Em comemoração aos 80 anos do cantor e compositor o Musicaria Brasil relembra algumas de suas histórias 
HUMILDADE
Conheci Roberto Carlos no final dos anos 50 na TV Continental, no Rio. Ele cantava nos programas do Carlos Imperial e do Jair de Taumaturgo, entre outros.
Eu, nos programas de MPB dirigidos pelo Haroldo Costa e pelo Luiz Carlos Miele. 
Depois disso ele se tornou, merecidamente, o Rei da Juventude. 
De direito e de fato.
Nos anos 80, houve uma tragédia no nordeste provocada pela chuva e os artistas – Chico Buarque, Gilberto Gil e Fagner à frente - estavam planejando fazer um disco cuja renda reverteria para os nossos irmãos nordestinos. 
Uma noite, quando eu estava saindo do Teatro do Hotel Nacional em São Conrado, no Rio, o Nonato Buzzar me convidou a ir até a casa do Chico, onde haveria uma reunião sobre o tal disco.
A casa estava cheia, cada um apresentando uma sugestão. 
Eu fiquei ouvindo.
Num certo momento, ouvi uma voz: "E o Roberto, alguém falou com ele?" 
Nada. 
Lá pelas tantas, outra voz: "Tudo bem, mas sem o Roberto não tem disco".
Esperei mais algum tempo e como ninguém se manifestou, me ofereci pra fazer o contato com o Roberto. 
Marcamos no dia seguinte no Clube do Samba, na Barra. 
De lá, liguei pra casa do Roberto, atendeu a Miriam Rios, que estava casada com o Roberto, na época, pedi a ela que o chamasse, falei com ele qual era o assunto e ele, na mesma hora, se colocou à disposição.
Quando eu ia passar o telefone para o primeiro da fila que havia se formado atrás de mim, ele disse: "Silvio, obrigado por se lembrarem de mim". 
Passei o telefone e dei como encerrada a minha participação. 
Alguns dias depois, fui encontrar o Hermes - um amigo de São Paulo que tinha um estúdio na Barra, que eu queria alugar pra gravar um disco independente, quando, no corredor, encontrei o Chico Buarque. 
Perguntei se ele estava gravando ali e ele: "Ué, ninguém te avisou?" 
Então, percebi que a gravação do disco do nordeste estava acontecendo ali, naquele momento. 
O Chico me perguntou se eu queria aproveitar a oportunidade e participar. Concordei, na hora.
E assim, quando menos esperava, tive a sorte de participar de mais um momento de solidariedade da classe artística. 
Mas a lembrança mais forte que me ficou desse episódio foi a atitude de um homem, um artista maior, agradecendo pela lembrança do seu nome. 
Isto se chama humildade.
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