terça-feira, 14 de abril de 2009

ROBERTO CARLOS EM DETALHES

O cantor Roberto Carlos ficou irritado com a publicação do livro Roberto Carlos em Detalhes, que conta a sua história, e processou o autor, o historiador Paulo César de Araújo. O rei disse estar incomodado com "inverdades, que ofendem a mim e a pessoas queridas, expostas ao ridículo".
Em entrevista, Araújo se defende: "Meu livro é uma reflexão sobre o trabalho do artista e ajuda a explicar o fenômeno Roberto Carlos". Araújo rebateu as críticas feitas pelo cantor. Ele diz que ainda espera que Roberto goste da obra e explica como foram os quinze anos dedicados à pesquisa da vida de seu ídolo.
Publico aqui uma entrevista concedida pelo autor na época da polêmica e um pouco antes de Roberto Carlos conseguir tirar de circulação, através de uma ação judicial,o livro.

QUEM Online - Roberto Carlos declarou que não gostou do livro e que pretende tomar medidas legais em relação a ele. O que você achou?
Paulo César de Araújo - Eu não consigo ver o meu livro como um problema. Só o vejo como uma solução para explicar o maior mito da música brasileira que já existe há quarenta anos. Fiz um esforço de quinze anos pesquisando sobre ele, conversando com várias pessoas e refletindo. Felizmente o Brasil também vê dessa forma, várias pessoas me escrevem e se dizem emocionadas ao ler a história do Roberto. Os críticos também têm elogiado o livro.
QUEM Online - Uma das frases do Roberto é que há inverdades escritas no livro, que ofenderam a ele e a pessoas queridas, e que ele não gostou de ver a história daquela forma. O que você achou dessa declaração?
Paulo - Não tenho a mínima idéia sobre o que ele está se referindo, porque ele não especificou. Realmente eu não sei dizer o que pode tê-lo incomodado ou ofendido. Meu trabalho é sério. É uma pesquisa histórica para além da música do Roberto. Conto a historia da música brasileira nos últimos quarenta anos. Conto a história tendo como Roberto o fio condutor. Não considero o livro estritamente uma biografia, acho que o termo ensaio biográfico é mais apropriado. Não falo apenas dele, falo também de Caetano, Tim Maia, João Gilberto. Volto a repetir que meu livro é uma solução apenas.
QUEM Online - Você ficou triste ou chateado pela crítica de Roberto?Paulo - Não, estou tranqüilo. Claro que gostaria que Roberto gostasse do livro. Tenho esperanças de que ele ainda venha a gostar. Talvez ele tenha tido a informação agora...
QUEM Online - Roberto disse que não leu o livro todo, mas que haveria inverdades ali. Ele disse que era estranho alguém contar a história dele e só ele pode contar da melhor forma...
Paulo - Acho que ele pode e deve contar a história dele. Seria bom que ele contasse, como Caetano fez em Verdade Tropical. Só vai enriquecer. Eu dei a minha versão da história do Roberto na música brasileira. É uma contribuição à total ausência de informações sobre ele. É inadmissível que, em quarenta anos de sucesso, ele não tenha nenhum livro para explicar o fenômeno. Torço para que ele escreva um livro porque aí sim será realmente uma biografia. O meu é um livro que fala das coisas da vida dele porque a obra dele é autobiográfica. Ele fala da infância, da mãe, dos amores e dos filhos. A obra dele é marcadamente pessoal.
QUEM Online - Você acha que um lançamento de um ensaio biográfico antes de uma biografia autorizada dele o tenha incomodado?
Paulo - Não sei. Ele já fala há bastante tempo que vai fazer isso.
QUEM Online - Mas em relação às informações que você colocou no livro você fica tranqüilo, certo?
Paulo - Certamente. Meu trabalho é de pesquisa histórica. Tudo foi muito bem pensado. Não publiquei o livro depois de dez ou doze anos de pesquisa porque não achava que tinha todas as respostas. Só publiquei depois de quinze anos, e muitas pesquisas em jornais e revistas, porque podia contar a história da forma como eu queria. Quanto a isso, estou tranqüilo e seguro do trabalho que realizei.

