sábado, 11 de janeiro de 2014

BABAÚ DA MANGUEIRA, 100 ANOS

"A Mangueira dava um negócio na gente, que ninguém precisava saber ler para compor. Já vinha de berço. Era só beber a água do registro de lá para ter inspiração à vontade."


Nascido Waldemiro José da Rocha em 23 de janeiro de 1914, Babaú passou a mocidade brincando nas ruas do Buraco Quente, localidade do Morro da Mangueira em que nasceu (na casa de número 24 da Travessa Sayão Lobato). Integrante desde os 12 anos do Bloco dos Arengueiros (núcleo que resultaria na fundação da Estação Primeira de Mangueira), aproximou-se da vida musical da comunidade por meio da observação de mestres mais velhos como Cartola, Carlos Cachaça, Gradim e Aluísio Dias - que foram também a principal motivação para que, aos 16 anos, aprendesse a tocar o instrumento que o acompanharia por toda a vida: o cavaquinho.

Por essa época, começou a participar das rodas dos baluartes nos botequins da Mangueira, com pausas apenas para os momentos em que a polícia chegava. "A gente corria", contava Babaú. "Quando eles iam embora, tornávamos a fazer samba. Assim vivemos por muito tempo."

Foi também desde cedo que se dividiu entre o trabalho - como carregador de sacos e chaveiro dos bondes da Light - e o samba, iniciando sua atividade de compositor no início dos anos 1930. Em 1937, numa visita de artistas do asfalto à Mangueira, o compositor Ciro de Souza gostou da primeira parte de um samba de Babaú já popular na comunidade e completou a composição.

O resultado do encontro foi o samba Tenha pena de mim, lançado em 1937 por Aracy de Almeida, que mais tarde diria ao programa Ensaio, da TV Cultura: "Conheço, por exemplo, Saturnino, o Cartola, o Casaca, Padeirinho, e conheço um também que realmente me deu o primeiro sucesso, onde eu me tornei popular, que era um crioulo que se chamava Babaú."

A composição atravessaria as décadas seguintes, sendo gravada ainda por Carolina Cardoso de Menezes, Jacob do Bandolim, pelo quarteto americano New Brothers e pelas cantoras Elza Soares, Beth Carvalho e Olívia Byington. Na década de 1940, Aracy gravaria um outro samba de Babaú: Eu dei.

Além de integrante da Mangueira (na Ala de Compositores e em antigas formações da Velha Guarda), participou ativamente de outras escolas, colaborando com sambas para a Unidos do Tuiuti, União de Jacarepaguá, Unidos do Outeiro (depois Arranco do Engenho de Dentro), Unidos do Cabuçu e Unidos de Vila Valqueire - tendo participado da fundação das últimas três.

Afastado do samba por algum tempo entre as décadas de 1950 e 60, retomou as atividades artísticas em 1972 para se apresentar no Teatro Opinião de São Paulo. No mesmo ano gravou os sambas Tenha pena de mim e Estou vivendo na floresta no LP Raízes da Mangueira (Discos Copacabana). Em 1975, teve o samba Brincadeira tem hora lançado por Xangô da Mangueira (no LP Velho batuqueiro), que em 1982 gravou também Por que você não foi?, no LP Chão da Mangueira.

Participou em 1989 do disco Mangueira chegou, da Velha Guarda verde e rosa, cantando o samba Vou viver minha vida (gravado originalmente em 1980, por Adelinha). Lançado no Japão pelo selo Bomba Records, o disco chegaria ao mercado brasileiro no ano 2000, pelo selo Nikita Music, já no formato de CD.

Sofrendo de glaucoma, ficou cego em seus últimos anos de vida, vindo a falecer em 3 de julho de 1993, um ano após ter sido personagem central do documentário Babaú na casa do Cachaça - Verde e Rosa Blues (de Luiz Guimarães de Castro), de onde foram retiradas as aspas de Babaú transctiras neste verbete. Em 1994, teve sua vida contada no livro Tempos de outrora - vida e obra de Babaú da Mangueira (Funarj/Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro), de Andréa Ribeiro Alves.


Fonte: Samba e Choro

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