A CURIOSA HISTÓRIA DAS DUAS AVES SANGRIAS CONTADA POR LAILSON

O Ave Sangria promete repetir o sucesso dos dois shows de despedida há 40 anos, no Santa Isabel, hoje dia 2 de setembro, com o relançamento do único álbum da banda, mais o registro do canto de cisne em dezembro de 1974,, intitulado Perfumes y baratchos. Ambos saem pelo selo pernambucano Ripohlandya (que teve projeto aprovado no Fumcultura). Porém, poucos deram atenção às duas aves sangrias. A de um colorido mezzo tropicalista mezzo fauvista na capa do disco, e a de aspecto feroz do cartaz do de Perfumes Y baratcho, o show., agora adaptado para o CD ao vivo.

A do LP foi uma livre, e infeliz, recriação do original de Lailson, cometida pelo pessoal da extinta gravadora Continental. A do cartaz é mais ou menos a que Lailson pretendia para a capa do álbum de estreia do Ave Sangria. E com a palavra laílson, contando o caso como o caso foi:

Quando o Phetus acabou eu resolvi que precisava voltar a trabalhar, pois tinha passado mais de um ano tentando a carreira musical. Então, fui trabalhar na agência Magnus Publicidade (que hoje é a Stampa).

As gravadoras do Sul tinham ouvido falar do que estava acontecendo aqui, mas quando chegaram, só havia o Tamarineira em atividade. Paulo Rafael já tinha me dito que iria tocar com eles, pois eu não estava pensando em retomar a banda e ele tinha que continuar sua carreira.

Foi quando Marco e os meninos chegaram lá em casa dizendo que a Continental ia contratá-los e teriam que mudar o nome e gostariam que eu fizesse a capa do disco. Marco contou aquela história da cigana no Sertão, que tinha falado sobre a Ave e eu peguei a idéia como base. Desenhei uma mulher-ave bem gostosa, tipo a mulher do Príncipe Valente, com uma roupa vermelha longa, tipo medieval mas com a cabeça de uma águia feroz.

As asas também eram de águia, com grande envergadura e se confundiam com a roupa e o corpo dela. A Ave não estava de pé, estava pousando ou decolando, depende de como a pessoa queria ver e interpretar.Pintei com guache e nanquim e usei tinta acrílica luminosa em alguns pontos pra dar a idéia de um Sertão Psicodélico. Fiz em tamanho natural sobre papel Schoeller 3R.

Entreguei a arte aos meninos e eles levaram para o Rio quando foram gravar ou entregaram ao cara da gravadora aqui no Recife, não sei. Só sei que depois eles disseram que a gravadora não iria me pagar pois não iria usar o desenho. Mas tomaram ele por base para fazer aquele outro que ficou sendo a capa do disco e me deram só o crédito de Layout na contracapa.

Sem, no entanto, me devolver a arte original (que deve ter sio engolida por algum buraco negro) nem me pagar nada pelo layout, também!!! Quando vi a capa do disco, fiquei decepcionado…

Aquela ave tinha cabeça de papagaio! E as asas eram de galinha!!! Não tinha envergadura, não poderia se sustentar no ar.

E a posição das asas não era de vôo: ela estava de pé como se fosse uma mulher fazendo pose com um braço mais para cima que o outro.

Não voava.

Então, com o lançamento do disco, os meninos apareceram de novo lá na agência dizendo que queriam que eu fizesse o cartaz e os folhetos de divulgação do show que iam fazer no Santa Isabel, além da direção técnica.

Não iam me pagar nada por esses trabalhos, também. Mas, pra mim era legal dar uma força e desenhar a Ave direito.

Não lembro se fui eu ou eles que resolveu incluir a idéia do “seu coração vai sangrar”, mas acho que fui eu. Então coloquei o peito da Ave aberto com um coração humano, como naquelas gravuras de calendário que tem o coração de Jesus.

Mudei a posição das pernas para dar a idéa de que a Ave já estava em pleno vôo, avançando para o espectador. Como não tinha grana, o cartaz ficou em vermelho e branco, apenas.

Essa Ave ficou mais feroz que a primeira e menos sensual, também. Essa é a que será usada na capa do CD do show que será lançado agora, não sei se com ou sem modificações, tem que ver com o Marco do Anjo Gabriel.

Confiram o Ave Sangria ao vivo, no show Perfumes y Baratchos:

Confiram áudio do Ave Sangria ao vivo, em 197: