domingo, 12 de janeiro de 2014

CHICO CÉSAR, 50 ANOS


Nascido Francisco César Gonçalves em 26 de janeiro de 1964, no município de Catolé do Rocha, interior da Paraíba, aos dezesseis anos Chico César foi para a capital João Pessoa, onde se formou em jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba, ao mesmo tempo em que participava do grupo Jaguaribe Carne, que fazia poesia de vanguarda.

Pouco depois, aos 21 anos, mudou-se para São Paulo. Trabalhando como jornalista e revisor de textos, aperfeiçoou-se em violão, multiplicou suas composições e começou a formar o seu público. Sua carreira artística tem repercussão internacional. A maioria de suas canções são poesias de alto poder de encanto lingüístico.

Em 1991, foi convidado para fazer uma turnê pela Alemanha, e o sucesso o animou a deixar o jornalismo para dedicar-se somente à música. Formou a banda Cuscuz Clã (que seria o nome de seu segundo álbum), e passou então a se apresentar na casa noturna paulistana Blen Blen Club.

Em 1995 lançava o primeiro CD "Aos Vivos" (Velas), acústico e ao vivo, com participações de Lenine e o lendário Lany Gordin. Em 1996 veio o sucesso nacional e internacional através do segundo álbum, "Cuscuz Clã" (MZA/PolyGram), produzido por Marco Mazzola. No terceiro CD, "Beleza Mano", mergulhou na cultura negra com participações do zairense Lokua Kanza, coral negro da Família Alcântara, os rappers Thaíde e DJ Hum, Paulo Moura, entre outros. "Mama Mundi", de 2000, mostra sua qualidade de intérprete num trabalho repleto de canções e referências ao som que se faz, tanto no interior do Brasil como em diversas partes do mundo.



Em junho de 2002 seu quinto CD, o "Respeitem Meus Cabelos, Brancos" (isso mesmo, com vírgula!), que ele define como um trabalho nômade. Com produção assinada pelo inglês Will Mowat, o álbum começou a ser pré-produzido em Londres, onde registrou participações especialíssimas de Nina Miranda e Chris Franck, integrantes da banda Smoke City (hype na Europa que difunde por lá a New Bossa, versão mais moderna na velha e boa Bossa Nova). De lá, Chico e Mowatt foram a Recife registrar o suingue de Naná Vasconcelos. Foram a Salvador buscando a marcação de Carlinhos Brown. Em João Pessoa, eles registraram o som da Metalúrgica Filipéia e do Quinteto Brassil. Até que, finalmente chegaram a São Paulo, onde o CD foi inteiramente concluído.

Em novembro de 2005, o sexto CD de sua carreira, ”De uns tempos pra cá”, pela gravadora Biscoito Fino.Com 12 faixas, traz canções autorais compostas por Chico desde a década de 80, num formato camerístico com o Quinteto da Paraíba: dois violinos (Yerko Tabilo e Ronedilk Dantas), uma viola (Samuel Spinoza), um violoncelo (Raiff Dantas) e um baixo acústico (Xisto Medeiros). Um ano depois o DVD, Cantos e Encontros de uns tempos pra cá, gravado durante show no Auditório do Ibirapuera.

Em 2008 surge “Francisco Forró y Frevo”, um mergulho do artista no espírito das duas principais festas populares nordestinas (o Carnaval e os festejos juninos), para criar um disco alegre em que o foco se encontra na força dos ritmos que animam essas festas: o frevo e o forró. E ainda no diálogo que esses ritmos têm naturalmente com “beats” universais. Por exemplo: o xote com o reggae, o frevo e o arrasta-pé com o ska... No que se refere especificamente ao frevo, uma novidade: a junção da linguagem das orquestras de metais de Pernambuco com a guitarra baiana dos trios elétricos da Salvador dos anos 70, em que a folia estava sob o comando da clássica dupla Dodô e Osmar.

Neste ano de 2012 uma celebração: sai o dvd aos vivos agora. com ele uma nova versão do cd e também o vinil. É só aguardar.


LIVROS

Chico César lançou em 2005 o livro Cantáteis (Cantos Elegíacos de Amozade) e em 2007 um áudiolivro com o mesmo nome. No CD, o cantor declama os versos do livro em que situa, na forma de poesia, as tênues fronteiras entre os sentimentos de amor e amizade. O autor estruturou os versos com o rigor formal dos cordéis. Cantáteis reúne 141 estrofes com 11 versos de sete sílabas. Para pontuar a declamação, o compositor criou uma base eletrônica inspirada na mistura das sonoridades do berimbau e da rudimentar cítara nordestina.

Em 2012, um novo livro, "rio sou francisco" que Beatriz Bajo* descreve assim:
rio sou francisco foi o livro inspirador à criação da Rubra Cartoneira Editorial, que institui o fenômeno “cartoneirismo” no estado do Paraná. cartonerismo é um termo advindo da iniciativa de algumas editoras utilizarem papelão para a confecção das capas de livros, nascido em consequência da crise argentina de 2002, que culminou com a criação da Eloisa Cartonera e outras editoras, espalhando-se pela América Latina e atingindo alguns países da Europa, como Espanha e Alemanha. rio sou francisco, então, inaugura o selo com outros autores eleitos pelo amor.
depois de ler Cantáteis: cantos elegíacos de amozade, fiquei assombrada com o talento poético de Chico César. seu primeiro livro merece ser lido e relido, haja vista que o poeta constrói uma rapsódia em cordel com versos enfeitiçados e desdobrados em belíssimas imagens.
sete anos depois, seus poemas tornam-se cordas feitas com tendões inflamados pelo arco tensionado a cada flechacesa disparada nos olhos bem abertos do leitor. lira rica que compõe laços, enrosca-se em nós, acorda cidades e embala casas no colo silencioso de cada poema constelado no “céu de solua”.
Chico fabrica uma poesia atrevida, vigorosa, em que as palavras dançam no ritmo endiabrado de seu resfôlego...mas conhecem o momento de estancar e permanecem no seio encantado da cara literatura.
com a língua rara da poesia, o autor lambe versos que vão aguando os botões floridos das palavras aladas, desabotoando escuridões...e, assim, bebemos a água doce do rio que é o Chico.
________________
*Beatriz Bajo é poeta, editora-geral da Rubra Cartoneira Editorial,
Para adquirir o livro é preciso selecionar o número do exemplar (apenas os que estão com bolinhas verdes no blogue - http://rubra-c-editorial.blogspot.com.br/ ) e entrar em contato para saber o valor do exemplar - pois o preço varia de acordo com a capa -, em seguida, caso haja interesse, depositar o valor na conta corrente da editora...que o livro será enviado imediatamente.


