Se vivo estivesse o compositor, arranjador e musicólogo estaria completando um século de existência
Aos sete anos de idade já tocava violão. Com nove anos de idade começou seus estudos musicais com teoria e solfejo junto ao professor Paulo Carneiro. Em 1925 ingressou na Escola de Música Santa Cecília em Petrópolis, onde foi aluno de piano da professora Adelaide Carneiro e posteriormente de Elfrida Strattman. Nos anos seguintes, dedicou-se aos estudos de violino, sua verdadeira vocação. De 1925 até 1930, estudou violino com o professor, theco Gao Omacht. Em 1926, foi premiado com com a medalha de ouro da Associação de Ciências e Letras de Petrópolis, devido ao seu aproveitamento nos estudos. Em 1929 encerrou o curso de teoria e solfejo com o professor Deoclécio Damasceno de Freitas. No mesmo ano passou a lecionar violino como professor assistente da Escola de Música Santa Cecília. No início da década de 30 costumava ir semanalmente ao Rio de Janeiro assistir aulas particulares com a professora Paulina d'Ambrósio. Em 1932 matriculou-se no Instituto Nacional de Música no Rio de Janeiro, onde teve aulas de harmonia com o professor Arnaud Gouveia e conjunto de câmara com Orlando Frederico. Em 1934 mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro. Entre 1938 e 1943, estudou contraponto, fuga, composição e instrumentação com Newton Pádua. Em 1941 ingressou no Conservatório Brasileiro de Música, sendo o primeiro aluno a concluir o curso de composição. A partir de 1944, passou a freqüntar o curso particular de Hans Joaquim Koellreutter, onde estudou a técnica dodecafônica da escola de Viena, princípios de música serial, análise, estética e harmonia acústica, escola que depois repudiaria.
Em 1929 começou a lecionar como professor assistente de violino na Escola de Música Santa Cecília e a tocar no Cine Glória. Começou também nesse período a fazer orquestrações para diversos instrumentos, mostrando seus arranjos para o mestre de banda Firmino Borrajo, que o incentivou. Em 1930, aos 16 anos, escreveu sua primeira composição, o tango "Otília", nome de sua primeira namorada.
Em 1941, a dupla Jararaca e Ratinho gravou duas composições de sua autoria: a marcha "Levanta o pé", com Felisberto Martins e o samba "Me leva, baiana", com Jararaca, pela Odeon. Em 1942, a mesma dupla gravou a marcha "Ora bolas", parceria com Jararaca e Norah e, Silvio Caldas gravou na Victor a marcha "Fibra de heróis", parceria com Teófilo de Barros Filho. Em 1944, teve uma sinfonia composta durante o curso de composição no conservatório apresentada na Rádio Tupi. Nesse período passou a dedicar-se cada vez mais à orquestração e a especializar-se em música popular.
Em 1945, tornou-se filiado do grupo Música Viva, que foi responsável pela divulgação, através da Rádio MEC, de suas primeiras composições. Em 1946 teve sua "Sinfonia nº 1", obra dodecafônica, divulgada pela BBC de Londres, com regência do maestro Maurice Milles. Posteriormente, foi tocada na Rádio de Bruxelas no Festival Internacional de Música Jovem sob a regência de André Joinin. Em 1947, o maestro Maurice Milles tocou em primeira audição seu "Divertimento nº 2". Em 1948, teve seu "noneto" tocado pela primeira vez na Rádio Zurique na Suíça com regência do maestro alemão Hermann Scherchen, que o convidou a residir por dois anos em sua casa em Zurique para estudar regência. Recusou o convite e foi para Pernambuco onde assinou contrato com uma rádio do Recife. Durante três anos desenvolveu intensa atividade de pesquisa sobre o folclore, recolhendo material sobre maracatus, xangôs e catimbós em diferentes cidades pernambucanas.
