sábado, 17 de dezembro de 2011

CLARISSA MOMBELLI - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Esta cantora e compositora gaúcha nascida em Tapera (município que fica a cerca de 278 km da capital Porto Alegre) vem na estrada divulgando o seu primeiro álbum batizado de "Volta no tempo", um trabalho essencialmente autoral que retrata a vida e as suas nuances.

Por Bruno Negromonte


Recentemente o público do Musicaria Brasil teve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra desta cantora e compositora que vem conquistando o respeito da crítica e do público por onde tem passado apresentando as canções da turnê do seu primeiro álbum "Volta no tempo". A matéria intitulada OS CICLOS DA VIDA A PARTIR DO SUAVE CANTO DE CLARISSA MOMBELLI não só traz um pouco sobre a biografia da artista como também faz algumas abordagens acerca da essência das composições desse seu debute fonográfico. Vale salientar que este trabalho vem destacando o nome de Clarissa Mombelli em âmbito nacional, merecendo destaque as aparições do seu nome em emissoras de TV do sudeste do país como a MTV (com o lançamento do vídeo-clipe "Porque Eu Não Sei Mais Dizer que Não") e Globo (Vitrine do Faustão).

Vale destacar que mesmo sendo fã declarada dos Beatles, Clarissa Mombelli traz consigo não só influências dos garotos de Liverpool, mas da música brasileira como um todo de uma época em que a carreira artística não passava de algo remoto como destaca nesta entrevista. Foi a partir dessa junção diversificada que ela alimentou seu sonho e iniciou sua carreira artística como tantos outros contemporâneos, apresentando-se nas bares e noites gaúchas, e essa experiência talvez tenha sido de grande valia para moldar tanto a ela quanto a sua carreira.


A lavra de canções presentes no álbum se fazem reflexivas por si só. De maneira intencional ou não alguns os conflitos e indagações humanas estão descritas nos versos e melodias de "Volta no tempo" embalado por seu agradável canto. Tudo isso a faz, dentre os novos artistas gaúchos, digna de destaque. E é esse destaque da cena contemporânea gaúcha que gentilmente nos concedeu esta pequena entrevista. Clarissa se aproxima um pouco mais do seu público respondendo a indagações sobre sua vida, início de carreira entre outras coisas. Fala inclusive sobre a experiência internacional vivida ao apresentar na Europa e as influências nacionais que norteiam sua obra.


Você tem uma formação onde a aprendizagem do violão e a audição de músicas nas ondas do rádio vem desde criança. Houve algum estímulo ou alguém exerceu alguma influência nessa sua predileção por música?

Clarissa Mombelli - Acredito que para todas as pessoas que nascem com um dom musical, é um tanto natural prestar atenção a tudo o que remete à ela. Como vc bem falou, desde pequena eu tinha facilidade em decorar as músicas do rádio e também a tirar no pianinho infantil as trilhas sonoras das propagandas que eu ouvia na TV. Hoje o instrumento que eu toco é violão, mas já estudei outros instrumentos: fiz aulas de piano, violão e canto quando era criança, fazia ainda aula de dança, o que tem total relação com o aprendizado musical de tempo, ritmo e compasso. Se pensarmos por esse lado, a família incentivou muito esse meu desenvolvimento musical me matriculando nessas aulas e dando força sempre que surgia uma oportunidade de me apresentar.


Quem você costumava ouvir nesse período que hoje, de certa forma, influencia o seu trabalho?

CM - Os primeiros discos que apareceram lá em casa, em um período que eu comecei a dar mais atenção à musica foram os da Elis Regina, Beatles e Queen. Ouvia bastante, e acho que são três referências que estão dentro de mim e que me influenciam na construção musical. Rita Lee é uma cantora que eu admiro muito e que sinto um carinho especial, foi assistindo a um show dela que eu decidi: “eu quero isso pra minha vida também”. Quando adolescente ouvia muito rock, de todos os tipos, o período era propício a este estilo musical, os amigos ouviam muito e eu acabava descobrindo as musicas através deles. Depois, com uns 18 anos a fase foi de total Beatlemania, ouvia só isso enlouquecidamente, todos os discos, de todas as fases. Depois vieram os Stones, David Bowie, Lou Reed e as bandas dos anos 60 e 70. Detro do cenário nacional sempre ouvi de tudo dentro da MPB e gosto muito de artistas como Marisa Monte, Vitor Ramil, Zeca Baleiro, Ney Matogrosso, Cassia Eller, entre muitos outros talentosíssimos.




