Hoje quero pedir licença aos amigos leitores para trazer nesta coluna o nome de uma das precursoras do rock no Brasil. De carreira efêmera, Célia da Conceição Villela nasceu em 24/11/1936, em Belo Horizonte (MG) e chegou a gravar alguns discos em 78 RPM e outros raros LP's entre as décadas de 1950 e 1960, quando decidiu afastar-se da vida artística. Em sua biografia consta que Célia iniciou a sua carreira aos quatro anos de idade, quando foi levada por sua mãe a um programa infantil das Emissoras Associadas de Belo Horizonte. Essa sua participação no programa agradou tanto que passou a ser atração fixa do mesmo, com a aprovação dos pais até se tornar profissional por volta do ano de 1947, quando tinha 10 anos, ganhando 50 cruzeiros por apresentação. No início de sua adolescência, a moda musical em evidência na época era o baião (ritmo este que tinha como seu maior representante o cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga). Seguindo essa tendência, em 1950, aos 13 anos, Célia Villela foi eleita a Rainha do Baião de Minas Gerais, e passou a ter seu programa próprio na Radio Guarani de Belo Horizonte, que se chamava "Aí Vem o Baião", irradiado das 20:00 hs às 20:30 hs. A partir dos anos de 1950 deu início aos seus registros fonográficos. Antes do primeiro registro foi contratada pela Radio Tupi do Rio de Janeiro na mesma época em que estava iniciando o curso científico. Tal condição a obrigou a mudar-se para a então capital federal (acompanhada pela mãe) afim de dar continuidade à carreira artística. Nessa época o seu salário girava em torno de 3.500 cruzeiros mensais e ela, vendo que precisava ganhar mais, aceitou um convite de Carlos Machado, o grande empresário do teatro burlesco, para ingressar no seu elenco. Tinha então quase 15 anos, mas aumentou a idade nos documentos para 18 anos e conseguiu que seu pai lhe concedesse a emancipação. Gravou seu primeiro disco, em 78 rpm, em 1955, pelo pequeno selo Santa Anita (selo responsável pelo lançamento do LP "O tal", primeiro long play na carreira do saudoso Moreira da Silva). Nesta primeira oportunidade de registrar em disco a sua voz gravou os baiões "Minas Gerais", de Elias Salomé, e "Noivado do Paulinho", de Castro Perret e Armando Roberto. Em seguida, gravou as marchas "Baile dos casados", de autor desconhecido, e "Tô com o diabo no corpo", de Waldir Machado e Rômulo Paes. Posteriormente foi contratada pela gravadora Todamérica, por onde gravou em 1956, o fox-trot "O resto eu faço", de Wilson Batista e Antônio Nássara, e o samba "Hermengarda", de Alberto Ribeiro. Ainda ao longo dos anos de 1950 gravou o choro "Menosprezando", de Paulo Aguiar, e o samba "Félix Fidélis", de Alberto Ribeiro e Radamés Gnattali.
Ao longo de sua carreira ainda teve uma efêmera passagem em boites cariocas como a Beguin, night-club existente no Hotel Glória, onde ganhava em torno de 7.000 cruzeiros. Ao lado de Carlos Machado teve a oportunidade de atuarem boates no Brasil e no Exterior a partir de excursões diversas, dentre elas para lugares como San Juan, Curaçao, Caracas e Puerto Rico; E países como os EUA, Uruguai, Argentina e até em Cuba, onde trabalhou muito tempo. Em uma dessas excursões, no Hotel Tamanaco de Caracas, a maior parte do elenco feminino ficou gripada e Célia Villela, além de seus papéis, teve que fazer o das outras. O trabalho exaustivo prejudicou sua saúde e em San Juan de Puerto Rico ficou uma semana acamada, com pneumonia, fato este que repetiu-se tempos depois e a fez abandonar as apresentações em boates. Antenada com novas tendências musicais, após sua passagem por Puerto Rico, trouxe um novo ritmo que começava a fazer sucesso por lá e que se chamava cha-cha-cha. Quis gravar o cha-cha-cha mas ninguém lhe deu ouvidos. E por fim, a partir dos anos de 1960 (quando foi contratada pela gravadora RGE) começou a mudar seu repertório, enveredando então pelo nascente rock and roll gravando diversas canções, dentre as quais, "Conversa ao telefone" (versão de "Pillow talk"), "Trem do amor" (versão de "One way ticket to the blues"), "Passo a passo" (Step by step), "Quando o amor vem" (In between teen), dentre outras versões. Entre os autores de suas gravações há nomes como José Messias, Fred Jorge, Erasmo Carlos, Miguel Gustavo e ninguém menos que o Rei Roberto Carlos, que assinou a composição "Acho que me apaixonei", parceria sua com Édson Ribeiro. Nessa mesma década ainda chegou a ser contratada pelas gravadoras RCA Victor e Musidisc e, no auge de seu sucesso, apresentou o programa de TV "Célia, Música e Juventude" na TV Continental do Rio de Janeiro. Dirigiu ainda os programas de rádio "Na roda do rock" pela Rádio Globo, e, posteriormente, na Rádio Guanabara. Pouco depois, casou-se com o guitarrista e líder do conjunto The Angels, Carlos Becker e abandonou a carreira artística.
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