quinta-feira, 24 de outubro de 2013

PROJETO TRAZ A DELICADEZA, A SENSIBILIDADE E O GARBO DO FEMININO CANTO PERNAMBUCANO...

... Imbuído de nobres adjetivos 'Quando a canção acabar' mostra de modo uníssono o que quatro vozes  femininas têm a oferecer

Por Bruno Negromonte



O filósofo italiano Empédocles de Agrigento (484 - 421 a.C.) concordava com outros que o antecederam de que a natureza possuía uma só origem, no entanto, Empédocles acreditava que essa teoria vista como verdade absoluta necessitava de uma complementação. Isso o fez querer ir um pouco além do convencional, fazendo-o defender a ideia de que esse princípio não derivava apenas de um princípio único, mas sim de quatro raízes fundamentais conforme podemos observar ao aprofundarmo-nos nesta área. Esta pequena explanação acerca das concepções do filósofo italiano vem, de certo modo, objetivando dar o embasamento ao projeto "Quando a canção acabar", iniciativa concebida pelo cantor, compositor e produtor pernambucano Gonzaga Leal, que arquitetou reunir neste álbum quatro vozes: Anastácia Rodrigues, Sônia Sinimbú, Cláudia Beija e Angela Luz. Artistas conhecidas no cenário musical pernambucano elas trazem consigo em comum muito além do talento que apresentam nos palcos de algumas das principais salas e palcos do Brasil. No canto destas artistas é possível perceber não só os quatro elementos fundamentais da natureza, mas uma unidade feminina onde fogo, terra, água e ar fundem-se de forma uníssona e meticulosa; dando ao projeto uma unidade bastante coesa e de excelente bom gosto.



Mas o que seria que assemelha estas artistas além do talento? A resposta instantânea seria talento; no entanto essas cantoras além do nobre adjetivo também possuem em comum o fato de nunca terem ido além da participação em discos de outros artistas. Portanto já era chegada a hora desses talentos registrarem suas respectivas identidades em disco, uma vez que esse aspecto das cantoras nunca terem gravado seus trabalhos autorais intrigou Gonzaga, que além de propiciar esse encontro também viu no quarteto a possibilidade da realização de um sonho “perdido”, pois segundo o próprio Gonzaga "Quando a canção acabar é o disco que eu gostaria de ter gravado pra mim, mas que não se adequa à minha voz.

A realização desse intrínseco desejo deu-se de modo bastante peculiar, uma vez que o cantor e compositor pernambucano conseguiu fazer do projeto uma obra com uma estética imbuída de características bastante peculiares, mostrando-se, de certo modo, um verdadeiro mosaico interpretativo regido por algumas das mais belas vozes do cenário musical recifense. Uma pluralidade que dosa de modo harmonioso tudo aquilo díspar entre as intérpretes. "O que regeu a batuta foram as diferenças e não as semelhanças", afirma Gonzaga. Das treze faixas presentes no disco cada uma das quatro artistas interpretam três e juntam-se para cantar a última, que batiza o álbum.

A primeira interpretação fica a cargo da cantora Sonia Sinimbu, artista que traz além das experiências nos palcos um grande embasamento teórico adquirido a partir do Conservatório Pernambucano de Música, onde foi aluna nas classes de canto e violão. Com um timbre marcante e grande afinação, Sinimbu mostra neste trabalho um grande potencial a ser explorado. Já Angela Luz, mostra nas canções que interpreta o porquê de sua paixão pela música ter começado ainda criança e perdurar até os dias atuais trazendo em seu canto toda uma bagagem significativa, uma vez que Luz já dividiu palco com grandes nomes da música nacional e regional tais como: Luiz Gonzaga, Hermeto Pascoal, Sivuca, Dominguinhos, Genaro, Camarão, Osvaldinho, Claudionor Germano, Acioly Neto, Nana Vasconcelos, Rosaura Muniz entre outros. Sem contar com os diversos festivais de música não só em Pernambuco, mas também em todo o país que a cantora já chegou a participar. Neste disco todo o 'know-how' da artista evidencia-se de modo pleno como pode-se observar nas faixas interpretadas pela cantora. 

