Após abrilhantar o nosso espaço com o seu projeto ao lado de Roberto Menescal, Andrea Amorim volta ao Musicaria Brasil para esta entrevista exclusiva
Por Bruno Negromonte
A música autoral brasileira tem por característica a predominância masculina no entanto vez por outra surge um significativo nome feminino para heterogeneizar as estatísticas com a peculiar beleza e sensibilidade ao qual o sexo está intrinsecamente associado. A cantora e compositora pernambucana Andrea Amorim chega para engrossar esse cordão a partir de trabalhos consistentes e bem elaborados. Sob forte influência do rock, a pernambucana mostra talento e ecletismo ao pegar carona no barquinho de Roberto Menescal, um dos mais respeitados nomes da música brasileira, com o álbum "Bossa de alma nova" que a artista vem apresentando não apenas no Brasil como também no Exterior e que foi apresentando ao nosso público a partir da matéria "UMA HOMENAGEM QUE ACABOU RENDENDO UMA SIMÉTRICA PARCERIA". Hoje Andrea volta ao Musicaria Brasil para abrilhantar o espaço com esta entrevista exclusiva onde fala, dentre outras coisas, do seu novo projeto fonográfico, seus projetos autorais, a adesão do homenageado a um deles entre outros assuntos que vocês podem conferir logo abaixo. Excelente leitura!
Seu
envolvimento com a música vem desde a infância? Dentre as suas referências
musicais quais aquelas que contribuíram de algum modo para que a jovem Andrea
viesse a seguir a carreira de cantora e compositora tempos depois?
AA - O rock sempre foi a minha referência
musical. Em especial, posso dizer que Renato Russo foi o meu grande
incentivador, tanto na criação, como na produção. Por meio dos discos da Legião
Urbana, “descobri” que poderia compor e cantar. Outras influências foram sendo
agregadas depois, e foram me moldando ao longo do tempo, mas essa foi mesmo a
principal e a desencadeadora de todo o processo (rsrs).
Você
vem de Garanhuns, cidade localizada no agreste pernambucano e que acabou
popularizando-se nacionalmente também por ter um dos mais conceituados
festivais culturais existentes no Brasil, que é o FIG (Festival de Inverno de
Garanhuns). De algum modo você acredita que eventos como o citado e o Festival
de Música e Arte de Garanhuns contribuem para artistas da cena independente
como você?
AA - Acredito muito, por experiência própria!
Sempre costumo dizer que foi o Festival de Música e Arte de Garanhuns que me
propiciou a oportunidade de seguir carreira. Até então, nem eu mesma acreditava
no meu trabalho. Quando ganhei o Festival, em 2006, foi estabelecido em minha
vida um divisor de águas. Com o dinheiro que ganhei, juntei as poucas coisas
que tinha, gravei algumas músicas minhas e fui pro mundo!
Em relação ao Festival de Inverno de
Garanhuns, desde 1999, eu tive a oportunidade de me apresentar. Ou seja, eu
participo desde o comecinho da minha carreira, e já são 15 apresentações. No
FIG, eu pude dividir palco com os grandes artistas nacionais, e comecei a entender
e aprender como era ser um “artista” de verdade, mesmo sempre sendo tratada
como tal. Tenho muito respeito pelo FIG, e eu sou muito grata aos meus
conterrâneos por sempre terem me dado tanta força, ao longo desses meus 15 anos
de carreira.
Vem
de longas datas a emigração de alguns artistas para o sudeste afim de sedimentar
ou dar projeção as suas respectivas carreiras. No entanto hoje com os adventos
tecnológicos houve um reordenamento deste contexto propiciando a Pernambuco um
lugar de destaque na cena cultural nacional. Você seguiu os ditames
tradicionais e partiu para o eixo Rio-São Paulo e vem galgando significativos
espaços nestes estados. Em sua opinião quais os maiores entraves existentes
aqui no Nordeste para a projeção artística e que acabam, de certo modo,
provocando este tipo de evasão?
AA - Acho que não existe mais essa
necessidade de migração pro Sudeste. Atualmente, o artista pode consolidar sua
carreira onde estiver. Eu sou apenas uma remanescente desse contexto
migratório, que hoje, virou obsoleto. Mas minha casa é e sempre será Garanhuns,
independente de onde eu esteja.
Atualmente
você vem divulgando “Bossa de alma nova”, um projeto que seria uma homenagem e
acabou rendendo uma profícua parceria entre você e Roberto Menescal. Como se
deu a adesão de Menescal nesta homenagem?
AA - Eu digo que essa parceria foi o maior
presente que Deus me deu. Menescal é um artista genial, sobretudo um ser humano
adorável e muito sábio. Sempre aprendo alguma coisa nova quando nos
encontramos. Eu fiz uma turnê no Japão, com 24 apresentações, em dezembro de
2011, cantando rock e MPB! Ironicamente, foi lá que conheci música brasileira
de verdade. Os japoneses são literalmente apaixonados por Bossa Nova! Essa
viagem foi a maior e mais incrível experiência da minha vida. Quando voltei, eu estava com uma imagem completamente
diferente de tudo e, como sugestão de um produtor de lá, Marcos Sussumi, propus a Menescal a gravação de um disco!
Seria um desafio, mas eu queria conseguir, de alguma forma, reproduzir o amor
dos japoneses, que eu vi de perto, em relação à nossa música. Ele não somente abraçou
a ideia, como quis participar de todo o projeto. Como ele estava completando 75
anos de vida, eu quis fazer um disco em sua homenagem, interpretando suas
canções. Pra completar o presente, tatuei seu nome em japonês no meu antebraço
(rsrs).