CARREIRA INTERNACIONAL

Chico César realizou, desde 1997, inúmeras turnês no mundo inteiro, apresentando-se em praticamente todos os países da Europa, Estados Unidos e Japão, além de lugares fora do circuito normal de shows como Cabo Verde, Finlândia e Turquia. Foi capa e matéria de diversas páginas de revistas internacionais como "Rhythm Magazine"(EUA) e "Jazzthetik"(Alemanha).

Como resultado destas viagens para fora do Brasil, surgiram parcerias e projetos especiais com artistas como os africanos Lokua Kanza e Ray Lema, o espanhol Pedro Guerra (com quem participou da gravação ao vivo de um DVD), e a portuguesa Né Ladeiras (que lançou em 2001 o CD "Minha Voz" com oito músicas do paraibano). Em 2003 foi lançado o CD "Drop the Debt", em prol do cancelamento da dívida externa dos países do terceiro mundo. Chico faz parte deste projeto e gravou a faixa "Devo não Nego". Suas músicas foram gravadas em vários idiomas e países. A canção "À Primeira Vista", recebeu versões em castelhano, italiano e japonês; "Clandestino" em grego e "Mama África" em espanhol.


PRÊMIOS

Chico César foi Revelação do Prêmio Sharp/1995, Melhor Compositor pela APCA/1996, Prêmio MTV Music Awards como Melhor VideoClip de MPB/1996, para "Mama África". "À Primeira Vista" ganhou prêmio de Melhor Música/1997 pelo Troféu Imprensa do SBT. A trilha que ele fez para o espetáculo infantil "Amídalas" recebeu o Prêmio Panamco (ex-Coca Cola) de Teatro Jovem, como melhor trilha/2000.

A música "Soberana Rosa" (em inglês "She Walks this Earth") que compôs juntamente com Ivan Lins e Victor Martins deu a Sting o Grammy 2001 de Melhor Performance Vocal Pop Masculina. Neste ano de 2012 Chico está indicado ao Prêmio Femsa por melhor trilha sonora da peça "As Feiosas".



O GESTOR

Chico César foi convidado no início de 2011 pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, para ser o primeiro secretário de cultura do estado. Seus desafios são estruturar a nova secretaria, criar uma política de cultura e incentivar a implementação do Sistema Nacional de Cultura.
O primeiro convite para ser gestor surgiu através do mesmo Ricardo Coutinho, na época prefeito de João Pessoa, em 11 de maio de 2009. Chico assumiu a presidência da Funjope, Fundação Cultural de João Pessoa, entidade de direito público subordinada à Secretaria de Educação e Cultura do Município. Neste novo desafio, Chico se propôs a cumprir os objetivos da entidade: promover, incentivar, difundir e valorizar a cultura e as artes na cidade de João Pessoa; ser uma instituição de referência na execução de políticas públicas e fomentar e democratizar a participação e o acesso à cultura na sua diversidade, propiciando a formação cidadã através da inclusão social e do desenvolvimento do potencial criativo.

Uma das ações mais importantes foi a realização da Conferencia Municipal de Cultura, no mês de outubro de 2009 com o tema "Cultura e Diversidade, cidadania e desenvolvimento", uma oportunidade da sociedade civil debater com o poder público políticas públicas, que devem formar um plano municipal de cultura para João Pessoa.

Chico César foi eleito delegado e participou da II Conferência Nacional de Cultura realizada em março deste ano em Brasília.


Discografia Oficial


Aos Vivos (1995)


"É o primeiro. gravado em 94 e lançado um ano depois, em 95. eu nu . voz e violão ao vivo em são paulo, com as participações de lenine, do legendário guitarrista lanny gordin. nasceu de uma sugestão do engenheiro de som egídio onde, que co-produziu e vendeu o peixe à velas. se não fosse o 'aos vivos' , seria talvez um cyberdisco que estava sendo produzido desde 1993 por andré abujamra e nunca ficou pronto." 

O que se falou:

"com o cd aos vivos, o cantor e compositor paraibano chico césar tem a merecida oportunidade de ampliar seu público cult... o canto de chico é afinado e pulsante. sua música envereda por combinações surpreendentes. a diversidade contemporânea não dispensa sonoridades regionais. sobre as inventivas divisões rítmicas de seu violão, crepitam neologismos, versos de inspiração concretista"

lauro lisboa garcia – jornal da tarde (são paulo) – 09/05/95


Faixas:
01 - Béradêro (Chico César)
02 - Mama África (Chico César)
03 - À Primeira Vista (Chico César)
04 - Tambores (Chico César)
05 - Alma Não Tem Cor (André Abujamara)
06 - Dúvida Cruel (Chico César – Itamar Assumpção)
07 - A Prosa Impúrpura Do Caicó (Chico César)
08 - Saharienne (Chico César)
09 - Benazir (Chico César)
10 - Mulher Eu Sei (Chico César)
11 - Clandestino (Chico César)
12 - Templo (Chico César – Tata Fernandes)
13 - Paraíba (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira)
14 - Dança (Chico César)
15 - Nato (Chico César – Tata Fernandes)


