terça-feira, 13 de dezembro de 2011

15 ANOS SEM FERNANDO LOBO

Por Bruno Negromonte


O compositor, radialista e jornalista Fernando de Castro Lobo nasceu no Recife no ano de 1915, mas foi criado em Campina Grande (PB). Talvez influenciado por sua mãe tocar bandolim ainda em Campina Grande inicia seus estudos musicais, sob orientação de Capiba, pai do posteriormente famoso compositor do mesmo nome, voltou para sua terra natal para estudar direito e passou então a ter aulas de violino e a atuar como crooner e violinista da orquestra Jazz Band Acadêmica de Pernambuco, que logo deixou.

Como cantor, gravou uma única música: Pare, olhe, escute e goste, frevo-canção de Nelson Ferreira, na Victor, também em 1936 compôs sua primeira música, o frevo-canção Alegria, gravado por Nuno Roland, na Odeon, em 1940. Em 1937, fez com Capiba o samba canção "Mentira", gravado por Raul Torres na Columbia. Em 1938, Almirante gravou o frevo-canção "De quem é que você gosta?". No ano seguinte, teve o frevo-canção "Aonde está o meu amor", gravado pelo Coro RCA Victor. Em 1941, Gilberto Alves gravou na Odeon seu frevo-canção "Não faltava mais nada".Trabalhou na imprensa pernambucana até 1939, ano em que se transferiu para o Rio de Janeiro (juntamente com o também compositor pernambucano Antônio Maria), onde continuou sua carreira jornalística trabalhando nas redações das revistas "Carioca", "O Cruzeiro" e "A Cigarra" e chegou a ser diretor da Rádio Tamoio, porém depois de passar por inúmeras privações financeiras resolve voltar para o Recife juntamente com Antônio Maria.



Por volta de 1945 viaja para os E.U.A., trabalhando nas cadeias de rádio e televisão CBS e NBC. Em 1947, destacou-se com o samba "Saudade", feito em parceria com Dorival Caymmi e gravado por Orlando Silva. Em 1948, seus sambas-canção "Distância" e "Quando foi, porque foi" e a versão da rumba "Nasci para bailar", com Joel de Almeda foram gravados na Odeon por Aracy de Almeida. Nesse ano, Déo regravou o samba "Saudade", parceria com Dorival Caymmi. No ano seguinte, compôs com Evaldo Rui e Haroldo Lobo o partido-alto "Balada" e o samba "Francamente Claudionor" gravados por Aracy de Almeida que também lançou seu bolero "Desde ontem". Ainda no final da década de 40 fixa finalmente residência no RJ, onde atua, simultaneamente, como radialista, jornalista (diretor da Rádio Tamoio, redator de O Cruzeiro, A Cigarra etc) e compositor e também tem Francisco Alves lançando seu samba "Chuvas de verão", que tornou-se um clássico da música popular brasileira, composição que refletia o clima de confissões que prolongavam ou encerravam romances iniciados nos ambientes das boates. Dircinha Batista gravou o maracatu "Porto Rico" e a toada "Passarinho da lagoa", parcerias com Evaldo Rui. Para o Carnaval de 1950, lançou com Evaldo Rui, na voz de Linda Batista, "Nega maluca", considerado um dos clássicos carnavalescos. A música foi premiada pela prefeitura e pelo jornal "A Noite" e ainda rendeu um dinheiro extra para os autores: a loja A Exposição propôs a exploração de uma fantasia de "Nega maluca" e ele, lembrando-se da personagem Topsy, de "A cabana do pai Tomás", desenhou um modelo que se tornaria recordista de venda - um espalhafatoso vestido vermelho, com bolas brancas, que poderia ser completado com uma carapinha de tranças e rosto da usuária pintado de preto, se necessário.

Nessa época fez parte, com Paulo Soledade e Carlos Niemeyer, entre outros, de um grupo de rapazes alegres e turbulentos, conhecido como Clube dos Cafajestes, e foi em memória a um dos componentes do grupo, o comandante Carlos Eduardo de Oliveira, da Panair do Brasil, morto em um desastre de avião, que fez, com Paulo Soledade, Zum-zum, gravado com grande destaque por Dalva de Oliveira e grande sucesso no Carnaval de 1951. Nesse ano já exercia o cargo de redator da Rádio Nacional, sendo colega de Haroldo Barbosa, Evaldo Rui e Renato Murce. No mesmo ano, Luiz Gonzaga gravou sua mazurca "Chofer de praça", parceria com Evaldo Rui. Em 1951, a convite de Mário Reis que voltava à carreira artística compôs o samba "Saudade do samba". No mesmo ano, seu baião "Conceição do Piancó", parceria com Manezinho Araújo foi gravado pelos Vocalistas Tropicais, o bolero "Basta dizer que sim", com Paulo Soledade, por Aracy de Almeida e o samba-canção "Amor de ontem", com Newton Teixeira foi registrado por Carlos Galhardo. Teve também gravado nesse ano por Stelinha Egg a batucada "O vizinho é do contra", parceria com Nestor de Holanda.

