segunda-feira, 12 de setembro de 2016

PAUTA MUSICAL: AS ESTREIAS DE CARTOLA

Por Laura Macedo



A genialidade de Cartola (1908-1980) sempre merecerá os mais calorosos aplausos. O objetivo deste post é destacar algumas das estreias de Cartola: Primeira Composição para a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira; Primeira Composição gravada; Primeiro Hits como compositor; Primeira gravação (voz); Primeiro Compacto Duplo gravado; Primeira Gravação Solo para o mercado fonográfico brasileiro; Primeiro Disco Solo gravado, bem como os demais discos solos.

A Primeira Composição de Cartola para o desfile da Escola Estação Primeira de Mangueira, em 1928.

Chega de demanda” (Cartola) # Cartola.


Chega de demanda
Chega!
Com este time temos que ganhar
Somos da Estação Primeira
Salve o Morro de Mangueira



A Primeira Composição de Cartola Gravada, em 1929, pelo cantor Francisco Alves.


Que infeliz sorte” (Cartola) # Francisco Alves. Disco Odeon (10519-A) / Matriz (3095). Lançamento (dezembro/1929).



Que infeliz sorte !
que infeliz sorte!
que vale que o meu coração
pra resistir esta paixão é forte.
se não passava
as maiores dores
pela ingratidão
que me fez Dolores.

Passas por mim
rindo, cantando
dás com ombros
arrastando os sapatos
me debochando
e dizes para as outras :
é só para moer
em amor não acho prazer.

Tu não mereces
ser recompensada
me enganaste
e dizes à todos:
estou vingada!
e também é bem fraco
o juízo teu
em acreditar no amor meu.


É o próprio Cartola que relata a historinha de bastidores dessa composição.

Um carro último tipo estava encostado no pé do morro procurando por mim. Quis saber o que se tratava e o elegante motorista não escondeu. Era o cantor Mário Reis que queria comprar um samba meu. Achei pura maluquice. Então samba se vende? Pensei ganhar uns dez mil-réis, mas o amigo Cláudio mandou que eu pedisse quinhentos. Conversei com o Mário e, envergonhado, pedi trezentos mil réis por ‘Que infeliz sorte’, e ele pagou na hora, sem titubear. Não gravou, mas repassou o samba para Francisco Alves, que acabou se tornando meu maior freguês”.

Cartola ao contrário de outros compositores da época não vendia a autoria das músicas, mas apenas o direito sobre a vendagem dos discos, razão pela qual seus sambas continuavam a sair assinados por ele.

Francisco Alves, em 1933, gravaria o samba “Divina dama”, um dos Primeiros Hits de Cartola como compositor. Segundo o pesquisador Samuel Machado Filho, ele a compôs em homenagem a uma jovem que conhecera durante um carnaval.

Divina dama” (Cartola) # Francisco Alves. Disco Odeon (10977-B) / Matriz (4575). Gravação (3/1/1933) / Lançamento (janeiro/1933).


A Primeira Gravação com a Voz de Cartola
foi no Disco Native Brazilian Music - Vl. 2 / Faixa 5.


O referido disco não foi comercializado na época no Brasil e trazia informações incompletas sobre o nome das composições, seus intérpretes e autores. Cartola conta que somente chegou a ouvir sua estreia no referido disco vinte anos depois. “O pagamento pela gravação chegou um ano atrasado, e era suficiente para comprar três maços de cigarro de má qualidade”. Em 1987, o disco foi editado pelo Museu Villa-Lobos e, finalmente, lançado no Brasil.

Quem me vê sorrir” (Cartola/Carlos Cachaça) # Cartola e Coro da Mangueira. Gravado a bordo do Navio SS Uruguay, entre os dias 7 e 8 de agosto de 1940.



Primeiro Compacto Duplo de Cartola e a sua Primeira Gravação no Brasil pelo selo Mocambo (3087), possivelmente em 1964/1965. Aqui Cartola canta dois sambas de sua autoria: “O sol nascerá” e “Amor proibido”. Um samba de Almeidinha - “Bobagem” e um samba de José Caldas e J. R. de Oliveira - “Não quebre meu tamborim”, acompanhado pela Escola de Samba de Almeidinha (o compositor carioca Aníbal Alves de Almeida).

Amor proibido” (Cartola) # Cartola e Escola de Samba de Almeidinha, 1964/1965.




Cartola participou, em 1968, em duas faixas do LP “Fala Mangueira” cantando juntamente com Odete Amaral, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça, as seguintes composições:

- “Tempos idos” (Cartola/Carlos Cachaça)

- “Ao amanhecer” (Cartola)

- “Alvorada” (Cartola/Carlos Cachaça/Hermínio Bello de Carvalho)

- “Quem me vê sorrindo” (Cartola/Carlos Cachaça)

- “Alegria” (Cartola/Gradim [Lauro dos Santos])





A Segunda Gravação Solo de Cartola para o mercado fonográfico brasileiro, precisamente no dia 26 de outubro de 1970. Disco História da Música Popular Brasileira - Cartola e Nelson Cavaquinho. Gravadora: Abril Cultural / Produtor J. L. Ferrete/Elifas Andreatto, 1970.


Preconceito” (Cartola) # Cartola (voz) / Conjunto de Canhoto/Zé Menezes e vários músicos com destaque para o trombone de Raul de Barros, 1970.