"Torço para que ele [Roberto Carlos] escreva um livro, porque, aí sim, será realmente uma biografia. O meu é um livro que fala das coisas da vida dele porque a obra dele é autobiográfica" (Paulo César Araújo, autor de Roberto Carlos Em Detalhes)

QUEM Online - Você começou a escrever a biografia motivado pela admiração de fã ao artista Roberto Carlos?
Paulo - Sempre temos uma motivação e muitas delas são pessoais. A minha relação com as músicas do Roberto é forte porque cresci ouvindo. Mais tarde, quando me interessei por História do Brasil e, particularmente, pela histórica da música popular brasileira, constatei que não tinha nenhum livro sobre o fenômeno Roberto Carlos. Em 1990, tive a idéia de fazer esse trabalho e queria responder quem era Roberto, de onde ele veio, como foi construído o mito. Tive uma motivação afetiva, mas também uma inquietação intelectual no sentido de refletir sobre o tema. Ainda mais constatando que, nos Estados Unidos, existem mais de 450 livros sobre o Bob Dylan e, na Inglaterra, mais de mil sobre os Beatles.
QUEM Online - Roberto Carlos é um mito na música brasileira e, no entanto, tem apenas dois materiais que analisam sua obra mais a fundo. Por que você acha que há tão poucos materiais sobre a vida dele?
Paulo - Em parte, pela visão elitista dos intelectuais brasileiros, que têm uma característica pouco democrática e atenta ao popular. Durante muito tempo se virou as costas para a produção popular. E no caso do Roberto Carlos foi isso que pesou, porque ele é um cantor mais identificado com a massa do povo brasileiro. Por isso se têm muito mais livros sobre Chico Buarque, Caetano Veloso... Um outro fator importante que contribuiu para essa falta de material é a característica do Roberto de ser um artista muito reservado.
QUEM Online - Mas é contraditória a existência de poucos materiais do Roberto analisando-se a importância dele na cultura brasileira.
Paulo - É evidente. Isso já seria pouco se pensarmos em Odair José, por exemplo. Tratando-se de Roberto Carlos, acho um absurdo. Ele é um personagem da história do Brasil nesses últimos quarenta anos.
QUEM Online - Com base nesses quinze anos de pesquisa, qual a sua explicação para todo o encantamento que Roberto ainda causa no inconsciente coletivo?Paulo - A explicação para essa adoração por Roberto não se dá apenas por um fator determinante, mas sim por três. Um é a sorte: estava no lugar e na hora certos. Se ele tivesse dado certo cantando bossa-nova, a carreira dele poderia ter ido por outro caminho. A segunda coisa importante é que ele tem carisma. Mas outros cantores também tem, e não se tornaram Roberto Carlos. Por isso aponto como fator fundamental o fato de Roberto ser um grande compositor e sabe expressar como ninguém a sensibilidade. Ele faz músicas na medida exata. Caetano e Chico são compositores excelentes, mas a sensibilidade da obra deles atinge uma minoria da classe média. Por outro lado, você tem cantores como Amado Batista, Odair José e Daniel que atingem majoritariamente os setores populares, e não alcançam todo mundo. Já Roberto é um compositor cujas canções sensibilizam todas as classes sociais. É o seu repertório que o torna um rei, sem isso ele seria apenas um grande cantor.

"Há mil outras canções melhores que as do Roberto, mas mesmo sendo melhores na letra ou com harmonias difíceis, elas não atingem a todos. São o talento e um conjunto de canções que o tornam Roberto Carlos" (Paulo César Araújo)

