sábado, 10 de dezembro de 2011

PARCERIA MUSICAL ETERNIZADA

Lançamento do CD e DVD Samba de latada com Josildo Sá foi o canto do cisne do clarinetista e saxofonista carioca Paulo Moura

Por José Teles


Paulo Moura começou, pré-adolescente, tocando música de gafieira, em São José do Rio Preto (SP). Quis o destino que ele terminasse a carreira tocando samba de latada, a gafieira com sotaque nordestino com Josildo Sá. Quis igualmente o destino que Paulo Moura (falecido em julho do ano passado) não vivesse o suficiente para ver a parceria chegar ao DVD, Samba de lata ao vivo (Som Livre, com patrocínio e apoio da Chesf, governo do Estado, Prefeitura do Recife e Pitú), gravado no Teatro de Santa Isabel, em 2008. O lançamento aconteceu no último dia 7 de dezembro, na loja Passa Disco, reduto da música pernambucana de qualidade.

Um dos maiores nomes da história da música brasileira, com trânsito livre entre o popular e o erudito, Paulo Moura (nascido em julho de 1932), quis o destino, conheceu, por acaso, Josildo Sá, em 2004: Fomos apresentados por um amigo publicitário, Jorge Hopper. Depois, ele veio tocar aqui no Recife e Jorge me perguntou se eu podia ser cicerone de Paulo Moura e de sua mulher. Foi aí que estreitamos amizade. Numa dessas saídas nossas, eu coloquei meu primeiro disco, Virado num paletó veio no toca-CD do carro e ele disse ter gostado muito. Coloquei Coreto, meu segundo disco, ele fez algumas observações, comentou sobre faixas que poderiam ser melhoradas. E me disse que quando fosse gravar novamente eu poderia contar com ele.




Dois anos mais tarde, Josildo Sá preparou um show de Carnaval com Arlindo dos Oito Baixos, do qual surgiu a ideia do projeto Samba de latada: Achei que era hora e liguei para Paulo Moura. Queria reunir os dois mestres, Arlindo e ele. Cantei no telefone Nega buliçosa, de Tiago Duarte, e ele me disse que estava dentro para fazer o projeto. Combinamos de eu ir para o Rio de Janeiro. Preparei um repertório com músicas de Jackson do Pandeiro, João Silva, sambas feito Para não morrer de tristeza. Fizemos um show no Carnaval de 2006, ele adorou e aproveitei para convidar Paulo para tocar no disco que eu iria gravar. Ele disse que não queria só participar não. Queria ser meu parceiro no projeto, conta o forrozeiro.



Até então Josildo havia gravado dois discos, os citados Virado num paletó véio e Coreto. A parceria com Moura firmou seu nome definitivamente no cenário da música do Nordeste. Nascido no Sertão do Pajeú, ele sofreu influência forte do pai, o sanfoneiro Agostinho, de Tacaratu, cidade onde cresceu. Mas, a obrigação veio antes de colocar a vocação em prática. Trabalhei muito tempo com comércio, fiz um monte de coisa, vendi redes, artesanato, bebidas, fui frentista, mas sempre fazendo alguma coisa ligada à música. Na escola, em toda festa era convidado para cantar. Nasci no Pajeú uma região muito musical. Pai sanfoneiro, não tinha como não ter jeito para música, ressalta Josildo.

Paulo Moura tinha um pouco dessa personalidade interiorana, bem presente em seu disco mais conhecido, Confusão urbana, suburbana e rural (1976), que compartilha afinidades com o Samba de latada, música popular para dançar: O derradeiro trabalho dele foi este DVD. Paulo ainda conseguiu melhorar algumas coisas, ele me disse que o melhor ritmo para ele eram os cubanos e o samba de latada, que achava parecidos. E música cubana era o que tocava muito nos bailes com o pai dele.

O Samba de latada, creditado aos dois, saído inicialmente independente, em 2006, e depois pela Rob Digital, levou a dupla a uma turnê que passou por alguns dos principais palcos do País, como o do TIM Festival e o do Sesc Pompeia, entre outros, com unânimes críticas favoráveis.

O repertório se equilibra em temas instrumentais de Paulo Moura com sambas de latada, incrementados pelo clarinete e pelo sax do músico carioca. No show registrado para o DVD há quatro músicas a mais, participações de Spok e de Genaro, parceiro com Paulo Moura em Baile do sertão: A música foi feita no estúdio, gravada em seguida. Paulo tinha um trecho e convidou Genaro para terminar. Fizeram na hora, conta Josildo, que acrescentou o balanço de Assisão, do Trio Nordestino. Moura comanda o tripé, a maioria do tempo com o clarinete e uma banda formada por Wagner Santos (baixo), Danilo Aires (cavaquinho e banjo), Daniel Coimbra (cavaquinho, alfaia), Maíra Macedo (padeiro, efeitos e vocal), Andreza Karla (percussão, congas, alfaia, pandeiro, e efeitos), Beto Bala (percussão e vocal), Moema Macedo (percussão e vocal), Aldrim de Caruaru e Zezinho do Acordeom (sanfona) e Quartinha (zabumba).


NA LATADA

No disco de estúdio Paulo Moura ainda não estava tão familiarizado com a música nordestina. Ao vivo, no DVD, dois anos depois de tocar com Josildo Sá, ele reaparece totalmente à vontade. A dupla realizou um dos mais dançáveis discos da MPB nos últimos anos. Animação igual somente numa latada, ou puxada, de uma casa de sítio com o conjunto virado num paletó veio, sem conversa mole.

Credite-se parte do êxito à experiência do tarimbado produtor Zé Milton, que trabalhou na masterização e na pré-produção no Estúdio Fábrica. Zé Milton também é responsável pelo disco de frevo que Josildo Sá acabou de finalizar, com o repertório carnavalesco de Luiz Gonzaga. Em Samba de latada ao vivo, o pagode só arrefece um pouco na faixa Na água do bebedouro, um maracatu-canção no qual Josildo Sá recita versos, mas sem se estender muito.

A temporada de divulgação nos palcos de Samba de latada ao vivo, começa depois do lançamento, com o maestro Oseás tocando sax e clarinete e fazendo as partes de Paulo Moura: Ele já toca há algum tempo na minha banda e pegou bem o repertório do DVD, garante Josildo Sá.

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