quinta-feira, 10 de julho de 2014

A MÚSICA E O FUTEBOL SEMPRE DE MÃOS DADAS – II

Por Joaquim Macedo Junior

Além da música, os cartuns e charges sempre se serviram do futebol para criticar e fazer humor

Chico Buarque nunca deixou de enfatizar sua estreita relação com o futebol. Tanto como o torcedor, admirador e compositor de belas músicas sobre o tema, como o quanto o esporte fez parte de seu dia-a-dia, montando mesmo um clube, o Politheama, que ficou famoso pelas ‘jogos’ realizados entre ex-jogadores ainda na ponta dos cascos, com a pela presença de artistas. Sempre se ouviu falar da presença importante de Fagner, que seria um bom peladeiro, assim como Toquinho. Ah e a lenda de o time nunca teria perdido um jogo.

Chico tem pelo menos duas canções que tocam muito: a primeira, muito antiga, é dirigida ao amigo de música e de brincadeiras, Ciro Monteiro, rubro-negro doente, que ofereceu à primeira filha de Chico um manto que mais que uma homenagem ao pai recente, era uma tremenda gozação, vez que Chico nunca escondeu sua tendência por sofrer pelas cores do Fluminense (influência de sua mãe, Maria Amélia, seu pai – Sérgio, tinha outras preocupações). Chico Buarque não deixou por menos:

Ilmo Sr. Ciro Monteiro, receita para virar casaca de neném (1969)


Amigo Ciro
Muito te admiro
O meu chapéu te tiro
Muito humildemente
Minha petiz
Agradece a camisa
Que lhe deste à guisa
De gentil presente
Mas caro nego
Um pano rubro-negro
É presente de grego
Não de um bom irmão
Nós separados
Nas arquibancadas
Temos sido tão chegados
Na desolação

Amigo velho
Amei o teu conselho
Amei o teu vermelho
Que é de tanto ardor
Mas quis o verde
Que te quero verde
É bom pra quem vai ter
De ser bom sofredor
Pintei de branco o teu preto
Ficando completo
O jogo de cor
Virei-lhe o listrado do peito
E nasceu desse jeito

Uma outra tricolor

Mais recentemente, em 1989, Chico fez esta deliciosa ode aos seus melhores ídolos. Nunca esquecer que Chico sempre reverenciou o meia-atacante Pagão, do Santos. Na ocasião, morava na rua Buri, ao lado do Pacaembu, e embora não declarasse torcida por nenhum clube paulista, o carioca ia ao estádio para ver Pagão, do Santos. Chico não está só nesta admiração. Dizem que Pagão era extraordinário dentro da área, tão bom ou melhor que seus pares do então melhor time do mundo. Vi poucos vídeos para opinar.

O Futebol – Chico Buarque – 1989

Para estufar esse filó
Como eu sonhei

Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga
(Para Mané, para Didi para Mané. Mané para Didi, para Mané para Didi para
Pagão, para Pelé e….Canhoteiro).

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