Disco "Brisa Mourisca", de Caro Ferrer, cantora carioca radicada em Paris, faz homenagem aos povos que formaram o Nordeste brasileiro. Ela fez parcerias com músicos pernambucanos para o álbum
Por Gabriela Pitão
Artista Caro FerrerFoto: Reprodução/Divulgação
Migração. Mistura. Cultura. "Brisa Mourisca", quarto álbum de Caro Ferrer, 44 anos, autora, compositora e cantora carioca que vive na França, se inspira na primeira colonização - quando culturas mouras marcaram o Nordeste brasileiro - e revisita ritmos como ciranda e maracatu, com sonoridades árabe-persas, de forma a cantar sobre a situação de migrantes.
Entre as dez músicas que compõem "Brisa Mourisca", na faixa de abertura “Sonhos de Boca Calada” há um verso incidental de Ensaboa, canto de trabalho de lavadeira/Cartola. Já na músicaintitulada "Oxente", há a participação de Rodrigo Samico, guitarrista pernambucano, e também participações do cavaquinista colombiano Pedro Barrios na música "A Pele" e do compositor Lameck, na faixa "Lira".
“A gente cruzou sonoridades brasileiras com árabes, numa maneira de tentar reconstruir o que eu imagino que tenha sido a música ao longo da costa nordestina na época da primeira colonização. Então nós temos muita influência desses povos do deserto, desses povos do norte da África, e ela se manifesta nitidamente na música nordestina”, comenta Caro Ferrer.
Glauber Arbos, artista-plástico de Recife, foi o responsável pela arte da capa do CD Brisa Mourisca. A brisa, imagem central do álbum, passeia por entre mundos de areia e sal, ligando o presente ao passado com imigrações, amor pelo mar e pela terra e separações. Paisagens e retratos do Nordeste em melodias sinuosas e envolventes.
Capa do disco 'Brisa Mourisca' da artista Caro Ferrer - Crédito: Reprodução/Divulgação
"Minha intenção neste CD foi homenagear de um primeiro momento o nordeste, depois todo e qualquer migrante, e também liguei tudo, as raízes mouras do povo nordestino, com instrumentos árabes e persas, que pudesse traduzir o que eu estava querendo", enfatiza a artista Caro.
O primeiro CD da artista produzido em 2007 é intitulado "Jasmim no Ar", que reúne suas primeiras composições, lançado na pré-estreia da 7ª Edição do Festival de Jazz de Ajaccio, em 2009. Produziu e lançou o segundo álbum "Samba Pelo Avesso" em 2011, com arranjos de Amorim Jorge. E em 2014, lançou o álbum "Desarmada", produzido em Paris e no Rio de Janeiro, com arranjos de Geovanni Andrade e Vinicius Rosa.
Trajetória
Caro cresceu no Rio de Janeiro, reduto de artistas e intelectuais durante sua juventude. Estudou dança, passando por conservatórios e chegando quase a uma carreira profissional. Mas formou-se em Letras - o amor pela palavra falou mais alto. No entanto, era a música o seu assunto preferido, desde os tempos de menina, quando acompanhava seus pais em shows e serestas. Aos 25 anos foi à Paris para seguir seus estudos. Paralelamente trabalhou como tradutora e como garçonete e começou a cantar em diversos bares da cidade em 2006, consagrando seu tempo exclusivamente à música.
Após defender uma dissertação sobre vida e obra do cantor e compositor Chico César, concluiu em junho de 2016 o Mestrado em Literatura e Civilização Brasileira na Universidade Paris Ouest - Nanterre e fez uma turnê por algumas cidades do nordeste brasileiro.
Na volta, trouxe novas canções e estava decidida a fazer um CD em homenagem ao povo nordestino. "A ideia de Brisa Mourisca é cruzar ritmos nordestinos, com cocos, maracatus e cirandas, instrumentalizados por sons árabes, com a base brasileira, mas toda a ornamentação é com instrumentos do mundo mouro", diz Caro.
No mesmo ano, iniciou uma parceria com o percussionista cavaquinista colombiano Pedro Barrios, o compositor, cantor, arranjador, e multi-instrumentista Rodrigo Samico, o compositor e percussionista Wander Pio e o Zé Luis Nascimento, percussionista baiano. Ele foram os arranjadores e co-compositores de algumas composições reunidas no álbum "Brisa Mourisca".
Mais informações sobre o disco no site oficial.
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