Este mês completa-se quatro décadas que partiu André Filho, autor de "Cidade maravilhosa", hino oficial da cidade do Rio de Janeiro
Compositor, arranjador, multiinstrumentista (piano, violão, bandolim, violino, banjo, percussão), radialista e cantor. Eis André Filho, artista que ficou órfão muito cedo, sendo criado pela avó. Começou a estudar música erudita aos oito anos com Pascoale Gambardella e estudou, anos depois, vários instrumentos (violão, violino, piano, bandolim), dedicando-se, então, à música popular. Formou-se em Ciências e Letras no Colégio Salesiano de Niterói, RJ, onde foi colega de Almirante. Na década de 1940, esteve internado com problemas psíquicos, que, somados a alguns outros, acabaram por fazê-lo abandonar a vida artística. É autor de muitos sucessos, entre os quais a marcha "Cidade Maravilhosa" que se tornou o hino da cidade do Rio de Janeiro.
É figura histórica do Rio de Janeiro, já que é o autor de "Cidade maravilhosa", hino oficial da cidade, além de ser o parceiro de Noel Rosa no samba "Filosofia". É reconhecido como o autor da marchinha mais famosa dos cariocas, já que esta faz parte da tradição dos bailes carnavalescos. Quando os foliões escutam os primeiros acordes de sua introdução, é porque o baile está chegando ao fim. Começou a carreira artística cantando na Rádio Educadora. Foi arranjador, compositor de "jingles", locutor de várias emissoras como a Tupi, Mayrink Veiga, Phillips e Guanabara. Sua primeira composição a ser gravada foi "Velho solar", em 1929, pela Parlophon, interpretada por Henrique de Melo Morais (o tio de Vinícius). No mesmo ano, Ascendino Lisboa lançou o samba "Dou tudo". Em 1930, Carmen Miranda lançou duas músicas suas pela RCA Victor, o samba "O meu amor" e a marcha "Eu quero casar com você". No mesmo ano, Sílvio Caldas gravou também pela RCA Victor o seu samba "Nem queiras saber", em parceria com Felácio da Silva. Em 1931, Carmen Miranda gravou os sambas "Bamboleô" e "Quero só você", Jaime Vogeler a canção "Meu benzinho foi-se embora" e Francisco Alves a valsa "Manoelina". No mesmo ano, gravou seu primeiro disco, na Parlophon, interpretando os sambas "Estou mal", parceria com Heitor dos Prazeres e "Mangueira", de Saul de Carvalho. Também no mesmo ano, lançou com J. B. de Carvalho, a macumba "Anduê, anduá", de Maximiniano F. da Costa e o samba "É minha sina", de sua autoria. Em 1932 teve diversas composições gravadas por diferentes intérpretes, Carmen Miranda registrou os sambas "Mulato de qualidade", "Quando me lembro" e "Por causa de você"; Sílvio Caldas o samba "Jurei me vingar", parceria com Valfrido Silva e o Grupo da Guarda Velha e Trio TBT, o samba "Como te amei". Em 1933, gravou os sambas "Vou navegar"e "Nosso amor vai morrendo" e teve gravados por Carmen Miranda, os sambas "Fala meu bem" e "Lua amiga" e por Elisa Coelho os sambas "O samba é a saudade" e "A lua vem surgindo". No mesmo ano, Mário Reis foi convidado por Noel Rosa para gravar "Filosofia", pela Columbia. Em 1934, Carmen Miranda lançou, junto com Mário Reis, o samba "Alô...alô...", um grande sucesso no carnaval daquele ano. Ainda em 1934, gravou seu grande sucesso, a marcha "Cidade maravilhosa", em dupla formada com a então "novata" Aurora Miranda, de apenas 19 anos. Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, a escolha de Aurora "refletia de certo modo a tendência de romper com uma constante da época: a hegemonia masculina na gravação do repertório carnavalesco". De qualquer modo, o certo é que a entrada de Aurora em cena deve-se mesmo ao fato de ser irmã de Carmen, já então no auge da popularidade, inclusive nos carnavais. O lançamento de "Cidade maravilhosa", se deu no entanto, sem grande sucesso na "Festa da mocidade", em outubro daquele ano. A marchinha foi inscrita, no ano seguinte, no Concurso de Carnaval da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, obtendo, para indignação do autor, a 2ª colocação. Também em 1935, gravou de sua autoria e Valfrido Silva a marcha "Guarde um lugarzinho para mim" e o samba "Jura outra vez", de Alcebíades Barcelos e Valfrido Silva e com Aurora Miranda, gravou de sua autoria, a marcha "Ciganinha do meu coração"e o samba "O que você me fez". No ano seguinte, lançou as marchas "Teu cabelo vou pintar" e "Cadê a minha colombina", de sua autoria. No mesmo ano, Aurora Miranda gravou de sua autoria, o samba "Quero ver você sambar" e a marcha "Bacharéis do amor" e Carmen Miranda a marcha "Beijo bamba" e o samba "Pelo amor daquela ingrata". Em 1937 teve mais duas marchas gravadas por Aurora Miranda, "Se a moda pega..." e "Quero ver você chorando". No ano seguinte, Aurora Miranda gravou a marcha "Na sua casa tem...", parceria com Heitor dos Prazeres e o samba "Chorei por teu amor". Em 1939 lançou a marcha "Linda Rosa" e o samba "Quem mandou?". Em 1941, gravou a marcha "Carnaval na China", de sua parceria com Durval Melo e o samba "Estrela do nosso amor", de sua autoria. No mesmo ano, Vicente Celestino gravou pela RCA Victor a valsa "Cinzas no coração", obtendo grande sucesso e a canção "Cancioneiro do amor". Em 1960, um decreto oficializou "Cidade maravilhosa" como hino da cidade. No final da década de 1960, convidado e entrevistado por R. C. Albin, então diretor do MIS, gravou histórico depoimento para o Museu da Imagem e do Som, tendo sido seu estado mental considerado bastante razoável pelo entrevistador. Em 1974, Chico Buarque resgatou "Filosofia", regravando o samba em seu álbum "Sinal fechado", dedicado a outros autores por causa da censura imposta à sua produção. O samba foi, na época, grande sucesso e uma maneira inteligente de dar um recado ao regime militar. O samba voltaria a ser ouvido na voz de Mário Reis, na década de 1970 e, posteriormente, incluído no filme "Brás Cubas", adaptação do cineasta Júlio Bressane para o clássico de Machado de Assis "Memórias Póstumas de Brás Cubas". No filme, "Filosofia" é o tema do personagem Quincas Borba.
Devido a várias crises pessoais, inclusive o fim prematuro de (mal sucedido) casamento com a esposa Zilda, o que lhe teria provocado graves crises psíquico-nervosas, afastou-se completa e prematuramente da vida artística, passando a orar com a mãe que o abrigou, cercando-o de carinho e cuidados. O que obscureceu a avaliação de sua obra, fazendo com seu trabalho fosse lembrado basicamente apenas pela marcha "Cidade maravilhosa". Em 2006, seu acervo passou a pertencer ao Instituto Moreira Sales que o homenageou por ocasião do centenário de seu nascimento com uma exposição de partituras, documentos e fotografias.
Principais obras:
Alô... Alô?, André Filho, 1933
Baiana do tabuleiro, André Filho, 1937
Bamboleô, André Filho, 1932
Cidade Maravilhosa, André Filho, 1934
Cinzas no coração, André Filho, 1941
Eu quero casar com você, André Filho, 1930
Filosofia - André Filho e Noel Rosa, 1933
Mamãezinha está dormindo, André filho, 1930
Mulato de qualidade, André Filho, 1932
Nem queiras saber, André Filho e Felácio Silva
O meu amor tem, André Filho, 1930
Primavera da vida, André Filho e Almanyr Grego, 1937
Quando a noite desce, André Filho e Roberto Borges, 1930
S.O.S., André Filho, 1935
Fonte: Dicionário da MPB
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