A Rainha do rádio apresentada hoje antes de ser cantora iniciou a sua vida artística na sétima arte
Por Bruno Negromonte - @brunonegromonte
Nascida em Santos (município portuário localizado no litoral do estado de São Paulo a cerca de 77 quilômetros da capital), Nice Figueiredo Rocha iniciou a sua carreira artística longe dos auditórios de rádio e estúdios de gravações como todas aquelas que antecederam nesta série em que venho apresentando todas as Rainhas do rádio brasileiro existentes enquanto o concurso esteve vigente, entre os anos da década de 1930 até 1950. Popularmente conhecida como Mary Gonçalves, a pretensa artista, iniciou a sua carreira artística como atriz de cinema estreando em 1944 no elenco do filme "Gente Honesta", segundo filme do diretor mineiro Moacyr Fenelon e que contava no elenco com nomes como Oscarito e Oswaldo Louzada. Sua estreia no rádio só viria a acontecer seis anos depois quando foi contratada para fazer parte do casting da Rádio Nacional. Após a sua inserção no mundo do rádio teve a oportunidade de gravar pela gravadora Sinter o seu primeiro disco, um 78 RPM com as faixas "Penso em você" e "Só eu sei", dois sambas-canção compostos por Fernando Lobo e Paulo Soledade. Nesta gravação a estreante contou com o acompanhamento do conceituado maestro, arranjador e pianista Lyrio Panicali e seu conjunto de boite. No entanto, a futura Rainha do rádio teria na música uma carreira meteórica gravando apenas cerca de uma dúzia de 78 RPM. Sua última gravação data-se de 1956, quando registrou em disco de cera as canções "Deixa disso" (Newton Ramalho e Nanci Wanderley) e o samba-canção "Patati-patatá" (Hianto de Almeida e Francisco Anísio). Depois deste registro abandonou a carreira artística passando a viver na Colômbia. Entre esses escassos registros fonográficos da artista ao longo dos cinco anos em que gravou há canções como "Aquele beijo", de Claribalte Passos e Lírio Panicali; o baião "Coreana", de Humberto Teixeira e Felícia de Godoy; o samba-canção "Vem depressa", de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti e o bolero "Aperta-me em teus braços", de José Maria de Abreu e Jair Amorim. Suas interpretações também abrangeram compositores como Luiz Bonfá (autor do baião "Meu sonho"), Billy Blanco (que compôs o samba-canção "Rotina"), Dorival Caymmi (compositor do samba-canção "Nem eu" ) entre outros relevantes nomes da música popular brasileira como Johnny Alf, autor de três canções registradas por Mary: "Escuta", "Estamos sós" e "O que é amar". Em 1954, gravou seu último disco na Sinter com o samba-canção "Dentro da noite", de Oscar Bellani e Luiz de França e o beguine "Não vá agora", de Billy Blanco. Segundo o jornalista e pesquisador Sylvio Túlio Cardoso, foi neste selo que a artista fez os seus melhores registros.
A ascendente cantora viria a se tornar Rainha do rádio dois anos após o início de sua carreira radiofônica, em 1952 com um votação de 744.826 votos. Na ocasião venceu a atriz e musicista Adelaide Chiozzo (que foi derrotada por pouco mais de 30 mil votos na última hora de apuração) e a cantora Carmélia Alves e sendo coroada no tradicional baile do rádio no teatro João Caetano em 19 de fevereiro. Vale registrar que a vitória de Mary Gonçalves se deu de modo inusitado. Com exceção de Carmélia Alves (que já possuía diversos o carisma e reconhecimento do público como a "Rainha do baião"), todas as demais candidatas não possuíam aquilo que era fundamental para alcançar o título: popularidade. E entre essas candidatas encontrava-se Mary Gonçalves, que naquele ano estava migrando da Rádio Nacional para a concorrente Rádio Clube, que tinha entre seus primordiais interesses a promoção do nome e da imagem da recém-contratada. Naquele ano a vitória de Adelaide Chiozzo para Rainha do Rádio era dita como certa por dez entre cada dez pessoas questionadas sobre o concurso. No entanto surge a figura de um patrocinador anônimo que alegando estar comprando votos para Carmélia Alves arremata uma grande quantidade de votos e os encaminha para Mary Gonçalves. Essa surpresa foi responsável por diversas situações além da mudança daquilo que já estava dado como certo. Esse novo panorama foi responsável por gerar a oportunidade de Mary duplicar não apenas a quantidade de shows e viagens que fazia, mas também o seu cachê junto aos contratantes assim como também foi responsável por gerar uma desconfortável situação para Carmélia Alves, pois a mesma foi acusada de trabalhar contra a candidatura da colega de emissora. A vitória da candidata santista acabou gerando uma inusitada situação: Carmélia Alves para ir ao Baile do Rádio precisou de escolta policial.
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