De uma despretensiosa brincadeira ao posto de promissor talento da MPB, eis a cantora e compositora Mila Ribeiro
Por Bruno Negromonte
Foi a partir de um trote para dublar uma conceituada cantora da MPB em uma gincana a qual participou que Mila Ribeiro deu os seus primeiros passos para alcançar o patamar onde hoje encontra-se. O que aparentemente tratava-se de uma brincadeira acabou por propiciar a pretensa artista uma oportunidade de galgar os primeiros degraus no universo artístico. O que seria um ato corriqueiro e simples para muitos acabou como o pontapé inicial para os seus primeiros passos na música, e hoje a artista colhe os frutos dessa, digamos, brincadeira. Quem diria que aquela dublagem marcaria o início da biografia musical deste promissor talento de nossa música?. Ainda hoje a cantora e compositora relembra com carinho aquela passagem em sua história que tatuou em sua memória aplausos intermináveis de um público que talvez não mensurasse onde a artista iria chegar, mas que já tinha plena convicção que o seu talento mostrava-se inquestionável já naquela ocasião. Dali em diante estava germinada a semente artística que afloraria anos depois em forma de letras e melodias e que teria como fruto o álbum homônimo ao nome da artista, lançado recentemente e que apresenta uma cantora capaz de agradar aos mais exigentes ouvidos. Projeto gerado via Catarse (ferramenta colaborativa capaz de financiar os mais distintos desejos sempre acompanhado por alguma recompensa a quem se propõe a ajudar) o disco chega como a primeira oportunidade da cantora e compositora apresentar ao grande público poesias e melodias maturadas ao longos dos anos que precedem o início de sua vida artística de modo profissional. De modo veemente, é possível afirmar-se que qualquer pessoa presente no dia daquela despretensiosa brincadeira não seria capaz de imaginar que a nugativa diversão resultaria em um disco arraigado de sinônimos tão nobres. Apesar da não pretensão em ser cantora seu destino pregou-lhe uma peça.
Por possuir um talento que vai além da interpretação Mila Ribeiro faz-se capaz de apresentar um trabalho maturado em textos e melodias precedentes ao seu desejo de registro e que substanciam com força total as distintas facetas da artista. Na audição do álbum é possível perceber que as características que cercam a artista afloram em sua plenitude. O lado intérprete de Mila apresenta-se em três momentos: "Brisa boa", "Paisagem" e "Jah will show the way". A primeira trata-se de uma composição romântica do Cristiano Borges cujo refrão onomatopeico nos cerca e envolve de modo inebriante; já "Paisagem" é uma composição do multinstrumentista soteropolitano Rubem Farias (que ainda assina em parceria com Mila Ribeiro a faixa "Combinado", canção que busca retratar saudades e lembranças). A outra composição não autoral presente no disco Mila Ribeiro foi buscar na cena musical nova yorkina a partir do cantor e compositor Mark Shine. "Jah will show the way" é uma parceria do jamaicano radicado em Nova York com Aroldo Santarosa, ex-integrante da banda de rock paulistana Casa das máquinas que hoje reside nos EUA. Neste cd Mila conta com a participação de Mark Shine que já havia gravada inicialmente no álbum "Metamorphosis". As cinco faixas restantes são essencialmente autorais. Ora em parceria, ora de modo solo, Mila Ribeiro compõe intuitivamente, mesmo sem ser instrumentista e apresenta canções como "Retrato" (em parceria com o instrumentista Bruno Cardozo), "Pequeno grande amor" (com Agenor de Lorenzi) e "Samba da espera" (em duo com Leonardo Ferreira e que chega em modo de homenagem a cantora, compositora e instrumentista maranhense Tânia Maria). O disco ainda com duas canções da lavra da artista: "Cala-te" e "Estou aqui", que reafirma o talento da artista demostrando ser uma compositora imbuída de sensibilidade e talento.
"Mila" mostra-se capaz de sobrepujar todas as expectativas de quem o escuta não apenas por ter uma cantora de voz única e carisma inigualável mas também por trazer na feitura de sua sonoridade um gabaritado time de músicos. Nos contrabaixos estão o conceituado Marcelo Mariano e Sidiel Vieira; de modo multifuncional Sandro Haick assume bateria, violão e guitarra; na sanfona o sergipano Mestrinho; assumindo a flauta em sol e o sax tenor Wilson Teixeira. O disco ainda conta com Silvera nos vocais, a bateria e a percussão de Cuca Teixeira e o autor de "Retrato", Bruno Cardozo, que volta a ficha técnica do álbum na produção musical e executando piano acústico, rhodes, hammond, roland VP-330 e prophet t8. O projeto gráfico ficou a cargo do designer paulista Renato Valladão. Um belo conjunto para uma pessoa que um dia não tinha por pretensão ser cantora, mas que não esquivou-se do seu destino e após cantar pelas noites europeias do principado de Mônaco agora apresenta a um público que bem soube cativar um primeiro projeto fonográfico que não apenas atesta o seu talento, mas que apresenta uma artista imersa na sensibilidade. É como bem intitulou na plataforma Catarse.me o seu projeto musical: "Essa moça faz o que melhor faria."
De modo intuitivo Mila descobriu que a sua relação com a música é algo que vai muito além da despretensiosidade. Talvez a artista não soubesse, mas é bem provável que a música e a poesia já encontrava-se pronta para a qualquer momento despertar de algum gene ou reminiscência. Quando por alguma razão a Deusa música opta por alguém, não existe o menor subterfúgio e essa escolha manifesta-se nos modos mais distintos e simplórios como aconteceu com esta artista que soube trilhar um coeso caminho entre as despretensiosas gincanas e brincadeira em festas de amigos até o patamar de promissor talento da música brasileira como se é possível perceber através do álbum "Mila". Hoje percebe-se, sem sombra de dúvidas, que melhor caminho a artista não poderia seguir. Seu êxito se dá com certeza por conta da verdade que a artista bem soube impregnar naquilo que faz. A convicção, o talento e a determinação traduz-se a partir de características bastante peculiares que regem a música da artista em questão. Quando o talento é à vera não há subterfúgio para o reconhecimento.
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