domingo, 18 de setembro de 2016

HISTÓRIA E ESTÓRIAS DA MPB


Falecido em 2012, Pery acabou por figurar como um dos mais
expressivos intérpretes da Bossa Nova


Continuando a abordagem ao saudoso Pery Ribeiro gostaria de abordar o que veio a ocorrer a partir de sua participação no programa do Jacy Campos como foi relatado ao longo da última abordagem. Dentre os telespectadores que assistiriam a primeira apresentação do pretenso artista na Tv Tupi estava Paulo Gracindo, que o convidou para cantar em seu programa de domingo na Radio Nacional. Logo depois veio mais um convite, desta vez para participar do programa do apresentador César de Alencar, que viria a ser responsável pelo seu "batismo" artístico. No início Peri começou a apresentar-se como Pery Martins (sobrenome do pai, Herivelto), contexto este que acabou gerando uma raiva desmedida em sua mãe, a cantora Dalva de Oliveira. "É um absurdo! Seu pai nem quer que você cante e mesmo assim você prefere o sobrenome dele!", argumentou a intérprete de clássicos de nossa MPB. Peri procurou argumentar que Pery Oliveira não soaria legal, argumento pra lá de vazio na concepção de sua genitora. Para evitar conflito (uma vez que Pery Oliveira não soava legal) permaneceu um bom tempo sob o dilema: Qual nome artístico adotar? Decidiu que não usaria o sobrenome de nenhum dos dois uma vez que não queria construir a carreira usando o sobrenome de nenhum deles, dentre outros aspectos que achou relevante. A resposta viria após várias participações no Programa César de Alencar, quando Peri teve a oportunidade de conversar com o apresentador e com um contato de publicidade chamado Boni (o mesmo que anos depois viria a se tornar o todo poderoso da Rede Globo). César, famoso por criar apelidos e bordões, "batizou" muita gente do meio artístico. Com peri não foi diferente, ele lembrou que naquela semana em que estavam reunidos fazia um ano da morte do cantor Almir Ribeiro (o qual Pery também foi cameraman) e começou a pronunciar: "Pery Ribeiro... Pery Ribeiro... Pery Ribeiro...". Todos três chegaram a conclusão que o nome soava muito bem. E assim o cantor foi "batizado" no programa do comunicador, sem nenhuma alusão ao artista que havia falecido a um ano e que agora emprestava o seu nome.


Com pouco mais de cinquenta anos de carreira, Pery Ribeiro traz em sua trajetória artística dados interessantes. Sua primeira gravação musical ocorreu em 1960 (no mesmo ano em que também estreou como compositor). A sua primeira intérprete foi a cantora Dora Lopes. Soma-se a sua experiência de cantor também a sua incursão, a convite de Sérgio Mende, pelo Bossa Rio em 1968 ao lado de nomes como Manfredo Fest, Osmar Milito, Ronnie Mesquita, Gracinha Leporace e Otávio Bailly. Nesse período chegou a excursionar México e Europa, dividindo o palco com nomes do cenário internacional como Burt Bacharach, Johnny Mathis, Sérgio Mendes, Herb Alpert e Henri Mancini. Por um bom tempo chegou a morar no México, onde esporadicamente apresentava-se ao lado do pianista e compositor Luís Carlos Vinhas; assim como também chegou a fixar morada nos EUA, onde teve a oportunidade também chegou a participar de uma produção da Universal Studios ao lado de Richard Widmark e estudar no Screen Actors Guild, em Hollywood (vale lembrar que aqui no Brasil ele também chegou a atuar em algumas produções cinematográficas). Sua carreira começava a tomar forma no Exterior quando se viu necessitado de estar ao lado de sua mãe, que começava a dar os primeiros sinais de descontrole em relação à bebida. No Brasil a sua maior parceria musical foi sem dúvida Leny Andrade, com quem desenvolveu, ao longo de muitos anos, distintos e exitosos trabalhos a exemplo do álbum Gemini V gravado ao vivo na boate Porão 73 ao lado do grupo Bossa Três e lançado em 1965. Em 2012, nas famosa e polêmicas listas dos cem mais, a revista Rolling Stone Brasil declarou-o numero 64 dos 100 cantores melhores do Brasil. Nesta mesma edição, a Rolling Stone defendeu que ele foi "possivelmente o cantor mais subestimado do Brasil ... ele se tornou uma das principais vozes da bossa nova.... Técnica, afinação, gosto apurado, inteligência musical – Pery tinha tudo isso de sobra e cantava todos os estilos."

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