E
a sua aproximação do Roberto Menescal antecede esta homenagem não é? Como vocês
se conheceram?
AA - Mais uma vez, aparece aqui o Festival de
Música de Garanhuns (rsrs). Eu ganhei esse festival em 2006, e, em 2008, fui
convidada pra fazer um show. Menescal estava como jurado, na ocasião, e
comentou com o compositor Carlos Fernando sobre mim. Esse, por sua vez, falou
pra nós e, prontamente, descobrimos o e-mail de Menescal, quando entramos em
contato com ele. Desde então, nossa amizade somente cresceu e, naturalmente,
fui sendo lapidada por esse mestre da vida e da música. A maturidade que eu
alcancei, nesses três anos, convivendo mais de perto com Menescal, valeu por
toda uma vida.
O
CD “Bossa de alma nova” está entre os cem melhores discos de Música Brasileira
já lançados no Japão, segundo registro do livro “A verdadeira história da Bossa
Nova”. Você apostava que o disco alcançaria esta relevância no mercado
fonográfico japonês?
AA - Tivemos essa grata surpresa com a
publicação do nosso amigo japonês e jornalista Willie Whopper, nesse seu livro.
Willie é um grande apreciador e um apaixonado por nosso país. Sabe tudo sobre
nossa música. Ele tem um estabelecimento em Tóquio (Barzinho Aparecida), no
qual tive a oportunidade de me apresentar, onde somente se encontram coisas do
Brasil, desde música ao vivo até discos de vinil e feijoada no cardápio (rsrs).
Eu não sou muito de apostar em nada
nessa vida, nem ter grandes pretensões e nem criar expectativas. O que vem de
bom sempre encaro como um bônus que a vida vai me dando, e sempre agradeço a
Deus por tudo. Esse, portanto, foi mais um presente.
Você
tem por característica fonográfica álbuns onde sua veia autoral pulsa
fortemente. Com exceção de “Solidão nunca mais” (parceria sua com Menescal) neste
projeto você deixa essa característica de lado nas catorze faixas restantes.
Como você encarou esse desafio e experiência?
AA - Foi, literalmente, um desafio e uma
experiência única. Gravar faixas como o hino “O Barquinho”, sendo produzida por
seu criador não tem comparação com nenhuma outra coisa. Durante os dois dias de
gravação das vozes do disco Bossa de Alma Nova, fiquei em estado de plenitude,
o qual se sobrepôs ao nervosismo. Depois que me dei conta do que realmente se
passou: eu estava gravando as músicas de Menescal, e o próprio estava na minha
frente, produzindo-me! (rsrs). Foi um momento mágico, inesquecível, e essa
sensação ficou perpetuada em mim, como uma riqueza imensurável.
Tal
qual o mitológico Midas, tudo o que Menescal toca vira ouro. Você ganhou
significativa projeção a partir desse projeto em duo com ele. Após o registro
do DVD vocês já pensam em algum novo trabalho em parceria?
AA - Ganhei projeção sim, mas acima de tudo,
experiência de vida, que, pra mim, é o mais importante. Não busco fama. Busco
produção, aprimoramento e evolução. Enquanto isso, eu e o Menescal seguimos
fazendo shows e compondo. Quem sabe, não vem por aí um disco somente de
parcerias nossas (rsrs). Seria mais um sonho meu, mas primeiro precisamos
completar a lista de músicas, pra que eu possa propor-lhe esse projeto (rsrs).
Em
suas incursões pelo Exterior você costuma apresentar-se como interprete dos
clássicos brasileiros você costuma apresentar um repertório autoral?
AA - Eu sempre gosto de mostrar meu lado
compositora, porque, pra mim, a maior identidade do artista é a sua obra, por
mais simples que pareça, afinal toda manifestação artística merece respeito.
Atualmente
você vem na elaboração de um novo projeto a ser lançado ao longo deste ano.
Você poderia nos adiantar alguma coisa sobre ele?
AA - Claro que posso e, inclusive, agradeço a
oportunidade de falar sobre isso também. Além do meu CD de rock autoral, com 13
músicas inéditas, que está saindo este mês, com o título Doce Divã, estamos num
projeto de total conexão Brasil – Japão (rsrs). Estamos gravando um disco,
produzido e arranjado por Marcelo Kimura, descendente japonês que mora na Terra
do Sol Nascente. Todo o CD vai ser produzido e gravado lá, por músicos
japoneses, além do Kimura, e eu apenas colocarei as vozes aqui no Rio. No
repertório, canções que marcaram época, as chamadas músicas de fossa,
transformadas em Bossa, bem como uma parceria minha com o próprio Kimura, e
outra com o Menescal também.
Andrea,
aproveito a oportunidade para agradecer por toda a disponibilidade e atenção
dada a mim e consequentemente àqueles que acompanham este espaço. Parabéns por
esta profícua parceria junto ao Menescal que já rendeu um CD e um DVD. Torço
para que você obtenha sucesso absoluto daqui pra frente.
AA - Eu que agradeço a ti, Bruno e à
Musicaria Brasil, por esse espaço e essa oportunidade de falar um pouco sobre o
meu trabalho e a experiência única que é conviver com o Menescal. Parabéns pelo
belo trabalho, o qual tenho acompanhado! Desejo muito sucesso pra vocês e uma
longa e promissora carreira. Contem sempre comigo! Muito obrigada mesmo! Um
forte e carinhoso abraço!
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