Quando você saiu de Tapera (cidade que fica a 278 km da capital Porto Alegre) para a capital no intuito de estudar, no fundo já havia o desejo de tentar dar início a uma carreira artística em um contexto bem mais propício que uma cidade do interior?

CM - Não saí de Tapera exatamente com esse objetivo, acredito que eu tive um pouco de demora para amadurecer essa ideia. Eu tinha sonhos bem malucos em relação a isso e bem mágicos, do tipo “alguém vai me descobrir um dia e minha carreira decolar”... bem surreal, sabe! aquela coisa de ficar sonhando, sonhando e não fazendo muitas coisas para a carreira acontecer de verdade. Enquanto eu sonhava com isso, estudava publicidade e ia seguindo com minha vida, comecei a trabalhar na área da publicidade e permiti que minha rotina de trabalho se organizasse, sem fazer muito esforço para a música ganhar mais espaço. Mas como o desejo dentro de mim era maior do que simplesmente viver uma vida trabalhando em alguma coisa que não era o que eu amo de verdade, e com a maturidade, eu resolvi despertar e registrar o que eu escrevia, e já comecei a compor. Neste período eu me apresentava em bares com uma banda que eu tinha, e que me deu a oportunidade de viver um pouco esse lado musical. A partir de então foi partir para conhecer as pessoas certas que me impulsionaram na carreira de uma vez por todas, e o processo foi acontecendo naturalmente, agora com os pés no chão e a mente focada, cada oportunidade gera outra e as coisas estão indo muito bem.


Quando foi o pontapé inicial para a carreira depois de sua chegada em Porto Alegre?

CM - Acredito que sejam dois os fatores determinantes. Um foi começar a tocar com a banda de músicas cover, que me permitiu viver um pouco a rotina da música, e me deu segurança para viabilizar um projeto meu. O outro foi resolver ir atrás das pessoas que pudessem me ajudar a gravar as minhas músicas, comecei faculdade de música, fiz um curso de produção musical, e logo conheci a produtora Marquise 51 em Porto Alegre, e o Eduardo Dolzan, que foi a pessoa que eu escolhi para produzir o disco e que fez um trabalho ótimo. O Eduardo tratou de convidar músicos exelentes como o Maurício Chaise para os violoes e guitarras, Luciano Leães para o piano e escaleta. O Diogo Gomes que gravou as percussões já tocava comigo naquela banda do início. Mais alguns convidados, e o disco ficou pronto em mais ou menos 1 ano entre produção, gravações, mixagem e masterização.


As referências do rock gaúcho em âmbito nacional são bandas como Acústicos & Valvulados, Bidê ou Balde e Fresno, onde a predominância masculina é algo extremamente perceptível. Você, enquanto mulher, passou por algum problema ou dificuldade para se impor enquanto artista no cenário musical gaúcho?

CM - Acho que esse preconceito relacionado ao sexo não existe muito não. A própria Bidê ou Balde começou com duas integrantes femininas na banda, que, na minha opinião, fizeram o diferencial para que a banda desse certo. Acredito que as mulheres tem lutado direitinho pelo seu espaço. Temos cantoras ótimas em Porto Alegre, a Izmalia que é simbolo do rock feminino gaúcho, a Gisele de Santi com sua MPB, que foi desbravar o mundo novo em São Paulo, A Luiza Caspari que é uma gracinha e tem uma voz linda, Fernanda Copatti, entre tantas outras. O Rio Grande do Sul sabe valorizar isso, principalmente a mídia impressa. As rádios aqui tem uma política um pouco difícil para quem quer lançar sua carreira, mas como no Brasil todo, são poucas aquelas rádios que dão abertura para o novo, até que alguma coisa especial aconteça, como aconteceu com a Fresno, por exemplo que estourou na Internet primeiro para depois conseguir emplacar nas rádios. Acústicos & Valvulados é uma banda que eu adoro, tem um trabalho lindo, com composições muito maduras e de letras gostosas de se ouvir, eu participei da gravação do último videoclipe deles, da música “Céu da Noite” (como vocês podem conferir logo abaixo). Acho que independente do sexo, tá todo mundo aí lutando e se ajudando, as dificuldades existem com certeza, como para todos os trabalhos que estão sendo construídos, mas eu só tenho a agradecer a forma que o pessoal do sul acolhe meu trabalho.




