Filha do escritor Ignácio de Loyola Brandão e natural de Araraquara (cidade localizada a cerca de 270 km de distância da capital do estado de São Paulo), ela traz como característica em sua bagagem um profundo conhecimento cultural adquirido a partir dos diversos contextos artísticos vividos e o interesse pela a música popular brasileira adquirido desde a infância pela convivência com os pais e parentes. A influência vem desde a avó Marize Gullo (que pertenceu ao Coral Araraquarense), passando pelas tias-avós Luisa Garita, Adelina Galera e Yolanda Lombardi a partir das incontáveis noites de embalo ao som de canções como "Saudade" e "Carinhoso". Nessa rotina musical cresceu ouvindo árias de ópera na voz de sua avó, uma ex-soprano, e clássicos da MPB ao lado de sua mãe; tudo isso acabou gerando na menina Rita uma arrebatadora paixão pela música, nutrida a princípio pelas aulas de canto lírico com a saudosa Leila Farah e posteriormente deixando-se arrebatar também pelo canto popular, onde estudou com ninguém menos que Ná Ozzetti. Assim se deixou levar pelo fascínio dos grandes nomes da MPB em acordes tocados em seu violão e das canções advindas das ondas dos rádios e apesar de, em dado momento, tentar se desviar das artes cursando história na PUC, não conseguiu se desvencilhar por completo e ao terminar a faculdade se viu envolta com ela novamente o que acabou a conduzindo ao curso de artes cênicas no Teatro Escola Célia Helena, onde posteriormente deixou envolver-se com música de maneira profissional. “Os diretores sempre me colocavam para cantar, e senti que essa era a maneira pela qual me expressava melhor.” relata. Somando essa decisão, a familiaridade com as letras e o seu conhecimento musical abrangente (que vai de Bossa Nova à Ópera), nada mais natural que tudo isso gerasse a segurança necessária para este primeiro álbum de Rita Gullo.
Todas as treze canções trazem como características os inovados arranjos que somados a precisão, requinte e sofisticação sabem muito bem explorar um lado mais intimista da cantora. Apesar de ser o primeiro álbum, nele a Rita consegue, mesmo sendo canções de inúmeras regravações, dar a elas um novo e arrojado alento a partir de melodias sofisticadas e originais, imprimindo na maioria delas uma marca pessoal criada a partir de um clima intimista.
Na elaboração do álbum são de extrema qualidade e dignos dos mais relevantes destaques os imensuráveis talentos dos músicos Toninho Ferraguti (acordeon), Hanilton Messias (piano acústico e elétrico), Sizão Machado (contrabaixo), Webster Santos (violões de aço, de 6 e 12 cordas), Nailor Proveta (clarinete), Edgard (tablas), Jonas Tatit (violão nylon), Adriano Busko, Guelo e Bré (percussões), Fábio Tagliaferri (violas), Hiles Moraes (gongas), Teco Cardoso (Flautas), Daniel D'alcântara (trumpet). O compositor e violonista Mário Gil além de tocar em algumas faixas, também assina a produção, direção musical e os arranjos, elaborados em parceria com o pianista Hanilton Messias (com exceção da faixa "O Cantador", assinado por Jonas Tatit).
Trata-se de um disco raro, feito por e para quem gosta de música. Não é exagero afirmar que o canto de Rita Gullo nos inebria já nos primeiros afinados acordes emitidos por sua voz; isso se dá talvez por atestarmos de cara que nela o talento é abundante e é perceptível a sua segurança em transitar pelos mais diferentes ritmos e tonalidades de maneira extremamente melodiosa sem deixar-se cair em nenhum lugar-comum (mesmo tendo um denso repertório como o que ela optou). Vale a pena anotar esse nome: Rita Gullo!
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domingo, 25 de dezembro de 2011
RITA GULLO, SIMPLES ASSIM...
Há pássaros que delicadamente buscam, ao trinar seu canto, alcançar o que melhor tem a oferecer aos nossos ouvidos; e mesmo de forma inconscientemente, nessa emissão revela-nos que na singeleza do seu gesto a beleza se faz presente, tal qual o inesquecível canto de Rita Gullo em seu coeso álbum de estreia.
Por Bruno Negromonte
Em um Brasil povoado por um número sem fim de pessoas talentosas, é natural que todos os dias surjam novos nomes dentro do cenário musical, porém poucos são aqueles que tornam-se perene o suficiente para poder carregar consigo alguns epítetos, isso geralmente vem a acontecer quando a carreira artística completa alguns anos de forma regular e esse sedimento vem a dar respaldo ao referido artista. Porém, ao conhecer esta cantora fui obrigado a não só mudar meus conceitos erroneamente formados, mas também concordar que neste caso especificamente o talento prevalece a partir de um conjunto maior, pois trata-se da soma de um talento nato, um repertório de primeira linha e de um carisma capaz de transformá-la em um dos mais promissores talentos desta segunda década do século XXI. Neste cenário musical contemporâneo brasileiro o destaque para o nome desta cantora é algo pateticamente previsível, Não acredita? se achar que trata-se de exagero de minha parte procure ouvir o álbum de estreia desta moça e veja o quanto ela impõe a sua marca já neste primeiro trabalho fonográfico, principalmente por ir de encontro as tendências mercadológicas atuais de intérprete, que consiste geralmente em trazer uma sonoridade comercialmente mais pop. A referida artista trata-se de Maria Rita Gullo, artista capaz de nos trazer o alento que almejávamos para endossar o coro dos contentes quando vislumbramos um promissor cenário musical brasileiro. O debute fonográfico de Rita Gullo chega a dar uma leve impressão de ter sido articulado minuciosamente desde a escolha de um arrebatador repertório até a participação das pessoas envolvidas no projeto. Porém é válido trazer ao conhecimento do grande público que o envolvimento da Rita com a arte não é algo que iniciou-se do dia para a noite.
