Artista que iniciou a carreira de modo pra lá de despretensioso hoje
Por Bruno Negromonte
Com o advento das tecnologias houve mudanças significativas nas mais variadas etapas de produção e execução da música como é do conhecimento de muitos. A facilitação para a elaboração dos mais distintos projetos musicais acabou por oportunizar o registro dos mais diversos projetos, onde ao passar pelo clivo da qualidade, destacam-se (neste país de dimensões continentais) diversos nomes. A partir desta constatação é possível afirmar que a música brasileira nunca foi tão profícua como atualmente é. Mila Ribeiro, cantora e compositora, que também é responsável por este favorável contexto musical ao qual hoje nos encontramos como foi possível atestar a partir da pauta QUANDO O TALENTO É A VERA, publicada recentemente aqui mesmo em nosso espaço. Hoje Mila Ribeiro volta ao Musicaria Brasil para esta entrevista exclusiva onde aborda, dentre outros assuntos, quando de fato optou pela carreira musical, como se dá o seu processo de composição, a escolha do repertório do seu álbum de estreia dentre outros assuntos. Uma excelente leitura a todos!
Seu envolvimento com a música antecede a famosa apresentação na gincana? Qual a sua maior reminiscência que antecede esse fato?
Mila Ribeiro - Não, antes disso eu cantarolava pela casa por gosto e costume, decorava letras facilmente e tinha isso como um passa tempo despretensioso. Meu pai ouvia seus discos, cantava e assobiava e acho que fui repetindo e pegando gosto. A princípio gostava do que ele ouvia e a lembrança mais interessante é de, ainda criança, eu decorar e cantar Brejo da cruz de Chico Buarque e de ficar perguntando o significado daquela letra séria.
Quando foi que você decidiu que de fato seguiria a carreira musical?
MR - Demorei bastante a optar por seguir a carreira. Eu achava que não era pra mim e que inclusive não cantava bem o suficiente para ser profissional. Que o sucesso da apresentação à capela aconteceu por ninguém esperar que alguém naquela situação poderia se sair bem, afinal era só uma prova de gincana. Na época um colega que já tocava e compunha e me acompanhou numa segunda apresentação na escola (Fernando Ceah), bateu uma aposta comigo de que eu não resistiria à música e fiquei um tempo argumentando com ele que não tinha nascido pra isso (risos). P.S. Não paguei a aposta que ele ganhou até hoje, mas encontrei-o por acaso na volta do meu primeiro trabalho profissional oito anos depois e confessei que ele tinha razão! Eu não resisti à Deusa música...
Antes desse projeto você teve uma experiência que deve ter sido bastante proveitosa nas noites de Mônaco. O que você traz de mais proveitoso dessa experiência?
MR - Eu cantei por um tempo num hotel de lá, mas fazia questão de ouvir que se tocava em outros lugares quando estava de folga. O mais interessante foi constatar como a nossa música é admirada e respeitada e também que eles acham a nossa fala melodiosa. Ficavam encantados mesmo e faziam questão que a gente desse uma canja com a nossa Bossa por onde passássemos. Participar de jam sessions aonde se encontravam músicos de diferentes países se comunicando pela mesma língua música foi demais!
Você apresenta um trabalho que tem por característica a celebração da amizade. Dos autores aos músicos presentes, perpassando até mesmo pela proposta do álbum a partir do financiamento coletivo. De fato é essa a tônica do projeto?
MR - Essa não era uma ideia preconcebida, mas fui constatando que esse era um ponto comum e este sentimento me fez pensar e postar a frase: “felicidade é ter um amigo como parceiro ou um parceiro que se tornou amigo”. Um dia ouvi dizer que Vinícius de Morais gostava de coroar a amizade com uma parceria musical e aquilo fez todo o sentido pra mim no contexto que eu estava vivendo. Fico muito contente de saber que foi possível notar que a amizade está no centro desse projeto.
Em sua biografia musical consta uma grande admiração pela multifacetada artista Tânia Maria, tendo inclusive no disco uma homenagem a ela. O álbum chegou até ela? Quais foram as considerações registradas por ela?
MR - Pois é, eu tenho uma paixão à primeira ouvida desde que ganhei um CD dela, mas nunca imaginei que um dia teria a oportunidade de conhecê-la, ouvir conselhos e incentivo e até mesmo canjear num encontro entre fãs. Isso tudo foi muito marcante e importante pra mim então achei um jeitinho de colocar a essência desse aprendizado e emoção na letra do Samba da espera. Eu entreguei uma cópia para a irmã dela que foi inclusive uma das apoiadoras do projeto no Catarse, o que me deixou extasiada. Não sei se a Tânia já recebeu e por enquanto não tive retorno sobre isso. Se acontecer eu terei mais motivo de alegria ainda.