Em 1950, ganhou o 1° prêmio do concurso de composições patrocinado pela Prefeitura do Recife em comemoração ao primeiro centenário do Teatro Santa Isabel. Sua "Abertura solene" recebeu o prêmio por unanimidade do júri. Em 1951, em concurso do Museu de Arte Moderna de São Paulo, ganhou uma bolsa para o III Curso Internacional de Férias de Teresópolis no Rio de Janeiro, com a composição "Sonata para violino e piano". No mesmo ano compôs a trilha sonora do filme "Terra é sempre terra" de Tom Payne. Em 1952, escreveu uma série de artigos para o suplemento literário do Diário de Pernambuco com o título de "Um século de música no Recife", fazendo um apanhado da vida musical da cidade. Em 1953, passou a morar em São Paulo. Na ocasião, fez a trilha sonora do filme "Canto do mar", de Alberto Cavalcânti, pela qual recebeu inúmeros prêmios no Rio e em São Paulo. No mesmo ano, teve "O canto do mar" e a canção "Maria do mar", parcerias com José Maria de Vasconcelos, gravadas por Inesita Barroso na RCA.
Em 1954, fez a trilha sonora para o filme "O craque", de José Carlos Burle. Na ocasião começou a freqüentar o curso de folclore musical do Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade. Prosseguiu na coleta de temas populares visitando inúmeras cidades paulistas como Taubaté, Pindamonhangaba, Tauí, Carapicuíba e São José do Rio Pardo. Recolheu jongos, sambas, cateretês, cururus, folias-de-reis, modas-de-viola e congadas. No mesmo ano passou a escrever artigos sobre folclore brasileiro e música popular nos jornais "Tempo" e "A Gazeta". Em 1955, teve a "Suíte sinfônica nº 1" apresentada em primeira audição em São Paulo pelo maestro Edoardo de Guarnieri. Esta composição foi depois apresentada em Moscou, Leningrado, Odessa, Lvov e Kiev, na ex-União Soviética. No mesmo ano, gravou com um grupo intitulado de Seu Batuque, pela Copacabana, as "Jornadas da Lapinha nº 1 e 2", com arranjos de sua autoria sobre motivos populares. No mesmo ano, a cantora Leny Eversong gravou na Copacabana a toada "Nego bola-sete" e o ponto "Mamãe-Iemanjá".
Em 1956, publicou em São Paulo o livro "Maracatus do Recife". Em 1958, no concurso de composições da Ricordi Brasileira, recebeu o primeiro prêmio pela composição "Suíte nº 2 - nordestina", para piano, e ganhou duas menções honrosas, para o "Trio nº2", para sopros e, com a "Sonatina nº1", para piano. No mesmo ano a cantora Maricene Costa gravou na RGE o samba canção "O amor nasce no olhar", parceria com Jair Amorim. Em 1959, foi nomeado chefe do setor musical da Comissão Paulista de Folclore. No mesmo Vilma Bentivegna gravou na Odeon o samba-canção "Vontade de enlouquecer", parceria com Odair Marzano e, José Orlando gravou na Chantecler o samba "Cortesia". Ainda em 1959 gravou de sua autoria e acompanhado de seus músicos a marcha frevo "Chora na rampa" pela Chantecler.
Em 1960, classificou-se em segundo lugar no concurso promovido pela Rádio MEC do Rio de Janeiro, com "Trio", para piano, violino e celo. No mesmo ano Cláudio de Barros gravou pela Chantecler o bolero "Cartas recebidas", Vitor Rafael, pela RCA, o samba "É você que tem" e Fausto Casanova, pela Chantecler, o samba-canção "Amar assim não sei", parceria com Mário Lino. Ainda em 1960, gravou com sua Orquestra e Coro pela Chantecler a marcha "Cidade Maravilhosa", de André Filho e o samba "Menina-moça", de Luiz Antônio. Em 1961, no mesmo concurso da Rádio MEC, sua "Sinfonia nº 2" dividiu o 1° lugar com as de Cláudio Santoro e Guerra Vicente. No mesmo ano gravou com seus músicos o frevo "Vassourinhas", de Matias da Rocha e, Joana Batista Ramos. Ainda em 1961, Iza Reis gravou o samba-canção "É melhor não voltar" e José Tobias o samba "Se você voltasse", ambos pela Chantecler.