Como se não bastasse o magnânimo e afinado canto e a peculiar classe nas interpretações, a escolha do repertório do álbum se deu de maneira meticulosa, pois nos dois anos destinados à escolha a artista não procurou economizar nos grandes clássicos de nosso cancioneiro, conseguindo de maneira surpreendente não cair em lugar comum. "Esses compositores são todos que eu costumo escutar desde criança. Tenho um vínculo com música brasileira, porque meus pais sempre gostaram muito", diz ela. Essa característica faz-se de maneira marcante nesse debute fonográfico, chamando a atenção e tornando-se algo lenitivo para os nossos ouvidos. São 13 faixas onde a cantora dá total vazão ao lado intérprete de maneira afinada e acompanhada por grandes músicos. Rita parece tecer as letras e melodias, por vezes surradas, à sua voz; conseguindo torná-las, de maneira competente, quase que em novas a partir de uma interpretação sem vislumbres, tendo a seu favor o domínio do uso de sua técnica vocal aliado a força de sua simplicidade; e pesar desta fórmula não ser inédita, poucas intérpretes sabem utilizá-la moderadamente de maneira serena e elegante o suficiente que nos chamem a atenção como tem sido o trabalho de Gullo. O diferencial deste álbum é perceptível em cada uma das faixas presentes no álbum, como podemos averiguar já a partir da primeira faixa que é "Oração ao tempo" (Caetano Veloso), canção originalmente gravada em 1979 pelo próprio autor no álbum Cinema transcendental e posteriormente regravada por diversos nomes, traz a partir da suave e melodiosa voz de Rita a credencial para que seu nome figure no panteão das grandes intérpretes da nossa música. Sua força interpretativa parece não contentar-se em mostrar o melhor de si e nas faixas seguintes vai ganhando mais vigor, como por exemplo na canção "O cantador" (Dori Caymmi e Nelson Motta) música que consagrou Elis Regina nos idos anos de 1967 no Festival da Record e que agora, mais de 40 anos depois, ganha uma elegante interpretação de Rita.
O disco segue com a faixa "A Mulher de Cada Porto" (Chico Buarque e Edu Lobo), canção esta gravada originalmente por Gal Costa no álbum "O corsário do Rei" de 1985. Nesta regravação o compositor de "Vai passar" divide os vocais com a cantora que diz: “Queria fazer um dueto nessa canção e pensei em chamar um dos autores.”, conta e acaba confessando inclusive que sentiu medo na hora da gravação com Chico. “Na hora que fechou aquela portinha que fica um de frente para o outro no microfone, eu falei: “ai meu Deus o que eu estou fazendo aqui?”. Posteriormente vem a canção "Sueño con serpientes" (do cubano Silvio Rodriguez) também gravada pela saudosa Mercedes Sosa (1935 - 2009) e Milton Nascimento no álbum "Corazón Americano", de 1985. O desfile de clássicos continua com "Cruzada" (Tavinho Moura e Márcio Borges) com destaque para a flauta de Teco Cardoso nesta canção também gravada por Beto Guedes no álbum "Sol de primavera" de 1979; "Pedra e Areia" (Lenine e Dudu Falcão), onde a artista expressa técnicas de sua formação lírica a partir de notas mais agudas e "Era de amar" do cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler, versão considerada por muitos melhor do que a do próprio autor. Nesta leva de canções Gullo gravou também uma versão mais intimista da canção “Each and Everyone”, música esta que faz parte do repertório da banda britânica Everything But The Girl, "Sentinela" (Milton Nascimento) e o samba-canção "Nunca" de autoria do gaúcho Lupicínio Rodrigues, que ela entoa com uma emoção peculiar e que acabou tornando-se a primeira música de trabalho, gerando inclusive o vídeo clipe abaixo:
O disco continua com "María del Carmen" (Elson Fernandes e Consuelo de Paula), onde a cantora mostra que longe dos clássicos da MPB também se mostra habilidosa, figurando esta valsa como uma das mais belas gravações do álbum e por fim "Xote" (Gilberto Gil e Rodolfo Stroeter) canção originalmente gravada por Gil no álbum "Sol de Oslo" (1998) e que evoca as tradições nordestinas perpassando pelas cantorias, misticismo religioso e outras peculiaridades da região.
Maiores Informações:
Contatos para shows - contatoritagullo@gmail.com
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Soundcloud - http://soundcloud.com/rita-gullo
O álbum pode ser adquirido nos seguintes endereços / telefones:
Livraria Saraiva - http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3420638
Discoteka - Tel: (11) 5906-0456
2 comentários:
Maravilhoso o Cd da cantora Rita Gullo, há um fato que talvez tenha escapado de sua percepção. Além de dar sua marca a canções já gravadas, Rita Gullo também ousa em composições inéditas como a bela canção Espelho que não foi mencionada no texto e onde a cantora consegue, com sua interpretação e bela voz, deixar esta canção ainda mais bonita.
Muy bueno Es una intérprete que conmueve hasta al más indiferente a la música Preciosa mujer 👍👏🎶
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