Anescar Pereira Filho (ou Anescarzinho do Salgueiro), foi além de cantor, compositor e instrumentista.
Nascido no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro, mudou-se, ainda pequeno, para um barraco feito pelo pai na Floresta da Tijuca, na parte onde seria mais tarde o Morro do Salgueiro.
Sobre o morro, disse Anescarzinho: "Isso aqui se chamava Morro dos Trapicheiros, pois existia um trapiche (armazém) embaixo. O proprietário da maior parte dessa área era José Salgueiro, freguês da barraca de sorvete e peixe do meu pai. Foi ele que sugeriu o nome do atual morro". Seu pai foi um dos pioneiros do samba no Morro do Salgueiro, fazendo da sua casa ponto de encontro de sambistas. Cursou apenas o primário e foi funcionário de uma fábrica de tecidos.
Em 1949, compôs o seu primeiro samba-enredo, "Maravilhas do Brasil", para a Escola Unidos do Salgueiro, após um pedido do então Diretor da Escola, Manuel Macaco. Daí em diante, passou a viver exclusivamente de música, tendo, contudo, sido funcionário da extinta SUNAB por três anos, quando trabalhou prestando serviço para Ricardo Cravo Albin, então diretor de divulgação do órgão.
Em 1949 a Escola de Samba Unidos do Salgueiro desfilou com um samba de sua autoria, obtendo o quinto lugar. No ano seguinte, compôs com o então Diretor de Harmonia da escola, Noel Rosa de Oliveira, o samba-enredo "Mártires da Independência", que conquistou o sexto lugar no desfile daquele ano.
Em 1953, com a fusão das escolas Depois Eu Digo, Azul e Branco e Unidos do Salgueiro, integrou a Ala dos Compositores do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Compôs com Noel Rosa de Oliveira e Walter Moreira, em 1960, o samba-enredo "Quilombo dos Palmares", com o qual a escola obteve obteve o primeiro lugar do Grupo 1 no desfile daquele ano. Por essa época, já se tornara famoso devido ao samba de quadra "Água de Rio" (Só resta saudade), composto em parceria com Noel Rosa de Oliveira, com quem também dividiria, em 1962, a autoria da música "Descobrimento do Brasil". No ano seguinte, com Fernando Pamplona como carnavalesco, foi um dos responsáveis pela inovação que o Salgueiro promoveu em relação à escolha dos enredos, que se limitavam a mostrar episódios oficiais da História do Brasil. O Salgueiro apresentou naquele ano o enredo "Chica da Silva", com samba-enredo de Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, abordando heróis do povo, assim como aconteceria mais tarde com Chico-Rei e Zumbi.
Ao lado de Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Paulinho da Viola, Araci Cortes e Nelson Sargento participou, em 1965, do musical "Rosa de Ouro", montado e dirigido pelos produtores Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, que lançou a cantora Clementina de Jesus. Do show, foram editados dois LPs: "Rosa de Ouro" e "Rosa de Ouro Volume II", em 1965 e 1967, respectivamente. Neste mesmo ano de 1965, Zé Kéti, a pedido da gravadora Musidisc, organizou com alguns integrantes do musical "Rosa de Ouro" o conjunto A Voz do Morro, integrado por Anescarzinho, Jair do Cavaquinho, Oscar Bigode, Paulinho da Viola, Zé Cruz e Zé Kéti. Ainda neste ano, o grupo gravou pela Musidisc o primeiro LP, "Roda de samba". Ainda em 1965, Elizete Cardoso no LP "Elizete sobe o morro", interpretou de sua autoria "Água de rio", parceria com Noel Rosa de Oliveira. No ano seguinte, em 1966, também pela Musidisc, foi lançado o LP "Roda de samba volume II", que contou com a participação de um novo integrante, Nelson Sargento.