Em 1952, Dircinha Batista gravou a marcha-rancho "Noites de junho" e Linda Batista o samba-canção "Monotonia", parcerias com Paulo Soledade e o conjunto vocal Quatro Ases e Um Coringa o "Coco do Baturité" e "A primeira umbigada" com Manezinho Araújo. Ainda no mesmo ano, teve mais duas composições com Manezinho Araújo gravadas: os baiões "São João, meu São João", por Carmélia Alves e "Umbigada do Sabino", por Jorge Veiga. Também em 1952, destacou-se com o samba-canção "Ninguém me ama", com Antônio Maria, grande sucesso nacional, paradigma do samba de fossa, e que veio a consolidar nacionalmente a carreira da então iniciante Nora Ney, que depois registraria outro sucesso da mesma dupla, "Preconceito". No ano seguinte, a cantora e futura apresentadora de TV Hebe Camargo gravou o samba "Eu não sou Deus", parceria com José Roy e Linda Batista o samba "Meu pecado não", com Paulo Soledade e o samba-canção "Não zombes de mim". Nesse ano, Jorge Veiga gravou na Continental o samba "Podem falar", com Evaldo Rui e Lúcio Alves o samba "Procurando meu bem", com Bruno Gomes, também na Continental. Nessa época, produziu o programa "Uma estrela ao meio-dia", com Dircinha Batista na Ráio Nacional do Rio de Janeiro.



Em 1954, teve outras duas composições gravadas por Linda Batista: os sambas "Vergonha", com Ari Cordovil e "Calo na mão", com Ari Cordovil e Arnô Canegal. Nesse ano, Francisco Carlos lançou para o carnaval a marcha "Morena do brinco dourado", parceria com José Roy e Anísio Bechara gravada em fins do ano anterior.

Em 1955, o Trio de Ouro gravou o samba "Tudo é samba", parceria com Herivelto Martins. No mesmo ano, seu clássico samba-canção "Ninguém me ama", com Antônio Maria, recebeu interpretação do cantor e ator negro Nelson Ferraz para o LP "Brasiliana - Teatro folclórico brasileiro" da gravadora Columbia.

Em 1956, teve o baião "Vapô de Carangola", parceria com Manezinho Araújo, gravado por Carmélia Alves na Copacabana, o samba-canção "Pode dizer", gravado por Linda Batista na RCA Victor, e o samba-canção "Siga", com Hélio Guimarães lançado por Cauby Peixoto no LP "Você, a música e Cauby".

Em 1957, Jorge Veiga gravou na Copacabana o samba "Palhaço", parceria com Ari Cordovil, Neusa Maria na Sinter o samba-canção "Não é não". E Cauby Peixoto na Columbia e Neusa Maria na Sinter o bolero "Siga", parceria com Hélio Guimarães, e que seria muito regravado posteriormente. Ainda neste mesmo ano passou a trabalhar na televisão, além de continuar escrevendo na imprensa carioca, e teve uma seleção de suas músicas gravadas num LP da Copacabana - Músicas e poesias de Fernando Lobo - que contou com a participação de vários intérpretes. Ainda em 1957, passou a trabalhar na televisão, além de continuar escrevendo na imprensa carioca.

Em 1967, classificou "Diana pastora" entre as finalistas do III FMPB, da TV Record de São Paulo, festival do qual saiu vencedor seu filho Edu Lobo, com a música "Ponteio". Nos anos 1970, Caetano Veloso regravou o samba "Chuvas de verão".

Na década de 1980, sua versão da rumba "Nasci para bailar", foi regravada por Nara Leão. Esta música por sinal, foi cantada pela primeira vez por Marlene, com letra original diferente da gravada por Aracy e Almeida, segundo relato da própria cantora no show "Marleníssima", biografia musical estreada no Teatro Rival em junho de 2002, com roteiro de R. C. Albin. Aliás, o mesmo roteirista incluiu "Ninguém me ama" e "Preconceito" em dois shows em homenagem a Nora Ney, o primeiro, "Estão voltando as flores", em 2001, no Teatro de Arena, também gravado pela Som Livre e o segundo "Canto para Nora Ney", estreado em outubro de 2003 no Teatro Ipanema, no Rio. Em ambos as músicas foram interpretadas por Carmélia Alves e Carminha Mascarenhas.

A partir da década de 1970, foi produtor e apresentador de programas de MPB na TVE do Rio de Janeiro, além de entrevistador do projeto "O som do meio dia", no Teatro Cândido Mendes, no centro histórico do Rio atuação que manteve até quase sua morte, em 22 de dezembro de 1996.

Para quem não sabe Fernando Lobo é o pai do compositor Edu Lobo e avô do cantor Bena Lobo.


Obra
Bom é querer bem - Dolores Duran (1954)
Chofer de praça, c/Evaldo Ruy - Luiz Gonzaga (1950)
Chuvas de verão - Francisco Alves (1949)
Desde ontem - Aracy de Almeida (1949)
Distância - Aracy de Almeida (1948)
Meu pecado, não c/Paulo Soledade - Linda Batista (1953)
Nasci para bailar, c/Joel de Almeida - Aracy de Almeida (1948)
Nêga maluca, c/Evaldo Ruy - Linda Batista (1950)
Ninguém me ama, c/Antônio Maria - Nora Ney (1952)
Quando foi, por que foi? - Aracy de Almeida (1948)
Preconceito, c/Antônio Maria - Nora Ney (1952)
Quanto tempo faz, c/Paulo Soledade - Nora Ney (1952)
Saudade, c/Dorival Caymmi - Orlando Silva (1947)
Siga, c/Hélio Guimarães - Cauby Peixoto (1957)
Tamanqueiro, c/Manezinho Araújo - Marlene (1951)
Vai querer, c/Hianto de Almeida - Elizeth Cardoso (1960)
Zum-zum, c/Paulo Soledade - Dalva de Oliveira (1951)


Fontes consultadas:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Lobo
http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/04/fernando-lobo.html
http://www.pe-az.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1424&Itemid=142
http://www.dicionariompb.com.br/fernando-lobo

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