Cuscuz Clã (1996)


"A possibilidade de popularizar canções que antes estavam restritas ao circuito underground de são paulo. festejar a dança e a banda. o texto e o remelexo. a paciência do mazzola (produtor do disco e 'dono' da mza, o selo) e a cumplicidade de marcos mainard (então presidente da polygram, a gravadora) foram fundamentais. de outro modo seria impossível incluir canções como 'anjo da vanguarda' e 'mpb's ' ; e ter de novo o lanny e a participação de bakhiti kumalo, o baixista africano. o coro de amigos em 'folia de príncipe' aponta o caminho que seria percorrido nos dias que viriam. o êxito de 'mama áfrica' e 'à primeira vista' está associado a meu nome e creio que traduz as principais vertentes do trabalho."

O que se falou:

"...o paraibano chico césar promove uma salada de estilos em cuscuz clã. O resultado é uma argamassa consistente, onde os componentes poesia e ritmo (nesta ordem, inversa à do rap) arremessam o paraibano para o primeiro time dos autores nacionais, fato já reconhecido pelo faro fino de cantoras do porte de maria bethânia, zizi possi, daniela mercury, elba ramalho..."
tarik de souza – jornal do brasil (rio de janeiro) – 30/05/96

Faixas:
01 - Folia De Príncipe (Chico César)
02 - Mand’ela (Zeca Baleiro - Chico César)
03 - Filá (Chico César)
04 - Benazir (Chico César)
05 - Isso (Chico César)
06 - As Asas (Chico César)
07 - Mama África (Chico César)
08 - Pedra De Responsa (Zeca Baleiro  - Chico César)
09 - Da Lincenca M’
10 - Esta (Chico César)
11 - À Primeira Vista (Chico César) 
12 - Sirimbó (Chico César)
13 - Anjo Da Vanguarda (Chico César)
14 - You, Yuri (Chico César)
15 - MPB’s (Chico César)



Beleza Mano (1997)

"De novo produzido por mazzola e gravado pela banda cuscuz clã. veio para encerrar o primeiro ciclo de discos e reafirmar experiências da época em que eu participava do grupo jaguaribe carne, em joão pessoa (pb), no começo dos anos 80. a presença do negro (família alcântara e lokua kanza), do nordeste (dominguinhos e flávio josé), do contemporâneo (mestre ambrósio), do urbano (arrigo barnabé) e do negro urbano (thaíde e dj hum). é o mais bem cuidado e o mais complexo, na minha opinião. o mais longo, na opinião de todos. fiz para dialogar com minha época. a faixa interativa e as fotos de gal oppido sugerem uma nova possibilidade, como linguagem e suporte. depois dele, uma pausa. reinvestigar e deitar na rede".

O que se falou

"bom, beleza mano põe as coisas no lugar de encaixe. é um grande disco, um dos melhores do ano, mesmo que a crítica não o tenha recebido sem restrições. que se podiam esperar: é mais sofisticado, menos pop, mais experimental, nas músicas, palavras, arranjos. É muitas vezes seco, ríspido; avança para um experimentalismo apoiado em tambores e pulsos nordestinos, escrutina sonoridades".
mauro dias – o estado de s. paulo (são paulo) – 12/08/97

Faixas:
01 - Chaga (Chico César)
02
 - Sinal (Chico César)
03
 - Neprocissão (Chico César)
04
 - Neném (Chico César - Tata Fernandes)
05
 - Onde Estará o Meu Amor (Chico César)
06
 - Sanfoninha (Chico César)
07
 - Se Você Viajar (Chico César)
08
 - Papo Cabeça (Chico César)
09
 - Duas Imagens (Chico César - Lúcio Lins)
10
 - Solidariedade (Chico César)
11
 - Feixe (Chico César)
12
 - Carinho de Carimbó (Jarbas Mariz - Chico César)
13
 - Perto Demais de Deus (Chico César)
14
 - Parentes (Chico César - Tata Fernandes)
15
 - Beleza Mano (Chico César)
16
 - Paraíba Meu Amor (Chico César)
17
 - Estranho (Chico César)
18
 - Espinha Dorsal do Mim (Chico César)
19
 - Últimas Palavras do Anjo Diluidor (Chico César)



Mama Mundi (2000)

A mãe do mundo que gerou Gagárin gerou também Mestre Vitalino, o primeiro homem a sair como um feto para fora da atmosfera e o artesão que extrai formas vivas do barro da terra. Essa imagem, sugerida na música que dá nome ao novo disco de Chico César, Mama Mundi, diz muito da experiência das últimas gerações que viveram a passagem fulminante dos nichos regionais ao sentimento planetário. Ela é bem marcada nesse paraibano de Catoté do Rocha cujo pai, seu Francisco (que entreouvimos cantando na “Dança do Papangu”), praticou os reisados nordestinos desde sempre, por tradição familiar, enquanto o menino, levado pela onda dos tempos, se desgarrou e se cosmopolitizou, ganhando trânsito pelo Brasil e fora dele. Como outros músicos brasileiros que passaram do sertão ao mundo, Chico César é um étnico literalmente descolado, nativo de um espaço sem porteira, dançando de propósito uma dança que “imbalança” entre Okinawa e Aquidauana.