QUEM Online - Mas você não está classificando o repertório de Roberto pela qualidade estética e aprimorada de suas canções, certo?
Paulo - Estou falando da capacidade de atingir a sensibilidade e emocionar na medida certa. Há mil outras canções melhores que as do Roberto, mas mesmo sendo melhores na letra ou com harmonias difíceis, elas não atingem a todos. São o talento e um conjunto de canções que o tornam Roberto Carlos.
QUEM Online - Algum novo artista pode se tornar um mito como Roberto Carlos?
Paulo - É difícil. Desde que os Beatles acabaram os ingleses esperam um novo Beatles, mas é difícil surgir algum grupo com aquela força. A mesma coisa com o Roberto.
QUEM Online - Você acha que o mito Roberto assusta o homem Roberto?
Paulo - Acho que não. O mito do Roberto foi sendo construído devagar. O sucesso para ele foi difícil e gradativo. Ele diz que não esperava, mas estava preparado para o sucesso. De todos os grandes artistas do Brasil, foi o que teve a carreira mais difícil. Quis ser cantor de rádio e não conseguia, as gravadoras fechavam as portas. Queria participar da turma da bossa nova e não conseguiu. Ele foi assimilando isso com segurança. E quando, de repente, se viu no topo do sucesso, agiu com equilíbrio e não deslumbrou. Convive com o mito há quarenta anos, acho que não se lembra nem mais como era a sua vida sem o sucesso.
QUEM Online - E a imparcialidade ao escrever um livro sobre Roberto, sendo que você é um fã dele?
Paulo - Na verdade, não me preocupei muito com isso. Sou historiador e me habituei a ver tudo criticamente. No livro do Roberto, o rigor histórico foi o mesmo, mas me dei a liberdade de opinar na estética do livro. Entretanto isso não interferiu na análise histórica.
QUEM Online - Você ficou frustrado por não conseguir falar com ele?Paulo - O que mais me frustrou foi a expectativa de que pudesse acontecer. Todas as questões que eu queria resposta, eu obtive. Para efeito do trabalho, isso não foi frustrante. Era mais a coisa de ser recebido pelo Roberto. A expectativa de que isso pudesse acontecer era angustiante.

Em outra oportunidade, um determinado jornal pediu para Paulo Cesar de Araújo, o autor de "Roberto Carlos em detalhes", escolher as 10 músicas mais significativas da carreira do Rei. Em sua lista, ele preferiu dar lugar para as canções que abriram caminhos na obra do artista, os marcos iniciais, o que explica apenas uma música dos anos 80 e nenhuma dos 90 e 2000.Na verdade, porém, o caráter final dessa seleção não foi tão planejado assim. O pesquisador teve mesmo dificuldade para resumir em apenas 10 canções a trajetória de Roberto.- Nossa! Já estamos na sexta música e ainda não saímos dos anos 60! - disse, surpreso, ao perceber os rumos que sua lista estava tomando.Numa obra tão ampla e apaixonante, é complicado mesmo pinçar uma dezena de canções. Mas, desafio aceito, Paulo Cesar de Araújo montou a sua e justificou as escolhas. Leia e ouça abaixo.
01 - Parei na contramão"É a primeira dele com Erasmo, um marco histórico. Foi também a primeira a alcançar sucesso nacional. Antes disso, Roberto era conhecido apenas no Rio e em alguns lugares do Nordeste. 'É a minha moedinha número 1', ele costuma dizer".
02 - É proibido fumar"Essa música carrega tudo que o rock tem. A rebeldia, a transgressão, a letra aberta que pode jogar para múltiplas interpretações, até a mais atual, que fala de fumar baseado. É a canção com a qual Roberto entra na modernidade, quando ele abandona aquela coisa de 'broto', gíria dos anos 50. E não tem nada do que as pessoas chamam de 'inocência da Jovem Guarda'. 'Eu pego uma garota' é inocente? Isso é atualíssimo!
03 - Não quero ver você triste"É uma canção inusitada, declamada. Das canções dos anos 60, é uma das que ele mais gosta. A melodia é linda, chamou muito a atenção na época. Eles fizeram bem rápido. Erasmo chegou com a música e Erasmo fez a letra em poucos minutos".
04 - Quero que vá tudo pro inferno"Maior sucesso da história da música brasileira. O que quero dizer é que nenhuma música lançada antes ou depois teve a repercussão dela. Mexeu com os militares, igreja, público, universidade. E definiu Roberto Carlos como rei da MPB. E por isso é tão estranho ele não cantar isso hoje. Seria como se os Rolling Stones não cantassem 'Satisfaction'".
05 - Você não serve pra mim"Está no nível de qualquer rock de qualquer época de qualquer lugar. A guitarra é maravilhosa, o baixo também, assim como a interpretação de Roberto. Uma música pesada para a época. Seria um sucesso mundial se fosse lançada por um grupo inglês ou americano".
06 - As curvas da estrada de Santos"É o 'Help' de Roberto Carlos. 'Preciso de ajuda/ Por favor me acuda'. Ele compôs indo para um show no Guarujá, passando exatamente por aquela estrada. Chegou, fez o show e naquela madrugada mesmo definiu a música".
07 - Jesus Cristo"Uma obra-prima, de grande repercussão. Foi polêmica, por tratar de um tema religioso na música pop. E é a primeira música explicitamente religiosa de Roberto, além de ser a primeira canção-mensagem. No sanos seguintes ele lançaria outras, como as ecológicas 'As baleias' e 'Amazônia'.
08 - Como vai você"Canção romântica perfeita, um presente que ele ganhou de Antônio Marcos (autor da música em parceria com Mario Marcos). Teve várias gravações. É simplesmente bela e direta. E perguntar "Como vai você" é uma novidade em termos de abordagem romântica".
09 - Olha"Faz parte do álbum mais sofisticado de Roberto, de 1975. O pessoal vindo da bossa nova gostava muito dela. O título é o porém da música. 'Olha' tem cara de nome provisório, tirado da primeira palavra da letra, e que depois acabou ficando. Mas não quer dizer nada".
10 - Fera ferida"É uma letra longa, ele podia ter parado antes, mas estava inspirado. E o título é ótimo. É a música que retrata a separação de Nice. Ele demorou a gravar, não conseguia acertar um andamento que gostasse. Tanto que ficou de 79 a 82, ou seja, três álbuns, até gravá-la".


