domingo, 11 de setembro de 2016

HISTÓRIA E ESTÓRIAS DA MPB

Considerado um dos maiores compositores da MPB, Herivelto também tinha em seu repertório diversas histórias engraçadas


O compositor Herivelto Martins, um dos maiores da história da música popular brasileira, tinha uma fama de ser uma pessoa muito sisuda para aqueles que não o conhecia. Há quem diga que essa característica agravou-se após a sua separação com a Dalva e a ascensão dela sem o Trio de ouro. Seu filho Pery Ribeiro costumava dizer apesar de toda rigidez característica de sua personalidade, com os mais íntimos ele se dava ao direito de contar piadas, de ser espontâneo e muitas vezes divertido. Muitos desses amigos e parentes aproveitaram desses momentos bissexto em sua vida para poder tirar dele algumas estórias engraçadas acerca de sua biografia ou fatos curiosos com os amigos e parceiros musicais, e hoje aqui procurarei enumerar algumas dessas histórias. Dotado de um senso de humor inteligente e mordaz, como dizia seu filho, Herivelto sabia como poucos contar histórias e casos engraçados, e muitas vezes essas estórias o trazia como personagem principal, como foi um fato que aconteceu logo após o falecimento da Dalva de Oliveira. Herivelto costumava contar que, quando Dalva morreu, os jornais e revistas da época estamparam diversas fotografias dela. Uma grande comoção tomava conta do país e Herivelto acompanhava toda a movimentação através da imprensa, pois se recusou ir ao hospital no período em que a cantora por lá permaneceu. Certo dia ele estava parado em frente a uma banca de jornal observando algumas revistas e jornais que traziam notícias sobre a morte da cantora quando chega um popular e o aborda fazendo o seguinte comentário: "Pois é, seu Herivelto, que tristeza! Já foi o Nilo Chagas, agora está indo a Dalva, agora só falta o senhor!". Essa história ele chegou a levar para os palcos quando teve a oportunidade de levar aos palcos quando se apresentou ao lado do filho Pery. 

Outra história que chegou a ser difundida por Herivelto nos palcos foi a que ocorreu quando ele estava no sepultamento do genial Pixinguinha. O compositor de "Ave Maria no morro" na ocasião levava uma das alças do caixão acompanhado por outros artistas, boêmios, companheiros e curiosos. O sepultamento de Pixinguinha foi muito bem acompanhado, uma verdadeira multidão seguia o cortejo. Perto da cova onde Pixinguinha viria a ser sepultado, Herivelto esconde o rosto no braço e chora, enquanto o povo começava a cantar "Carinhoso". Repentinamente alguém puxa conversa com o compositor: "Veja só, seu Herivelto, que maravilha de homenagem! Pode deixar, fique certo que, quando for a sua vez, nós haveremos de cantar 'Ave Maria no morro'". Outra história engraçada que acabou virando música através do talento de Herivelto se deu com o pianista Bené Nunes. Houve uma época em que o pianista não saía da casa de Hervelto. Chegava pela manhã, por volta das nove horas, e ía ficando para o almoço. Continuava por toda a tarde e início da noite (o que acabava gerando o convite para o jantar). Dava a impressão muitas vezes que Bené e a esposa não queriam ir embora. Essa história acabou em um samba feito por Herivelto. Outra pitoresca história, para encerrar, aconteceu entre Herivelto e o saudoso Alvarenga (o mesmo que formou dupla com Ranchinho ao longo de muitos anos). Por volta de 1934, ao ouvir uma marcha que Herivelto estava compondo Alvarenga pediu para gravá-la para o carnaval: "Herivelto, o Ranchinho e eu vamos gravar um novo disco e quero incluir sua música no repertório. Você me dá a música?". Herivelto respondeu: "Claro, Alvarenga, é um prazer, é sua!". O carnaval chegou e com ele veio o disco da dupla com a faixa que estava sendo composta pelo Herivelto (que para sua surpresa tinha uma segunda parte e não constava o seu nome). Como Alvarenga não quis conversa com Herivelto, ele acabou recorrendo a um advogado e a solução para a situação só veio acontecer no tribunal. Quando o juíz perguntou ao Alvarenga se a música havia sido composta por Herivelto, ele respondeu no ato: "Claro que sim!". E o juiz: "Mas como é que você não atribuiu a ele a parceria, uma vez que ele é o autor verdadeiro?". Sabe qual foi a resposta? Foi a seguinte: "Mas, senhor juiz, eu gostei da música, pedi então para o Hervelto que me desse e ele me deu. Ora, deu, tá dado."

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