O disco continua com a cantora e compositora Anastácia Rodrigues, que apesar de ter iniciado seu curso de música na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) desistiu no andamento do curso só voltando as salas de aula algum tempo depois já não mais da universidade, mas no Conservatório. Rodrigues costuma dizer que foi neste espaço que ela trocou a música barroca pela música de barraco sob a orientação do maestro Marco César, entrando de corpo e alma no choro a partir do grupo Arabiando. Hoje em carreira solo a cantora tem um vasto currículo não só na musica popular como também na música erudita. Por fim e não menos importante destaca-se o nome de Cláudia Beija, artista de destaque do cenário musical recifense e que já apresentou diversos espetáculos temáticos na capital pernambucana, dentre os quais podemos destacar o show "Noel Rosa dá samba", apresentação que contou com a participação dos músicos Tostão Queiroga, Tomás Melo, George AragãoRenato Bandeira, Nilsinho Amarante e Caca Barreto no teatro de Santa Isabel, na série de apresentações do 'Janeiro de grandes espetáculos', evento realizado anualmente em Recife.

A faixa que dá título ao álbum é de autoria de Luiz Tatit, no entanto além do compositor e músico paulista o repertório do disco conta também com nomes como Noel Rosa ('Amor de parceria'), Robertinho do Recife e Abel Silva ('Merengue'), Geraldo Maia e João Falcão ('Tô fora'), Accioly Neto ('Hedionta musa'), Marcos Sacramento e Luiz Flávio Alcofra ('Na cabeça'), Marco Polo ('Outra vez'), Fabio Tagliaferri ('Mergulhando'), Sérgio Cassiano ('Tico-tico'), do folclore do Piauí Gonzaga Leal recolheu 'Cantiga de Manoel Leandro' e a adaptou para o projeto. O disco ainda conta com o pernambucano Juliano Holanda,que assina duas parcerias: 'Vírgula' (com Publius) e  'Boa hora' (com a cantora e compositora Alessandra Leão); e com a faixa 'Semeação', de autoria de Anastácia Rodrigues mostrando-se também uma excelente compositora.

Além das cantoras e do produtor Gonzaga Leal há na tecitura deste projeto nomes como Cláudio Moura (viola, violão, direção musical, direção de mixagem e regência), Marcos FM (arranjos e contrabaixo), Alex Sobreira (violão 7 cordas), Breno Lira (guitarra semi-acústica), Ivan do Espírito Santo (sax tenor), Nilsinho Amarante (trombone), Márcio Silva (bateria), George Rocha (percussão), Tomás Melo (percussão), Nilson Lopes (arranjo), Maurício Cezar (piano), Adilson Bandeira (clarinete), Frederica Bourgeois (flautas), Ricardo Fraga (bateria), Publius (bandolim), Fabinho Costa (trompete), Caca Barreto (arranjo e contrabaixo), Tostão Queiroga (bateria e percussão), Fabio Tagliaferri (arranjo e viola de aço), Adriano Busko (percussão), Daniel Nakamura (violão e contrabaixo) e Sérgio Godoy (arranjo e piano).

Assim sendo Gonzaga Leal apresenta após quatro anos de concepção "Quando a canção acabar", um projeto que soube fazer algo muito além do convencional no cenário musical pernambucano. O disco que sai pelo selo Passadisco (do empresário Fabio Cabral, proprietário também da loja de discos homônimo ao selo) e atesta que trata-se muito mais que a realização de um obscuro desejo, ele de modo astuto e técnico soube compactar e moldar em uma coerente unidade quatro vozes que destacam-se por diversos fatores que vão muito além das qualidades técnicas. E mesmo de modo coletivo Anastácia, Sonia, Cláudia e Angela conseguem formular um mosaico único, onde seus respectivos timbres aliados à delicadeza dão o tom preciso as respectivas interpretações das artistas. Cada interpretação merece destaque, uma vez que é possível observá-las como uma verdadeira entrega, um ato de doação por parte das cantoras que dão tudo de si neste projeto que abre novas oportunidades para estas artistas que de cantos tão perenes tornaram o projeto capaz de  permanecer mesmo quando a canção acabar.


Maiores Informações:
Anastácia Rodrigues - https://www.facebook.com/anastaciarodrigues.rodrigues?fref=ts
Cláudia Beija - https://www.facebook.com/claudia.beija?fref=ts
Sonia Sinimbu - https://www.facebook.com/sonia.sinimbu
Gonzaga Leal - https://www.facebook.com/gonzaga.leal?fref=ts
Angela Luz - http://jacytanmelobaixista.blogspot.com.br/2008/02/angela-luz.html

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