Não poderia existir nome mais apropriado para um trabalho elaborado por este músico que traz em sua bagagem, ao longo de duas décadas de música, os mais variados ritmos
Por Bruno Negromonte
Os camaleões possui uma certa capacidade de imitar alguns ambientes para que possam ser confundidos com eles. Tal metamorfose é intitulada de mimetismo, e isso ocorre quando o animal troca de cor conseguindo controlar a concentração de pigmento nas células de sua pele. No âmbito sonoro alguns artistas trazem em sua música tais características, agregando a sua música capacidades que os assimilam a tal lagarto. Com uma astúcia esmerada ao longo das últimas duas décadas o músico, maestro, compositor e arranjador brasiliense Ademir Junior traz em seu som tais adjetivos, constituindo um trabalho bastante peculiar mesclado pelos diversos gêneros e influências que constituem a sua rica sonoridade, e isso dá respaldo suficiente para este projeto que o músico vem desenvolvendo, uma trilogia que já conta com o primeiro volume da série cujo título é Camaleão I. Este trabalho que chega objetivando a comemoração das bodas de prata de Ademir com a música, traz como marca aquilo que constituiu a carreira do músico brasiliense desde o início de suas atividades como músico: a capacidade de integrar-se aos diversos gêneros existentes de modo uníssono, não só mesclando de modo harmonioso todas as expressões sonoras que absorve ao seu redor, mas também transformando isto tudo que assimila em algo maior, que busca fugir daquilo que é convencional adicionando peculiaridades bastante pessoais a esta nova expressão sonora que produz. E são essas peculiaridades que fazem a diferença, fato que pode ser atestado não só nas diversas apresentações do músico pelo país afora, mas principalmente através dos registros fonográficos que Ademir Junior vem somando a sua biografia desde 2002, quando lançou o álbum "Gratidão", título de cunho religioso. Junior ainda traz em sua bagagem títulos como "Vitória na cruz" (2007) e "Brasilidades" (2009), que são provas documentais que atestam tais afirmações.
O artista também atua de modo didático periodicamente em diversos festivais por todo o país, ora como professor de improvisação, ora como maestro. Seu curriculum também conta com projetos paralelos a sua carreira solo como é o caso da Brasília Big Band, hoje chamada de Orquestra JK. Idealizada em 2009 pelo próprio Ademir Junior, a big band é constituída por 17 músicos profissionais brasilienses e vem apresentando-se em diversos festivais de música em todo o país desde a sua criação. O grupo já atuou ao lado de expressivos nomes da música popular como foi, por exemplo, do concerto realizado no Espaço da Côrte em comemoração ao dia do Policial Federal onde a orquestra apresentou-se ao lado da cantora mineira Paula Fernandes, executando cinco de suas músicas. Além disso o músico é responsável pela idealização do curso de improvisação, que surgiu em Brasília como matéria do curso internacional de verão na escola de música e já completou 20 edições expandindo-se por todo o país, motivando e educando músicos de todas as idades na arte e no conhecimento técnico da improvisação e atua também como arranjador da Banda do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Já se apresentou e gravou com vários artistas, entre eles, Hamilton de Holanda, Mat’nalia, Kiko Freitas, Jhonny Alf, Ney Conceição, Roberto Menescal, Rosa Passos, Elza Soares, Toninho Horta, Guinga entre outros expressivos nomes nacionais e internacionais como é o caso do Grupo Solo Brasil, com quem já viajou 16 países com o projeto ‘Uma viagem através da Música Popular Brasileira’.
Nesta trilogia a qual se propõe Ademir, o primeiro volume apresenta nove canções permeadas pelos diversos estilos que estruturam a formação musical do artista, fazendo jus a um título que caiu como uma luva para o projeto a qual se propõe: agregar os diversos ritmos que estruturam e estruturaram a sua formação musical. Quando abordado acerca da trilogia Junior responde: "Todos esses estilos agregados apontam para um caminho que ainda não se sabe onde vai dar, mas que não é a volta de nenhum desses e sim, algo que ainda não vivemos, pois tudo isso se chama evolução." A tessitura do projeto conta com nomes como o do saxofonista norte-americano Bob Mintzer, os guitarristas Alexandre Carvalho e Lula Galvão, o pianista Vitor Gonçalves, o saxofonista francês Idriss Boudrioua, o trompetista Jessé Sadoc, o baterista Rafael Barata e o baixista Jeferson Lescowich que expõem de modo preciso técnica e desenvoltura em canções como "JC" (uma homenagem ao saxofonista e compositor de jazz norte-americano John Coltrane), "Feelings", "Elegia pro Freddie" entre outros temas da lavra de Ademir Junior e de Jessé Sadoc, que assina três das faixas presentes neste arrojado projeto que, de modo veemente e eficaz, tem a capacidade de unificar distintos elementos sonoros sem perder a liga que o transforma na unidade coerente como pode-se ouvir. Tal qual a tez do multifacetado camaleão, Ademir aprendeu a ser assim ao longo dessas duas décadas e meia na qual vem transformando-se em muitos, mas sem perder a sua essência.
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O álbum Camaleão pode ser encontrado nos seguintes endereços:
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