“Volta no Tempo” é um trabalho essencialmente autoral. Como se deu a escolha desse repertório?

CM - Eu não tinha assim um número enorme de músicas para a produção do disco. Deviam ser umas 15 ou 16 músicas que eu tinha composto e que achava que poderiam ser gravadas. A inspiração é algo raro em dias de correria, no período que o disco começou a ser feito eu trabalhava com publicidade, o que me tomava quase todo o tempo. Eu estudei as músicas e algumas eu acabei deixando de fora. Eu e o Eduardo definimos a melhor forma de arranjo para as escolhidas, eu no violão e ele na bateria em um primeiro momento. O que funcionou melhor a gente seguiu adiante e gravou.


Você considera o álbum “Volta no Tempo” um trabalho conceitual?

CM - Depois de selecionar o repertório do disco, eu percebi que existia uma ligação no que era dito nas músicas escolhidas. Era como se elas estivessem contando uma história de vida. A primeira musica do disco, a “Hoje” fala sobre o nascimento, a letra dela é a única que eu não escrevi, é uma poesia do meu pai que eu musiquei. A última música se chama “Nascer de Novo” e fala sobre a morte. E no meio desse caldeirão de palavras e sentimentos à flor da pele, tem muitas músicas que, de uma forma ou outra, acabam voltando no tempo, ou para algumas fases da minha vida, com letras que eu considero que remetem para histórias e momentos da vida dos ouvintes também. São temas como a infância e o amadurecimento frente à tanta coisa que vai acontecendo nas nossas vidas. Então, em função disso, o disco acabou se tornando conceitual, mas não nasceu já com essa ideia, ela apareceu depois do repertório escolhido.


Ainda há tempo para conciliar a atividade de publicitária? Como você faz pra conciliar a criação das peças publicitárias com a música?

CM - No ramo publicitário eu trabalhava com mídia e produção, e, no final das contas, a experiência adquirida me ajudou a pensar em minha carreira de uma forma mais empresarial. Muitos artistas não se dão conta que existem fatores importantes a serem cuidados fora o “fazer música em si”. A faculdade de comunicação me deu uma base importante para perceber que no final das contas eu, além de artista, sou um produto que precisa ser vendido, propagado e bem trabalhado para poder dar certo. Onde isso tudo vai parar eu não sei, mas tudo o que eu posso eu faço. Claro que a melhor parte disso tudo está em criar música, na inspirção, depois na gravação, e em ver o trabalho ganhando vida para ser propagado. Hoje em dia, além de música, eu trabalho em uma revista chamada Agriworld, com marketing e publicidade, mas eu tenho bastante tempo para conciliar as coisas.


“Volta no Tempo” tem alçado voos cada vez mais distantes, como por exemplo, Londres e Espanha (lugares nos quais você chegou inclusive a se apresentar em turnê ao longo de 2010). Como tem sido a receptividade desse seu trabalho fora do país?

CM - Eu fui recebida com muito carinho nos dois países, e foi uma emoção muito grande voar para a Europa pela primeira vez levada pelo meu trabalho musical. Na Espanha me apresentei em Torrelodones, uma cidade nas redondeazs de Madrid. O show teve a participação do Eduardo Dolzan que, além de ter produzido o disco, toca bateria comigo, e do Sherpa, um músico espanhol, ex integrante da banda Baron Rojo, que teve muito destaque na Espanha nos anos 80. Em Londres me apresentei no Hotel Plaza Westminster, no Barraco Café e no Made In Brasil. Todos os shows foram muito lindos, emocionantes e especiais. É complicado continuar um trabalho de divulgação em outro país não estando lá para realizar este projeto, mas garanto que em breve quero retornar para continuar esse trabalho. O mercado internacional respeita muito os músicos e valoriza as produções e os trabalhos musicais. O Brasil tem uma fatia de mercado legal lá fora, principalmente quando se fala em Bossa Nova, mas na Europa tem tem espaço para todos os estilos, com certeza.



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1 comentários:

Anônimo disse...

Clarissa encanta com suas canções.
Pura emoção! São letras que nos levam a pensar. Siga em frente Clarissa, pois seu trabalho é muito belo!

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