Você confessadamente não toca nenhum instrumento, no entanto no álbum “Mila” consta duas composições de sua autoria. Como se dá seu processo da composição da melodia?
MR - Vou me alongar um pouquinho nesta resposta!
Eu realmente não toco nenhum instrumento, mas por alguma razão, a musicalidade que mora dentro de quem ama música, acaba registrando em nossa memória um pouco de tudo que vamos ouvindo pela vida e creio que isso pode se expressar de alguma maneira. Basta atentar, gostar e cultivar isto que vem quase como um sopro divino. No meu caso, eu gravava num gravador daqueles de repórter na hora da inspiração para não esquecer, pois não saberia escrever a música. Assim não perdia a ideia. Tudo isso ainda sem ter a pretensão de um dia gravá-las profissionalmente. Era o meu hobby, mas com o tempo acabei mostrando para grandes músicos que fui conhecendo em cursos e saraus e mais pra frente em trabalhos, como o Amauri Falabella que gravou comigo uma demo de três das minhas músicas na época e Leonardo Ferreira, que se tornou meu grande parceiro e incentivador de um disco autoral. Um dia eu fui a um show de Chico César com uma amiga e o conhecemos depois. Ela me apresentou a ele como compositora, imagina! Ele, super gente boa, parou para ouvir Cala-te e cantarolamos juntos com ele ao violão! Foi muito rápido, interessante e incentivador. Ele falou que a música era boa e eu fiquei ali passada. Por incrível que pareça tinha me esquecido disso! Decidi agora procura-lo para entregar um CD e ver se ele se lembra. Vai ser divertido. Essas coisas iam me dando segurança para continuar a criar gravar minhas ideias. A propósito, a música Cala-te nasceu pronta numa mesa de bar. Cheguei antes da hora num aniversário e escrevi a letra enquanto aguardava o pessoal. É raro mas me aconteceu com Retrato também.
Não foi só em duas canções do disco que eu criei também a melodia.
Pequeno grande amor, por exemplo, eu fiz sozinha a primeira parte e fiquei anos com ela na cabeça, mas achava que faltava algo para enriquecê-la. Um dia convidei o Agenor para colaborar e amei o resultado. Já Retrato, fiz letra e melodia também e ainda adolescência. Na hora do arranjo ela ganhou uma pequena parte nova e fiquei muito satisfeita com a oportunidade de colocar um pensamento atual nela além de ter a parceria do produtor do disco.
No caso de Combinado e Samba da espera, eu pedi para os músicos fazerem a música para eu fazer a letra depois. Ao cantá-las, no entanto, acabei imprimindo algo meu na melodia também.
E suas letras expressam você ou vem a ser, Como muitos compositores costumam frisar, fruto de sua imaginação e experiências?
MR - As duas coisas, cada uma nasce de um jeito! Se eu considerar que a experiência de alguém me tocou a ponto de inspirar uma canção, posso dizer que aquilo é algo indiretamente meu também. É relativo, mas muitas vezes não tem nada a ver com algo que vivi realmente. Muitas são fruto de algo que vivi mesmo.
E a escolha das canções não-autorais do álbum? Quais foram os critérios de seleção que mais ponderaram na hora da decisão?
MR - Brisa boa um amigo me apresentou, me apaixonei e comecei a cantar nas minhas apresentações. Ao conhecer o autor para pedir para gravá-la e ele me autorizou. Ela já era uma certeza desde o início da seleção.
O critério era a música ter um conteúdo que combinasse muito com meu jeito. Algo que não escrevi, mas eu pudesse sentir como se tivesse se fosse meu mesmo. Não consegui gravar nada que tivesse alguma parte que eu não diria por exemplo.
Dentre essas canções há "Jah will show the way", uma parceria do Mark Shine com o Aroldo Santarosa, que consta com a participação do próprio Shine. Como se deu esse convite?
MR - Esta música eu recebi do Netinho (Os Incríveis) por e-mail com o título: música para você gravar. Eu amei e o Netinho me colocou em contato com o Aroldo e ficamos amigos. A ideia da participação surgiu naturalmente de tanto a gente ouvir o Mark cantando. O Aroldo falou com ele e ele topou!.
Como tem sido a divulgação e a receptividade do álbum por onde você tem passado?
MR - Por enquanto eu tenho divulgado na internet e fazendo o projeto de circulação de shows de lançamento. Na web eu tenho uma ótima audiência no site ReverbNation estando sempre entre as mais ouvidas do gênero e as pessoas que apoiaram o disco me deram um resposta muito positiva também.
A realização maior seria ouvir alguma (as) música (s) tocarem em rádio, TV, cinema... a gente chega lá!
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Mini Box - Tel: 11 3101-7392
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