Comemorando duas décadas de carreira, Renato Barushi apresenta uma prévia do seu novo projeto fonográfico a ser lançado em 2021
Por Bruno Negromonte
Estamos a viver tempos estranhos. Um período onde a maior manifestação de amor é não demonstrá-lo como de fato muitas vezes gostaríamos de fazer; uma fase onde se fechar para o mundo real e para as pessoas pode ser visto como prova inconteste de respeito e carinho pelo outro em uma conjuntura onde não se é recomendado a prática do abraço, do beijo ou qualquer espécie de contato físico. Estamos passando por uma época onde, apesar desse cenário adverso ao afeto, a expectativa para um recomeço social está carregada de uma perspectiva que preza indubitavelmente pela leveza e empatia pelo outro em uma nova sociedade que ansiamos por encontrar quando tudo passar. Não podemos negar que tais cenas jamais seríamos possíveis imaginar a não ser através de filmes, livros ou roteiros de ficção. No entanto, a resiliência da arte e o alcance da sensibilidade daqueles que a produzem (que jamais tiveram rédeas, limites ou restrições) ainda são capazes de suplantar toda esta adversidade existente com habilidade, astúcia e uma perspicácia inerente e singular. Só quem tem tal emotividade é capaz de enxergar esse amor, digamos, improvável. Um demonstração de sentimento que desabrocha quando nada mais se espera tal qual o elogio lírico e irresistível que o escritor colombiano Gabriel García Marquez faz a um amor improvável no clássico "O Amor nos Tempos do Cólera", um romance escrito há 35 anos atrás e que conta a história do amor de Florentino por Fermina, que ultrapassa meio século quase sem nenhum contato. O amor nos tempos do corona vírus também pode ser surpreendente como é possível perceber dentre vários exemplos, na mais recente produção deste artista cataguasense já apresentado anteriormente aqui e que agora retorna ao Musicaria Brasil.
Com 20 anos de estrada (recentemente completados), Renato Barushi nasceu em Minas Gerais (mais precisamente em Cataguases, cidade da zona da mata mineira localizada a cerca de 320 km da capital Belo Horizonte). De família grande e apreciadora da boa música, Renato desde a infância já buscava desenvolver sua aptidão artística, e como gostava de cantar, aos 10 anos, já "brincava" de escrever músicas. Como estímulo, aos 11 anos ganhou o seu primeiro violão, onde a partir daí resolve iniciar de fato a sua formação musical indo estudar no conservatório musical existente em sua cidade (vem desse período as suas primeiras referências musicais e que o acompanham até os dias atuais como se é perceptível na audição do seu álbum de estreia). Aos 17 anos, o pretenso artista percebe que Cataguases já tinha ficado pequena para os seus anseios e resolve aventurar-se em Belo Horizonte. Chegando à capital o seu aperfeiçoamento vem com as diversas experiências vividas, dentre as quais, a sua passagem pela banda ''Machinari'', que corroborou bastante para o desenvolvimento do seu trabalho autoral. Com o fim da banda, Barushi decidiu que já era hora de partir sozinho rumo ao seu sonho e para isso contava, além do seu talento, um determinismo invejável que o levou, pouco tempo depois, à gravação do seu primeiro álbum "Renato e o mercado", projeto impregnado de uma diversidade rítmica que não o permite cair no lugar-comum e que acabou por chamar a atenção do júri do 24º Prêmio da Música Brasileira, que pré-selecionou o álbum para concorrer ao prêmio daquele ano. Um raro e excelente feito para um álbum de um coadjuvante no universo fonográfico e que só se viu inserido nesse contexto porque lançou-se de maneira independente.
Como dito, o caminho já vem sendo traçado a algum tempo, pois são duas décadas de carreira onde soma-se aí, além do álbum "Renato e o mercado", um disco que lançado em 2017 traz por título "Remendos" (projeto fonográfico que também foi indicado a diversos prêmios, dentre eles o "profissionais da música"). Agora, em comemoração a todo o caminho já percorrido, o artista dá mais um passo em sua trajetória ao apresentar para o seu público uma ode ao seu filho mais velho. Gravada no Estúdio Flex (BH), este single que divulga este novo projeto trata-se de uma surpresa para o filho Marcelo que completou 19 anos na data do lançamento, 15 de junho de 2020 (curiosamente a mesma idade que Renato tinha quando pisou nos palcos profissionalmente pela primeira vez, em fevereiro de 2000, na cidade natal de seu filho, Abaeté-MG). Com título homônimo ao seu próximo projeto fonográfico (um EP a ser lançado até o primeiro semestre de 2021 e que ainda contará com mais 4 faixas) a faixa autoral "Eu amo um cara" conta com a participação dos músicos Ricardo Gomes (Baixo), Daniel Diniz (teclado), Igor Coelho (bateria) e Fabinho Gonçalves (guitarra) sob a produção musical de Paulo Maitá. Vale ainda o registro de que este pontapé inicial do vindouro projeto além de já se encontrar à disposição dos ouvintes nos principais aplicativos de música também ganhou um clipe (disponível no Youtube) que teve filmagem e direção do próprio Barushi, com edição e finalização de Douglas Oliveira. Já as fotos, feitas através de um ensaio remoto por chamada de vídeo, ficaram a cargo de Marcelo Macaue.
Vinte anos de dedicação à arte não são 20 dias... E este embasamento existente tanto no palco quanto na vida foi extremamente benéfico quando permitiu ao artista mineiro essa, digamos, lapidação de toda a sensibilidade presente e expressada na canção. Tal apuramento se sobressai por mais que haja riffs e outras características que destoam daquilo que estamos habituados a ouvir nas canções que geralmente retratam o amor e seus nuances. O single permite-nos a espera de um projeto coerentemente arrojado tal qual os álbuns anteriores a julgar por esta faixa de divulgação que faz da canção mais que uma balada romântica ao trazer simbolismos a partir do próprio título. "Eu amo um cara" sugere as mais distintas formas de amor existentes levando a um amplo e irrestrito caminho interpretativo (o que no fundo acaba por traduzir o verdadeiro sentido do amor, que é unicamente poder existir em cada um de nós sem amarras ou rótulos). "Eu amo um cara" é isso, fio condutor para a expressão do amor, este mesmo sentimento que, de modo dialógico, é capaz de abranger essa forte afeição que faz parte da natureza humana. Arraigada de simbolismo a faixa permite tudo isso a partir de uma declaração de amor aparentemente tão comum, mas que muitos não tem habilidade, talento ou outras características que não permitem tal expressão. Se Rock'n'roll é atitude, em tempos em que o amor se faz urgente e necessário, Renato Barushi é roqueiro da cabeça aos pés ao declarar-se de modo tão singular a este privilegiado filho.
Maiores Informações:
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