu estilo inconfundível: melodia em tom menor, letra na medida exata. A empresa seria patrocinadora das transmissões televisivas da Copa do Mundo que se realizaria no México, entre maio e junho daquele ano. Para a surpresa do autor, a agência que cuidava da conta da Varig rejeitou o jingle. Confiante em ter feito algo muito especial, Miguel conseguiu mostrar sua marcha, "Pra frente Brasil", ao responsável pela área de comunicação da presidência da república. A partir daí tudo aconteceu. Foi produzida uma gravação marcante, com arranjo do maestro Guerra-Peixe para uma formação de banda e a letra foi cantada pelo competentíssimo "Coral do Joab". A partir da gravação, foi editado um clipe com imagens de campo e torcida, sem associar a chancela do governo federal. O clipe era veiculado antes do jogo, no intervalo e ao longo programação das TVs. O desempenho acachapante da seleção e o fato daquela ser a primeira Copa transmitida ao vivo pela televisão, potencializaram o sucesso.
Antes de morrer, aos 50 anos em 1972, Miguel Gustavo ainda emplacou mais três trabalhos para o governo, naquele momento de milagre econômico: "Plante que o governo garante", "Hino da Olimpíada do Exército" e "Hino do Sesquincentenário da Independência".
Há alguns anos venho pesquisando esse talento ímpar da MPB e penso daria um musical fabuloso, misturando todas as suas facetas. Acho mesmo que precisamos nos adiantar para que a direita debiloide não se aproprie de "Pra frente Brasil", como fez com a camisa da seleção. Dentre as coisas improváveis que já descobri na pesquisa, há um poema épico humorístico pornográfico intitulado "As caralhíadas". Imaginem só!
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