O disco se compõe de músicas expressamente dançantes, como a já citada “Dança do Papangu”, o forró “Nego Forro”, o coco ‘Aquidauana”, o samba-enredo “Sonho de Curumim”, ao lado de canções líricas, como a luminosa declaração amorosa “4h e 15 ou l0 p/ 3”, a cortante “Tambor”, tendida para o b!ues, o assumido romantismo de massas de “Pensar em Vocé”, a misteriosamente linda “Talvez Você”, a toada com sabor cabo-verdiano (também chamada “morna”) “Barco”, e recriação sutil de “Sou Rebelde” (sucesso de Lilian pós-Leno nos anos 70).

Em Mama Mundi a dança é várias vezes, além de apelo rítmico primeiro, motivo de meditação sobre a vida social e o destino humano. Em alguns casos a desaceleração rítmica deixa isso mais evidente, como em “Folclore”, xote-reggae que fala de um batuque maranhense - o lelê (“fui no lelê pra dançar lelê iá, dançava eu querendo me acalmar / pra entender, ler e escrever / mentalizar, dizer os mistérios do lugar”). O mergulho no universo interno à dança popular maranhense desperta o sentimento presente das carências do país e a canção termina, certamente não por acaso, com um rasante e surpreendente “discurso” visceral sem palavras.
“A Força que Nunca Seca”, parceria com Vanessa da Mata, já gravada por Maria Bethânia, não deixa de ser também um poema cantado sobre e dança-de-trabalho com que a mulher pobre leva a lata d’água na cabeça, mantendo o delicado “equilíbrio cego” que faz a lata, quase sem esforço visível, “ficar reta”, parada em seu movimento pela “estrada morta”, levada pela “força que nunca seca”. Destaque-se aí a participação (sutil) do músico africano Basuru Jobarteh e a percussão de Marcos Suzano e Naná Vasconcelos.

“Dança”, que já fazia parte do CD ‘Aos Vivos”(que consagrou Chico César junto com a canção “Mama África”), volta agora, regravada, em Mama Mundi com boas razões. É uma canção sobre o caldo de cultura geral em que fermentam ao mesmo tempo as comunidades rurais e as tribos urbanas, com referências à América (“dança sobre as roças mortas de aipim”), à África (“dança a moça triste do Benin”), à Europa (“anjos nos céus de Berlim”), e à Ásia misturada ao mundo São Paulo (“Osasco / Osaka / rosa / bomba / maca / ossos do office-curumim”). 
É esse mesmo sentimento de aldeia globalizada que anima, por sua vez, o samba-enredo “Sonho de Curumim”, que fecha o disco em ritmo de “guerra / carnaval das nações” e “tróia no xingu”.

Na sintonia fina de letra e melodia, Chico César continua com os achados, trava-línguas e trocadilhos lúdicos com que faz as palavras dançarem conforme a música. A “Dança do Papangu” (referência à personagem brincalhona e zombeteira dos reisados) se propõe a empolgar humoradamente, num verdadeiro festival de “uus”, sem “tchan” nem “U2”, sem “tchururu” nem “tchurururu”, tanto a Lady Diolinda do MST quanto a Lady Zu do soul e discothèque, derivando no final para um clima funk. Os chamegos clássicos do baião e a gemedeira em “ui” e “ai” (“quem tá dentro não sai”) comparecem no fluxo silábico do forró em “Nego Forro”, onde o violão de nylon de Chico César e o violão de aço de Mário Manga compõem juntos nos entremeios um empolgante e descarnado forró-de-viola.

O mote de “Aquidauana” é uma espécie de adivinha multicultural, repicando ditongos aparentados de palavras indígenas e orientais: “o que há / e o que não há / em Okayama e Okinawa / pro povo de Aquidauana / eu vou ter de perguntar”. O jogo de palavras dá lugar a um longo e saboroso repente, ritmado por Naná Vasconcelos, brincando com o enigma das diferenças nos usos, costumes, modos e jeitos dos lugares. A faixa abre com sons de rua em Istambul, gravação direta feita por ocasião de uma das inúmeras tournées recentes de Chico César por esse mundo de Mama. Vale frisar, aqui, que a produção do CD (de Mário Manga, assistida por Chico César e Swami Junior) não satura tecnicamente os materiais sonoros nem cresce sobre as canções como um rolo compressor armado literalmente do recurso anabolizante dos compressores, ultimamente hipervalorizados. Prevalece a respiração adequada a um disco que tem também muito de yin. No caso, a voz do “muezim” turco, ouvida no começo, retorna depois por um momento e, bem a propósito, pairando sutilmente sobre o coco de “Aquidauana” como um aboio onírico.

Falando em sonho, os arranjos de Nelson Ayres para as canções lentas acompanham primorosamente tudo que há nelas de transparência e leveza. É o caso de “Barco”, em que os harpejos e frases do violão contracenam com as cordas, fundidas aos sons eletrônicos programados por Sacha Ambak. Ou de “Sou Rebelde” e, mais ainda, “Talvez Você” (parceria com Vicente Barreto), em que as frases descendentes do violão, junto com “glissandi” acústicos que se confundem belamente com “glissandi” eletrônicos, sustentados por cordas etéreas, ora alongadas ora recortadas, criam um clima de suspensão sutil em que se fundem algo como vento vago, lembrança fluida, silêncio latente, desejo flutuante.
E falando em desejo flutuante, a última palavra vai para a amada desejada em “4h15 ou 10 p/ 3”, menina-senhora na luz do horizonte, para a qual tudo se entrega ao som das gaitas-de-fole do mundo. A salvação, em Mama Mundi, se houver, está escrita no nome: é mulher.