Em 1962, transferiu-se para o Rio de Janeiro e no mesmo ano gravou com sua Orquestra e Coro, pela Chantecler, as marchas de bloco "Escuta, Levino" de João Santiago e "Quarta-feira de cinzas", de Geraldo Costa. No mesmo ano, Jane Simone gravou pela Continental o samba "Brincando de amar", parceria com Célio Moreira. Em 1963, passou a fazer parte da Orquestra Sinfônica da Rádio MEC como violonista ao mesmo tempo em que lecionava nos seminários de música da Pró-Arte. Nesse período gravou pela Chantecler o LP "Sambas clássicos", no qual com seus músicos, registrou entre outros clássicos "Ai que saudades da Amélia", de Ataulfo Alves, "Foi ela", de Ary Barroso, "Pelo telefone", de Donga e "Até amanhã", de Noel Rosa.
Em 1965, foi um dos maestros arranjadores do espetáculo "Vinícius: poesia e canção", realizado no Teatro Municipal de São Paulo em homenagem a Vinícius de Moraes, no qual fez a abertura. Em 1968, a convite de R. C. Albin, diretor do MIS, passou a coordenar a Escola Brasileira de Música Popular, com várias cadeiras, inclusive violão, flauta e piano, além de matéria teórica, como contraponto, harmonia, etc. Também no MIS, foi membro dos Conselhos de Música Popular e de Música Erudita.
A partir de 1970, passou a apresentar-se como violinista, regente e compositor em diversos concertos pelo país, sempre procurando selecionar um repertório dedicado a autores nacionais. Destacou-se como professor tendo diversos alunos que alcançaram renome no Brasil e no exterior entre os quais Jorge Antunes, José Maria Neves, Guilherme Bauer, Maria Aparecida Antonello Ferreira, Clóvis Pereira, Murilo Tertuliano dos Santos, Ernâni Aguiar, Antônio Guerrero, Paulo Moura, Airton Barbosa, Antônio Jardim, Carlos Cruz. Também teve como alunos diversos arranjadores e compositores populares tais como Chiquinho Morais, Capiba, Sivuca, Rildo Hora, Baden Powell, Formiga, Juca Chaves e Roberto Menescal. Lecionou harmonia, composição, orquestração, contraponto e fuga em diversos estados brasileiros.
Entre os anos de 1972 e 1980 foi professor do Centro de Estudos Musicais do Rio de Janeiro, da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de São Paulo. Foi também professor da UFRJ, da Pró-Arte e da Escola Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Em 1978 gravou pela RGE Fermata o LP "Sedução do norte", todo com composições do compositor pernambucano Capiba, entre as quais "Recife, cidade lendária", "Um pernambucano no Rio" e "A uma dama transitória". Ao final dos anos 1970, desenvolveu o projeto de arranjos sinfônicos para song-books dos grandes compositores populares, dos quais se destacaram os elepês de Luiz Gonzaga e Tom Jobim, editados pela Copacabana Discos.
Em 1982, recebeu a Medalha do Mérito da Fundação Joaquim Nabuco. Em 1984 recebeu a Medalha Koeler da Câmara Municipal de Petrópolis. Em 1986, recebeu o Prêmio Shell pelo conjunto de sua obra. Recebeu por três vezes o Prêmio Golfinho de Ouro do MIS do Rio de Janeiro. Foi assíduo colaborador da "Revista Brasileira de Folclore". Em 1993, recebeu o título de Maior Compositor Brasileiro Vivo. Compôs dezenas de obras clássicas gravadas por inúmeras orquestras no Brasil e no exterior. Em 2010, sua obra passou por um processo de redescoberta com o lançamento de três CDs dedicados à suas composições. O primeiro CD foi "Tributo à Guerra-Peixe". O segundo CD foi gravado no Paraná pela orquestra de câmara solistas de Londrina intitulado "Retratos brasileiros". O terceiro CD foi gravado pela pianista Ruth Serra intitulado "O piano de Guerra-Peixe". Além disso, suas partituras manuscritas estão sendo editoradas com patrocínio do Sesc. Ainda em 2009/2010, o produtor Ricardo Cravo Albin apresentou na Rádio MEC AM/FM uma série de oito programas de uma hora cada um perfilando toda sua obra fonográfica para a radiodifusora.
Fonte: Dicionario da MPB
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