ROBERTO CARLOS - 1995

Faixas:
01 - Amigo não chore por ela (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
02 - O charme dos seus óculos (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
03 - O coração não tem idade (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
04 - Pra ficar com você (Mauro Motta - Carlos Colla)
05 Quando eu quero falar com Deus (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
06 - Romântico (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
07 - Nunca te esqueci (Eduardo Lages - Paulo Sérgio Valle)
08 - Quase fui lhe procurar (Getúlio Cortes)
09 - Sonho de amor (Fernando de Souza - Mário Avellar - Edilson Campos)


ROBERTO CARLOS (1994)
Faixas:
01 - Alô (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
02 - Quero lhe falar do meu amor (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
03 - O taxista (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
04 - Custe o que custar (Édson Ribeiro - Hélio Justo)
05 - Jesus Salvador (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
06 - Meu coração ainda quer você(Mauro Motta - Robson Jorge - Paulo Sérgio Valle)
07 - Quando a gente ama (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
08 - Silêncio (Beto Surian)
09 - Eu nunca amei alguém como eu te amei (Eduardo Lages - Paulo Sérgio Valle)


ROBERTO CARLOS (1993)
Faixas:
01 - O velho caminhoneiro (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
02 - Coisa bonita (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
03 - Hoje é Domingo (Nenéu - Balmo Belotti)
04 - Obsessão(Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
05 - Nossa Senhora (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
06 - Tanta solidão (Mauro Motta - Marcos Valle - Paulo Sérgio Valle)
07 - Se você pensa (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
08 - Parabéns (Altahy Velloso)
09 - Mis amores (Roberto Livi - Bebu Silvetti)

6 comentários:

Rafael disse...

Poderia repostar o link para downlaod do livro do Roberto? POR FAVOR! Desde já te agradeço!

brunonegromonte disse...

Já foi atualizado o link, ok?
Abraço!

ADEMAR AMANCIO disse...

Este historiador está equivocado,Roberto carlos não é o rei da MPB,ele é anti-MPB.

Unknown disse...

A na lista das dez músicas tem um grande equívoco. A decima música, Fera Ferida é de autoria do Caetano Veloso e não do Roberto Carlos,erro inadmissível.

Unknown disse...

Na lista das dez músicas tem um grande equívoco. A canção "Fera Ferida" é de autoria do Caetano Veloso e não do Roberto Carlos, erro inadmissível.

Unknown disse...

Na lista das dez músicas tem um grande equívoco. A canção "Fera Ferida" é de autoria do Caetano Veloso e não do Roberto Carlos, erro inadmissível.

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