José Miguel Wisnik - março/2000


O que se falou

"... bem servido de arranjadores, chico césar conta ainda com a nata da percussão brasileira no cd..... Além de marcos suzano, que participa em quase todas as faixas, o músico tem o reforço de naná vasconcelos em "a força que nunca seca", já gravada divinamente por maria bethânia, e em "aquidauana", esta última um delicioso coco sampleado. como bom herdeiro de luiz gonzaga e de jackson do pandeiro, chico não poderia deixar de gravar um forró no disco. "nego forro" tem tudo para estourar nas casas de forró paulistanas, frequentadas hoje pela classe média alta da cidade..."
tom cardoso – folha de são paulo (ilustrada) – 13/03/2000


"... mama mundi é um disco fortíssimo, profundo, com subtextos (literários e musicais) a explorar por muito tempo. o impacto dele é comparável ao que provocaram os discos de ruptura, no fim dos anos 60, de caetano veloso e gilberto gil. é quase um disco de tese (quase porque sua beleza é mais evidente do que seu fundamento ideológico): chico césar está apresentando uma solução estética possível para a questão da pós-modernidade. trabalhando com opostos, conciliando contradições, fez um disco fulgurante, esclarecedor: talvez não seja definitivo,pois ele tem mais inquietações
com as quais nos provocará. que seja em breve."
o estado de são paulo - 18/03/2000

Faixas:
01 - 4h15 ou 10 p/3 (Chico César)
02 - Dança do papangu (Chico César - Zeca Baleiro) / Imbalança (Luiz Gonzaga-Zé Dantas)
03 - Tambor (Chico César)
04 - Pensar em você (Chico César)
05 - A força que nunca seca (Vanessa da Mata - Chico César)
06 - Nego forro (Chico César)
07 - Talvez você (Chico César - Vicente Barreto)
08 - Mama mundi (Chico César)
09 - Barco (Chico César)
10 - Aquidauana (Chico César)
11 - Sou rebelde (M. Alejandro)
12 - Dança (Chico César)
13 - Folclore (Chico César)
14 - Sonho de curumim (Chico César)



Respeite os meus cabelos, branco (2002)

Chegou a hora de falar, vamos ser francos

E aí está meu disco. O quinto. Respeitem meus cabelos, brancos. Com locações em Londres, João Pessoa, Recife, Salvador da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Como num filme. Um superoito com atores convidados: Chico Buarque, Nina Miranda e Chris Frank, Carlinhos Brown, a Metalúrgica Filipéia de minha pequenina Paraíba. E tem os parceiros: Carlos Rennó, Vanessa Bumagny, Tata Fernandes, Milton de Biase e Bráulio Tavares de minha imensa Paraíba. E Will Mowat, o produtor.

Quando digo "respeitem meus cabelos, brancos" não falo só de mim nem quero dizer só isso. Debaixo dos cabelos, o homem como metáfora. A raça. A geração. A pessoa e suas idéias. A luta para manter-se de pé e mantê-las, as idéias, flecheiras. É como se alguém dissesse "respeitem minha particularidade". É o que eu digo, como artista brasileiro nordestino descendente de negros e índios. E brancos. Ou ainda no plural: minhas particularidades mutantes. Fala-se em tolerância. Pois não é disso que se trata. Trata-se de respeito.

Estou feliz, com um sentimento de gratificação plena por este disco e as pessoas nele envolvidas. Sinto-me bem pelo fato da música ter-me trazido do sertão paraibano e me atirado em desamparo por outros sertões. Ela, a música, me amparou. Retira-me do Brasil e a ele sempre me devolve, cada vez mais incestuosamente. Já me levou às cegas para cantar e ver às escâncaras o mundo se refazer e desmundar aqui, ali e alhures: Japão, Turquia, Finlândia, Cabo Verde, Dinamarca, Europa toda, América nortista. E Macapá, Três Lagoas, Pelotas, Mossoró. A minha música eu a quero total, e desde que vim para São Paulo há dezesseis anos sei que é com o mundo que pretendo dividi-la. De todos e sempre minha.

Esse disco é meu. Mas é para você, ouvinte vivente meu contemporâneo. Fui claro?

Chico César, outono dois mil e dois


Faixas:
01 - Respeitem meus cabelos, brancos (Chico César)
02 - Antinome (Chico César)
03- Pétala por pétala (Chico César - Vanessa Bumagny)
04 - Céu negro (Chico César)
05 - Flor de mandacaru (Chico César)
06 - Quando eu fecho os olhos (Carlos Rennó - Chico César)
07 - Sem ganzá não é coco (Chico César)
08 - Nas fronteiras do mundo (Chico César - Luís Pastor)
09 - Antes que amanheça (Carlos Rennó - Chico César)
10 - Templo (Tata Fernandes - Chico César - Milton Di Biasi)
11 - Teofania (Bráulio Tavares - Chico César)
12 - Experiência (Carlos Rennó - Chico César)


Brincadeira (Com Zezo Ribeiro)

Faixas:
01 - Brincadeira
02 - Veja
03 - Noites de Junho
04 - Drible
05 - Oi! Sobrinhada
06 - Vagabundeando
07 - Lembrança Boa
08 - Baque do Côco
09 - A Passagem Veloz do Tempo
10 - Um sorriso só
11 - Por Causa de um Ingresso do Festival Matou Rockeira de 15 Anos
12 - Vagabundeando

De uns tempos para cá (2005)

De uns tempos pra cá me tornei um artista razoavelmente conhecido em alguns circuitos, dentro do meu país e fora dele. À minha revelia, mas também com minha anuência, determinados aspectos da música que faço se tornaram mais visíveis que outros. Não é que eu queira me queixar. Nem poderia, num momento em que uma das principais queixas de muitas pessoas (artistas inclusive) é a invisibilidade. Não de partes. Mas a invisibilidade total delas, e de sua produção. Ser em parte conhecido, visível, ou conhecido em partes já aparenta alguma vantagem. Principalmente quando se tem, quando se criam ou se conquistam as condições de iluminar o que antes já existia, mas não podia ser percebido em plenitude. Ou era simplesmente ignorado.