Crime, é mais que um crime
É desumanidade, essa perseguição
É o cúmulo da maldade
Se todo mundo sabe que nós nos casaremos, quer queiram, quer
não
Oh, maldito preconceito
Afasta-te no ajeito, a que nada conseguirás
Por quê, recebemos dos céus a benção de Jesus, que é mensagem de
paz
Nosso amor não acaba mais
Viveremos sempre em paz


Cartola e Dona Zica comandaram o histórico Zicartola
(detalhes clicando no nome Zicartola)


Dona Zica e Cartola no Programa MPB Especial


Peito vazio” (Cartola/Elton Medeiros) / “O sol nascerá [A sorrir]” (Cartola/Elton Medeiros) # Cartola no programa MPB Especial / TV Cultura, gravado em 23/3/1973, dirigido pelo Fernando Faro.


Cartola gravou seu Primeiro Disco Solo, pela gravadora Marcus Pereira, em 1974


Segundo Arley Pereira, o mestre Cartola demorou a gravar, mas contou com um baita time de craques. Produção de J. C. Botezelli (Pelão), texto da contracapa assinado pelo crítico Sérgio Cabral e grandes instrumentistas, o disco foi escolhido como o melhor disco do ano.


Tive sim” (Cartola) # Cartola (voz) / Canhoto (cavaquinho) / Dino 7 Cordas (arranjos/violão de 7 cordas) / Gilberto D’Ávila (surdo/pandeiro) / Jorginho do Pandeiro (caxixi/pandeiro) / Meira [Jayme Florence] (violão de 6 cordas) e Wilson Canegal (ganzá).




Coube a Juarez Barroso produzir o Segundo Disco Solo de Cartola, em 1976.

As rosas não falam” (Cartola) # Cartola (voz) / Altamiro Carrilho (flauta) / Canhoto (cavaquinho) / Dino 7 Cordas (violão de 7 cordas) / Elton Medeiros (ganzá) / Meira (violão) / Nenê [Realcino Lima Filho] (agogô).


Segunda edição revista e ampliada da “Nova Coleção da Música Popular Brasileira”, 1977.


O mundo é um moinho” (Cartola) # Cartola (voz) [destaque para a flauta de Altamiro Carrilho e o violão de Guinga, ambos participantes do conjunto regional de acompanhamento.


Disco Verde que te quero Rosa - 1977


Cartola e Lúcio Rangel

Entre os críticos musicais que saudaram o mestre Cartola, em seus discos, coube a Lúcio Rangel fazê-lo neste Terceiro Disco Solo de Cartola (1977). Autor do apelido “Divino”, Lúcio acompanhou a carreira de Cartola desde o início dos anos de 1930.

Autonomia” (Cartola) # Cartola (voz) / Aizink Meilach Geller (cordas) / Hélio Capucci (violão) / Radamés Gnattali (arranjos/piano) / Vidal [Pedro Vidal Ramos] (contrabaixo).


Disco Cartola 70 Anos - 1979

Sérgio Cabral foi o produtor responsável pelo Quarto e Último Disco Solo de Cartola, em comemoração aos seus 70 Anos de existência.

A mesma história” (Cartola/Elton Medeiros) # Cartola (voz) / Alceu Maia (cavaquinho) / Cuscus, Elizeu Felix, Luna, Marçal (ritmo) / Luizão Maia (contrabaixo) / Neco [Daudeth Azevedo] (violão) / Nelsinho [Nelson Martins dos Santos] (arranjos/trombone) / Wilson das Neves (bateria).




Coube ao produtor J. C. Botezelli (Pelão) iniciar e encerrar a carreira discográfica de Cartola em vida, com o seu último e Primeiro LP Gravado ao Vivo, em 30 de dezembro de 1978, no espetáculo ocorrido no “Ópera Cabaré” (São Paulo), lançado em 1982 no LP intitulado - “Cartola - Documento Inédito”, com 8 faixas.


Que sejas bem feliz” (Cartola) # Cartola. Selo Estúdio Eldorado. Álbum: “Cartola - Documento Inédito”, 1982.


Disco completo: “Cartola - Documento Inédito” - 1982. Vale a pena ouvir a voz e o violão de Cartola.



01-Que sejam bem vindos
02-Autonomia
03-Acontece
04-Senões
05-O inverno do meu tempo
06-Que sejas bem feliz
07-Dê-me, graças Senhora
08-Quem me sorrindo


O Mestre Cartola nos deixou em 30 de novembro de 1980, mas sua vasta produção, permeada de lirismo, continua a nos fascinar e emocionar até hoje. Depois da sua partida inúmeros artistas regravaram suas composições, demonstrando a perenidade da sua obra poética. VIVA CARTOLA!!


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Fontes:

- A Música Brasileira deste século por seus autores e intérpretes, de Arly Pereira e J. C. Botezelli (Pelão). São Paulo: Sesc, 2000.

- Cartola: Semente de amor sei que sou desde nascença, de Arley Pereira/ Prefácio de Elton Medeiros. - 2.ed. rev. - São Paulo: Edições SESC SP, 2008.

- Dicionário Cravo Albin da MPB (Verbete: Cartola).

- Fotomontagens: Laura Macedo / Demais Fotos: Internet.

- Nova História da Música Popular Brasileira: Cartola - Editora Abril, 1977.

- Site Discos do Brasil (AQUI).

- Site YouTube / Canais: “alfeuRIO”, “Bigode Summerbeachsamba”, “BATUKILIN BRASIL”, “Felipe Dias”, “luciano hortencio”, “Socartola”, “CulTube”, “N2010R”, “FALA MANGUEIRA!”, “Jota A. Botelho”, “Canal de amigovelho1000”.


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