Em 1967 o conjunto A Voz do Morro lançou o terceiro e último disco, "Os sambistas". Neste mesmo ano passou a integrar o grupo Os Cinco Crioulos, com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e Nelson Sargento, que gravou pela Odeon o seu primeiro LP, "Samba... no duro" e, no ano posterior, em 1968, ainda com a formação original, lançou o segundo LP, "O samba... no duro volume II", pela Odeon. Participou da "1ª Bienal do Samba", da TV Record, sendo sua composição "Dona Beja" (c/ Ivan Salvador e Noel Rosa de Oliveira), defendida por Jorge Goulart. Neste mesmo ano, integrando o conjunto Rosa de Ouro, participou do show "Mudando de conversa" (c/ Clementina de Jesus, Cyro Monteiro e Nora Ney), para o qual foi produzido o disco homônimo.
Em 1969, com a substituição de Paulinho da Viola por Mauro Duarte, o grupo Os Cinco Crioulos lançou pela mesma gravadora seu terceiro e último LP, "Samba... no duro volume III".
Em 1971 o grupo Os Cinco Só gravou de sua autoria "O rei mandou" e "Ê Bahia", ambas em parceria com Ivan Salvador. Ainda na década de 1970, a dupla João Bosco e Aldir Blanc compôs o samba "Siri recheado é o cacete" em sua homenagem. Segundo Aldir Blanc, "Inventei vários pratos com siri, que meu compadre babava e não podia comer, por ordens médicas".
Em 1977 foi lançado o disco "Elizete Cardoso, Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e Época de Ouro - Fragmentos inéditos do histórico recital realizado no teatro João Caetano em 19 de fevereiro de 1968". Neste LP foi incluída sua composição "Água de rio" (c/ Noel Rosa de Oliveira).
Em 1992, o escritor e compositor Nei Lopes enfatizou a sua importância no cenário musical brasileiro em seu livro "O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical".
Seu último parceiro foi o poeta Célio Khouri, com quem compôs 11 sambas (alguns ainda inéditos), entre eles "Amor flutuante", gravado na coletânea "Conexão carioca volume 2", produzida por Euclides Amaral para o selo Guitarra Brasileira e lançanda no ano 2000. No disco, que contou com a apresentação de Ricardo Cravo Albin, Célio Khouri interpretou sozinho o samba, pois Anescarzinho do Salgueiro falecera poucos meses antes da gravação, da qual queria participar ao lado do parceiro. Neste mesmo ano de 2000 foi lançado o CD "A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes - Paulinho da Viola e os Quatro Crioulos", CD no qual foram reunidos os integrantes do grupo Os Cinco Crioulos em show gravado em julho de 1990 no programa "Ensaio", quando na época teve como convidado Paulinho da Viola, que para sua surpresa, foram também convidados os outros integrantes (Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Elton Medeiros e Nelson Sargento), em uma homenagem aos 25 anos do antológico show "Rosa de Ouro". O disco foi gravado ao vivo, com conversas e ainda execução de composições da época, entre elas "Quatro crioulos" (Joacyr Santana e Elton Medeiros), "Água de rio" (Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira), "O sol nascerá" (Cartola e Elton Medeiros), "No meu barraco de zinco" (Jair do Cavaquinho e Jamelão), "Agoniza mas não morre" (Nelson Sargento), "Cântico à natureza" (Alfredo Português, Jamelão e Nelson Sargento), "Pecadora" (Jair do Cavaquinho e Joãozinho da Pecadora) e "Rosa de ouro", de Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho.
No ano 2000 sofreu um enfarto e faleceu pouco antes do carnaval, sendo sepultado no Cemitério do Caju.
No ano de 2002, Eliane Faria (sua sobrinha - filha de Paulinho da Viola) interpretou "Amor poente" (c/ Célio Khouri) no disco "Conexão carioca 3", produzido por Euclides Amaral e apresentado pelo poeta e letrista Sergio Natureza. Neste mesmo ano, foi lançado o livro "Velhas Histórias, memórias futuras" (Editora Uerj) de Eduardo Granja Coutinho, no qual o autor faz várias referências ao cantor e compositor.
Em 2003, o disco "Conexão carioca 3 Bônus" foi relançado pelo selo Peixe Vivo Produções, sendo incluídas quatro faixas-bônus, entre as quais duas nova gravação de "Amor flutuante", interpretada por seu parceiro Célio Khouri e ainda, "Amor poente", interpretada por Eliane Faria.
Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB.
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