É o que acontece comigo agora com o lançamento deste De uns Tempos pra Cá, ao qual me entreguei com a alegria e a inquietação que apenas a liberdade criativa possibilita. Retribuí o convite da Biscoito Fino com canções e interpretações estritamente autorais e que só poderiam estar neste disco. Em nenhum outro, apesar das músicas já existirem muito antes que ele fosse imaginado. O desejo de gravá-las neste formato camerístico com o inquieto Quinteto da Paraíba é que norteia o disco.

De uns tempos pra cá se passaram 10 anos do “Aos Vivos”, meu primeiro disco. De uns tempos pra cá já são 20 anos de Sudeste pra mim. Mas mesmo antes disso o disco começa. A canção “Utopia”, por exemplo, é do princípio dos anos 80. Do meu tempo da faculdade de jornalismo em João Pessoa na Universidade Federal da Paraíba. Época de greves e passeatas. Que eu me lembre é uma espécie de comentário irresignado sobre a não-aprovação das eleições diretas para presidente pelo Congresso Nacional.

A melodia de “Por Causa de um Ingresso do Festival Matou Roqueira de 15 anos” é ainda anterior: de 1983. E o título eu roubei mais tarde de uma manchete do jornal “O Dia” sobre o primeiro Rock in Rio, ao passar pela capital carioca no começo de 1985. Morava em Barra Mansa e estava a meio caminho para São Paulo. A letra é bem recente, deste ano. Convidei duas importantes e fundamentais influências que a paraibanidade me proporcionou: Elba Ramalho e Pedro Osmar. Ela: musa agreste, retirante, vidente, incômoda em sua nordestinidade. Ele: quase invisível, multiartista a insuflar inquietação e sede de contemporaneidade sem peias a seus pares há três décadas.

“Pra Cinema” é uma melodia do fim dos anos 80. Eu já morava então em São Paulo e estudava na escola do Zimbo Trio, a convite do pianista Amílton Godói. A versão instrumental de “Autumm Leaves” começou a nascer nessa época, dos estudos com o violonista argentino Conrado Paulino. A letra é de 2004. Passou a se chamar “Outono Aqui”, por sugestão do cantor paulistano Carlos Fernando, que também corrigiu-me a respeito da excessiva melancolia nordestina em relação ao outono.

De uns Tempos pra Cá tem em comum com outros álbuns meus o fato de que nenhuma canção foi feita pro disco em si. “Alcaçuz” é de 1998 e já foi gravada por Vânia Abreu. “Orangotanga” é de 2000 e deu nome a uma turnê européia. Quem faz a percussão aí é meu amigo de infância Escurinho, pernambucano radicado na Paraíba desde criança. “Moer Cana”, “Por que você não vem morar comigo” e a canção-título são de 2003. A canção mais recente é “1 valsa p/ 3”, a única em parceria, com letra minha sobre melodia de Chico Pinheiro.

“A nível de”, uma das minhas preferidas entre as muitas parcerias de João Bosco e Aldir Blanc, eu já havia gravado pro songbook de João Bosco a convite do saudoso Almir Chediak. Mantive “aquela guitarra” que João gostou tanto e fiz uma nova voz. Proveta e sua turma deram um banho com os únicos metais do disco. E aí está. O ano passado, a TV Educativa do Rio me convidou para cantar “Cálice”, de Gilberto Gil e Chico Buarque, num show com músicas que tiveram problemas com a censura na época da ditadura militar. Decidi regravá-la. É doloroso perceber que esta canção não perdeu atualidade.

Mesmo de tons mais densos, não é de melancolia que quer falar o disco. Mas ela está aí. Pra mim é como se ele começasse escuro, numa sessão maldita de cinema à meia-noite. Atravessa uma longa madrugada, clareia aos poucos e termina encandeiado de sol tropical ao meio-dia, numa mistura de feijoada e rave. Claro que não é a única leitura possível, e essa talvez seja otimista demais. É na verdade como ele nasceu em mim e aí tomou corpo, de uns tempos pra cá.

chico césar, novembro de 2005


Faixas:
01 - Pra Cinema (Chico César)
02 - Moer Cana (Chico César)
03 - Valsa P/ 3 (Chico Pinheiro - Chico César)
04 - Utopia (Chico César) (3:41)
05 - Cálice (Gilberto Gil - Chico Buarque)
06 - Alcaçuz  (Chico César)
07 - De uns Tempos Pra Cá (Chico César)
08 - Por Que Você Não Vem Morar Comigo? – Chico César – (Chico César)
09 - Outono Aqui (Autumn Leaves) (Joseph Kosma - Jacques Prevert - Johnny Mercer - Chico César)
10 - A Nível De (João Bosco - Aldir Blanc)
11 - Por Causa De Um Ingresso Do Festival Matou Roqueira De 15 Anos (Chico César)
12 - Orangotanga (Chico César)

Cantos e encontros de uns tempos pra cá (CD e DVD) (2007)



O mais novo disco de Chico César, De Uns Tempos Pra Cá, lançado em novembro do ano passado, com a participação do Quinteto da Paraíba, possuía uma musicalidade, uma essência ao mesmo tempo camerística e agreste. Universal, mas repleto de referências regionais específicas. A chave para se entender o resultado integrado e orgânico que o disco e sua transposição para os palcos perpassam talvez esteja nas afinidades estéticas entre ambos:

“O entendimento entre a gente deu a liga. Tanto eu, quanto os músicos do Quinteto da Paraíba somos feitos da mesma ‘carne’, mesmas alegrias e dores. Bebemos na música de Bach e Piazzola, na dor dos negros africanos e dos índios latino-americanos”, resume Chico.

