O show tem 19 canções, escolhidas pela memória afetiva de Tunai
Um foi apresentado a Elis Regina em 1964, na companhia de Milton Nascimento. O outro dez anos depois, pelo irmão João Bosco, de quem ela já havia registrado Bala Com Bala, Agnus Sei e outras. Ambos ilustres desconhecidos. E, mesmo assim - ou talvez por isso mesmo, já que a cantora apadrinhou novos compositores durante toda a carreira -, sentiram sua generosidade. Como forma de gratidão, Wagner Tiso e Tunai se juntam no show Saudade da Elis.
O projeto tomou forma em 2012, após Tiso participar do disco Eternamente, em que Tunai regravou seus sucessos. Ambos decidiram fazer a homenagem juntos, tendo como base apenas piano violão e voz. O nome do show alude a Saudade do Brasil, espetáculo que Elis estreou em 1980.
“A gente sente muito a falta dela, do convívio e do incentivo. Eu fazia faculdade de Engenharia e, se eu saí do curso e do canteiro de obras, foi por causa dela. Elis me disse que a vida de artista não era fácil, mas via que era o que eu queria”, conta Tunai, que mostrou a ela e a seu então marido, César Camargo Mariano, as músicas que fariam parte de seu primeiro álbum, Todos os Tons (1981).
Elis escolheu gravar As Aparências Enganam, que fecha o disco Essa Mulher (1979), parceria com Sérgio Natureza. De ambos, ela também gravaria Agora Tá, que entrou em Saudade do Brasil.
As duas estão no show, assim como Lembre-se, que Elis cantou apenas no show de lançamento de Essa Mulher no Anhembi, em setembro de 1979, lançado em CD em 98. A música nunca foi registrada em estúdio por ela. “Depois do show, Elis perguntou para mim e para o Sérgio se a gente havia gostado da interpretação. Eu gostei, nossas músicas foram bem recebidas pela plateia, mas o Sérgio disse: ‘Dentro do contexto do show, não sei se aceitei’. Com isso, ela acabou não gravando”, afirma Tunai, que gravou a música em 2004.
O show tem 19 canções, escolhidas pela memória afetiva de Tunai. Mucuripe, de Fagner e Belchior, era ouvida pelo cantor e compositor quando fazia Engenharia em Ouro Preto. “A música fala do mar e o mineiro tem essa relação com ele, porque é algo que não está perto. Eu ficava escutando e pensando nesse contato”, lembra Tunai. Nada Será Como Antes e Canção do Sal, de Milton Nascimento, entraram no show porque a cantora os apresentou e, pouco depois, compuseram Certas Canções.
Apesar do repertório conhecido, Tiso diz que os dois conseguiram imprimir um estilo próprio nos arranjos, pela economia de instrumentos. Harmonias também foram modificadas. E afirma que é impossível reproduzir o que Elis fez. “Ela tinha uma banda fantástica, teve um grande momento com o César. E Elis nunca tocou nenhum instrumento, mas o domínio rítmico e sua afinação lembravam um músico. Ela não dava nenhuma mancada, era totalmente intuitiva.”
Além de canções de Elis, o show também tem Coração de Estudante, de Tiso com Milton, e o maior sucesso de Tunai, Frisson. Saudade da Elis deve virar DVD em 2015, quando a cantora completaria 70 anos. “Acho que a emoção que a gente sente e passa para as pessoas no show justifica o registro. Porque é uma homenagem ao que nós passamos com ela. E tenho uma dívida com ela. Depois que ela me gravou, Gal Costa, Simone e Nana Caymmi me gravaram. Ela me abriu uma porta”, considera Tunai.
O registro deve trazer uma música inédita, que não será cantada na temporada paulistana. Sina de Amor foi feita após Tunai visitar Elis nos bastidores de Trem Azul, à época em cartaz no Teatro João Caetano, no Rio. Ele conta que a cantora passava por um momento de transição na carreira, por estar pela primeira vez em anos sem a direção musical de César, de quem estava separada, e demonstrava estar triste e insegura. Para animá-la, o artista teve a ideia de compor uma canção tendo em mente um dueto entre ela e Milton. “Fiz a música e já estava esperando para mostrar a ela. Não tive tempo. Ela morreu logo em seguida e guardei a música. Com todas essas celebrações à memória dela que já estão acontecendo, acho bom retomá-la.”
Fonte: AE
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