Projeto inovador Vikings, primeiro single do grupo, com surpreendente fusão de jazz e eletrônica
Por Mariana Peixoto
Anderson Noise, Henrique Portugal, Milton Nascimento e Lelo Zanetti (foto: Diego Ruahn/divulgação)
A grafia é nie myer, a pronúncia é niemeyer. Faça a leitura que quiser, leitor. O que importa é que o Nie Myer, grupo mineiro criado na Savassi, tirou da zona de conforto três nomes da música que desde os anos 1990 estão na ativa: o DJ e produtor Anderson Noise, o tecladista Henrique Portugal e o baixista Lelo Zanetti, os dois últimos integrantes do Skank.
Mais importante ainda: o trio de jazz, bossa e eletrônica, que surgiu no palco há dois anos, estreia agora no meio digital com a maior e mais importante das vozes. Será lançado nesta sexta-feira (26) o clipe de Vikings (música do Nie Myer, letra de César Maurício), primeiro single do grupo, gravado com Milton Nascimento.
Hoje completando 76 anos, Milton deixa de lado as gravações de caráter revisionista – como o recente EP A festa, com seis faixas – para abraçar uma sonoridade inédita em sua carreira.
“Nunca tive conhecimento muito próximo dessa fusão entre jazz e música eletrônica. Posso dizer que meu primeiro contato com essa expressão foi por meio do Nie Myer. E essa é a proposta que eles trouxeram: inovação. É muito difícil você pegar um gênero tão forte (e tradicional) como o jazz e misturar com uma sonoridade mais moderna como o eletrônico. Mais difícil ainda é fazer disso um som que seja completamente novo no cenário e que possa atrair diferentes gostos”, afirma Milton.
O que vem à tona agora foi trabalhado nos dois últimos anos. Noise se lembra exatamente da maneira como ficou quando esteve na casa de Milton, em Juiz de Fora, para a gravação da voz. “Foi em 16 de novembro de 2016. O Milton é um deus que escuto desde criança. Naquele primeiro contato, me deu uma tremedeira, pois ele cantou a música de uma vez só.”
Henrique Portugal comenta que a letra – “o César escreve poema” –, quase psicodélica, logo ganhou a assinatura de Milton. “Ele foi, parou, escutou uma, duas, três vezes e disse: ‘Vamos gravar’. Foi direto.” Sem as métricas da música pop, Vikings (que ainda contou com a guitarra de Wilson Lopes) tem quase nove minutos.
Dirigido por Diego Ruahn, o clipe foi gravado no ano passado durante a Casa Cor, no prédio da Rua Sapucaí, em BH, que foi sede da extinta Rede Ferroviária Federal. É elaborado e sofisticado, mas sem afetação. A parte de Milton foi registrada na própria residência do cantor, em Juiz de Fora. Wilson Lopes aparece em uma cena em frente à estante de vinis de Noise, no apartamento do DJ, na Savassi. Foi também ali, onde ele mantém seu estúdio, que todas as gravações do Nie Myer ocorreram.
SAVASSI
O projeto nasceu em 2016 com o nome de Niemeier. Morador da Savassi desde que voltou a viver em BH, em 2013, Noise fez do apartamento um ponto de encontro de amigos, músicos e DJs. Lelo Zanetti começou a dar umas passadas por ali para mostrar o que estava fazendo. Certo dia, Noise, que havia tocado como DJ em três edições do
Savassi Festival, encontrou-se com o organizador do evento, Bruno Golgher. E comentou que estava começando a fazer música com Lelo.
Golgher perguntou se eles poderiam fazer algo que tivesse a cara do Savassi Festival. Amigo de Portugal há muitos anos, Noise o convidou para o projeto. Niemeier, ainda com a antiga grafia, estreou no palco em julho de 2016, durante ao festival.
O trio já conta com 10 faixas gravadas. “Definitivamente, não é um projeto comercial”, explica Portugal. O lançamento será espelhado na prática dos DJs. “A gente estava preocupada com a coisa do álbum. Aí, chegamos à conclusão de que iríamos fazer como na música eletrônica. Soltamos um single a cada dois, três meses. É bem melhor, pois você tem sempre material legal na praça”, diz Noise.
TAYLOR
O próximo lançamento será a música ainda sem título gravada por Ben Taylor (autor da letra), filho de James Taylor. Há uma outra faixa, também pronta, em japonês. Os três integrantes do Nie Myer escreveram o texto traduzido e gravado por Emi, amiga japonesa de Noise. E há ainda a intenção de ter um registro em francês.
“São coisas bem diferentes, quase instalações artísticas. A música está precisando um pouco disso”, comenta Portugal. Como cada um tem sua própria agenda, os shows do Nie Myer, agora devidamente batizado (e balizado) por Milton Nascimento, deverão ocorrer a partir do ano que vem. Mas sem pressa, como dita a música do trio.
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