O show De Uns Tempos pra Cá, como um desdobramento natural do disco, mantém a proposta, mas de forma mais completa. Ele dialoga com a obra de forma mais abrangente,inclusive com aquilo que está sendo feito naquele momento. É volátil, pois vai adquirindo e incorporando, naturalmente, novos elementos. Este processo se mostra evidente no DVD Cantos e Encontros de Uns Tempos Pra Cá, lançado agora pela Biscoito Fino.

Com direção musical do próprio Chico César, o espetáculo, com ares e sonoridade muito próximos de um recital camerístico, conta com a participação de Simone Soul (percuteria e voz), Simone Julian ( flautas e voz), além dos músicos do Quinteto da Paraíba: Yerko Tabilo e Ronedik Dantas (vilolinos); Samuel Espinoza (viola); Raiff Dantas Barreto (violoncelo) e Xisto Medeiros (baixo acústico, baixo elétrico, zabumbaixo e voz). Com um trabalho reconhecido mundialmente, o Quinteto se dedicava inicialmente à música erudita e, com o tempo, passou a se dedicar à música nordestina, levando às últimas conseqüências aquilo a que Ariano Suassuna denominava Arte Armorial (que propõe uma viagem que integre as culturas brasileiras e internacionais).

As referências primordiais da arte de Chico César aparecem bem delineadas no DVD. A musicalidade talhada na terra natal, Catolé do Rocha, na Paraíba, interage com as várias outras referências que compõem a música de Chico, compondo um conjunto coeso na temática e na forma. O show abre com a desolada Desejo e Necessidade (Chico César), com enxerto poético de Cantáteis- Cantos Elegíacos de Amozade; seguida por Moer Cana (Chico César), do disco De Uns Tempos Pra Cá, e Outono Aqui- Atumn Leaves- Lês Feuilles Mortes (Joseph Kosma/ Jacques Prevert/Jonny Mercer). Do disco, estão presentes também Alcaçus, Utopia, Orangotanga, Por Causa de Um Ingresso do Festival Matou Roqueira de 15 Anos(com participação de Elba Ramalho), além da faixa título, todas de Chico César, com exceção da releitura de Cálice (Chico Buarque/Gilberto Gil). Elba canta ainda Prosa Impúrpura do Caicó (Chico César)- num medley com Asa Branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira). Os grandes sucessos de Chico também estão presentes, casos de À Primeira Vista, Pensar em Você (ambas gravadas por Daniela Mercury), Pedra de Responsa (parceria com Zeca Baleiro), Templo (com Tatá Fernandes e Milton Di Biase), além da indefectível Mama África.

Nos extras, cenas de Chico no estúdio da Biscoito Fino com Maria Bethânia- cantando A Força que Nunca Seca e Onde Estará o Meu Amor, músicas do compositor gravadas pela cantora- , Ana Carolina- Mulher eu Sei (Chico César) e Mais que Isso (parceria de Ana e Chico), além de Chico Pinheiro- tocando 1 Valsa P/ 3 (parceria de ambos); a participação de Vange Miliet no show cantando Teshoku (Chico César), com citações de It´s Long Way (Caetano Veloso) e Sodade Meu Bem, Sodade ( Zé do Norte ); um clipe da música De Uns Tempos Pra Cá; além de um documentário sobre o show. A direção do DVD é de Douglas Costa Kuruhma, que já trabalhou com bandas como White Stripes, Jamiroquai e U2.


Sidimir Sanches

Faixas:

01 desejo e necessidade - letra
02 moer cana
03 outono aqui
04 cálice
05 de uns tempos pra c á
06 templo
07 porque você n ão vem morar comigo?
08 pensar em você
09 à primeira vista
10 alcaçuz
11 utopia
12 a prosa impúrpura do caiacó/ asa branca
13 por causa de um ingresso do festival matou roqueira de 15 anos
14 paraíba
15 dúvida cruel
16 orangotanga
17 pedra de responsa
18 mama áfrica


Francisco forró y frevo (2008)

“...y ele disse faça-se a festa. obedientes, talvez por excesso de zelo, fizemos várias. expulsos da terra natal, onde quase todos os frutos eram proibidos y manga com leite ofendia, ocupamos a terra alheia. aí mesmo foi que dançamos. aquilo mais parecia terra de ninguém de tantas gentes e danças diferentes. gente migrada sabe deus de onde. galega dando umbigada y japonês se garantindo num bate-coxa que só vendo pra crer. expulsos do paraíso (que não é lugar de camelô), fomos nos espalhando de jabaquara a tucuruvi, de barra funda a itaquera. houve imigrantes que foram parar no sumaré y vieram comandar arrasta-pé y bater de bumbo pela vila madalena. sem falar naqueles aparecidos na margem esquerda do sena, em paris, nas ramblas de barcelona ou sob os céus em chamas de nova york. ai de ti, copacabana. ai de vós, superquadras, lagoa da joaquina, ópera de arame. brotados do chão, como mata-pasto y berduégua depois da primeira chuva. dos bueiros do metrô, das rasas y desmedidas covas, dos quartinhos de empregada, das entradas de serviço.

de zeladores de prédio acostumados à multidisciplinaridade de pilotar interfone y dar uma mãozinha com a feira da madame, ao mesmo tempo, não foi difícil a evolução para djs y mcs. com os filhos mandando ver nas misturas de hip hop com xaxado y na mixagem dos pretendidos achados parentescos nas matérias primas do rap y do repente. não sei se ele vê com bons olhos (logo ele, que vê tudo) esse negócio de garoto judeu tirando chinfra com boné de maloqueiro y favelado sampleando o ravila naga pra enquadrar na moral anjos y marmanjos da guarda.

