VERSOS DE PÉ QUEBRADO
Porto de Galinhas. Fim-de-semana na praia mais bonita do Brasil, quiçá do mundo, segundo a imprensa especializada. Tudo bem que na programação fazia parte uma reunião de condomínio mas isso era pinto pequeno diante do prazer do sol, do sal, do mar, do peixe recém-pescado e bem assado na barraca de Dona Branca. Por isso acordei de bom humor e dei bom dia ao travesseiro e ao lençol, logo ao levantar. À escova de dentes também cumprimentei como que agradecendo o seu escovar diário a proteger meus dentes. Saudei, alegre e risonho, o espelho que refletia um cabra de cabelos assanhados e ainda com remelas nos olhos. Com carinho, acariciei a toalha que me enxugaria dali a pouco. No café, antes de beber o suco de laranja, olhei para as laranjas irmãs daquelas que viraram suco e, como que a pedir-lhes perdão, passei-lhes as mãos carinhosamente. Até para o elevador que demorava a chegar dei bom dia quando de sua chegada. Estava feliz. Porto de Galinhas me esperava. Pegar estrada, cinqüenta quilômetros me separava do paraíso. Na escada que dá acesso à garagem, a água da chuva que já se fora, o escorrego, a queda e a fissura no pé. Passarei pelo menos 15 dias sem cumprimentar o travesseiro, o lençol, a escova, o espelho, a toalha, as laranjas e o elevador. Só voltarei a fazê-lo quando tirar a bota de gesso que envolve meu pé esquerdo me privando do peixinho frito por Dona Branca. Por enquanto fico fazendo versos. De pé quebrado.
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