mas quem sou eu pra saber? quando fez a luz y soprou vida em suas criaturas, inclusive no homem a sua imagem y semelhança, contemplou sua obra y ficou satisfeito com o que viu, deixou uma brecha para buscarmos nossa própria satisfação. felicidade até. joelho não foi feito só pra genuflexão. bem usado nuns passos de frevo tem seu valor. tudo bem que tem gente querendo endoidar o calendário: se quarenta dia depois de cada carnaval fora de época tiver uma semana santa, com crucificação y tudo, aí a casa cai geral. não tem joelho que agüente y a maioria não passa nem pelo purgatório. só sei que, seja boa ou ruim a safra, para muitos a festança junina também é sagrada (ops!). ...haja pois forró y frevo.”
(francisco, sou eu)

O cantor e compositor Chico César mergulha no espírito duas principais festas populares nordestinas (o carnaval e os festejos juninos) para criar um disco alegre em que o foco encontra-se na força dos ritmos que animam essas festas: o frevo e o forró. E ainda no diálogo que esses ritmos têm naturalmente com bits universais. Por exemplo: o xote com o reggae, o frevo e o arrasta-pé com o ska. No que se refere especificamente ao frevo, uma novidade: a junção da linguagem das orquestras de metais de Pernambuco com a guitarra baiana dos trios elétricos da Salvador dos anos 70, em que a folia estava sob o comando de Dodô e Osmar. Para buscar uma sonoridade universal chamou o produtor Bid (o mesmo do segundo disco de Chico Science e Nação Zumbi), com quem divide a produção do álbum. A mixagem é de Mário Caldato Jr. O tempero nordestino fica por conta da presença de músicos da Paraíba, da Bahia e de Pernambuco. Entre eles, o grande Armandinho e seu pau elétrico (homenageado no disco) e Spock e sua orquestra (representando a renovação do gênero pernambucano).Entre os convidados a voz do frevo Claudionor Germano, um verdadeiro mito que segue cantando com voz firme como nos velhos tempos da gravadora Rozemblit. Dominguinhos empresta sua voz e sanfona na música “Deus me Proteja” e Seu Jorge é o convidado em “Dentro”. O disco é composto basicamente de inéditas do próprio Chico César. Com apenas uma regravação: a "Marcha da Cueca", do já falecido e também paraibano Livardo Alves ("Eu mato, eu mato quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato...). Enfim, um disco leve para tocar nas ruas e nas pistas, com forte apelo regional e internacional. Para levantar a poeira e o astral, inspirado no saudável estado de espírito com o qual o povo nordestino encara e faz suas festas.


O que se falou:

"Depois de passar os últimos três anos passeando por um seara mais intimista, Chico procurou por outro tipo de comunicação musical. "Queria algo mais ligado ao corpo do que ao intelecto", resume. Procurou por BiD, que já produziu Chico Science & Nação Zumbi (Afrociberdelia) e mundolivresa, que, por sua vez, indicou Mario Caldato Jr. para a mixagem. O resultado são 14 divertidas canções para se ouvir em qualquer dia da semana, em qualquer época do ano, mas obrigatoriamente quando se tiver festa." Lívia Deodato, O Estado de Sao Paulo.

"Chico César retoma o apelo popular de modo feliz com o álbum Francisco forró y frevo, produzido por ele e pelo paulista BiD (Chico Science & Nação Zumbi, Marcelo D2, Otto), responsável pelos efeitos e elementos eletrônicos, e mixado pelo brasileiro-americano Mario Caldato Jr. (Marisa Monte, Beastie Boys, Beck, Moby, Blur). Como o título sugere, o compositor cai de boca na vibração das duas principais festas do Nordeste, o Carnaval e o São João. Para isso, recorre aos ritmos do frevo (que vale tanto para as ruas de Recife e Olinda quanto para a guitarra baiana dos trios-elétricos de Salvador nos anos 1970) e do forró e variáveis (além dos seus diálogos com o reggae e o ska)." Hagamenon Brito, Correio da Bahia.

"Nas lojas esta semana, o discos impressiona pela ótima qualidade da safra de inéditas de Chico, que enfatiza a afinidade rítmica do reggae com o xote em faixas como ‘Comer na Mão’ e ‘Ociosa’. O álbum tem tom festivo. Já na faixa de abertura, o frevo ‘Girassol’, as guitarras de Fernando Catatau sinalizam a intenção do artista — que produziu o CD ao lado de BiD — de buscar outras sonoridades para o gênero." Mauro Ferreira, O Dia.

Faixas:
01- Girassol
02 - Feriado
03 - A Marcha da Calcinha e A Marcha da Cueca
04 - Comer na Mão
05 - Humanequim
06 - Dentro
07 - Abaeté, Abaiacu e Namorado
08 - Deus me Proteja
09 - Armando
10 - Zabé
11 - Solto da Buraqueira
12 - Ociosa
13 - Eletrônica
14 - Pelado


Aos Vivos Agora (CD e DVD) (2012)

O primeiro CD de Chico César, lançado originalmente há 16 anos, projetou o artista para muito além da cidade natal de Chico, Catolé do Rocha, na Paraíba.O CD trazia registros ao vivo, de voz e violão, para “Mama África” e “À primeira vista”, hoje clássicos do repertório do compositor. Lançado na ocasião apenas no formato CD, o projeto ganha agora versão em DVD. Chico César decidiu retomar “Aos Vivos” e registrar as apresentações que aconteceram no Teatro FECAP, em três noites de setembro de 2011. O convidado de Chico foi o jovem e talentoso Dani Black.

Faixas:

01 - Béradêro
02 - Mama África
03 - À Primeira Vista
04 - Tambores
05 - Alma Não Tem Cor
06 - Dúvida Cruel
07 - A Prosa Impúrpura Do Caicó
08 - Sahariene
09 - Benazir
10 - Mulher Eu Sei
11 - Clandestino
12 - Templo
13 - Paraíba
14 - Nato
15 - Dança
16 - Dor Elegante






Fonte: Site oficial do artista

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