sexta-feira, 8 de maio de 2015

CAIXA TRAZ A DISCOGRAFIA COMPLETA DO GRUPO PARALAMAS DO SUCESSO

Material recém-lançado apresenta 20 discos da banda com hits criados pelo trio

Por Gabriel de Sá





A gravadora tinha um estúdio enorme. Sedentos por diversão, qualquer intervalo na labuta era motivo para os Paralamas do Sucesso aprontarem. Gravar por longas horas não chegava a ser um problema, afinal, música era a praia deles. Mas quando pintava um tempo, o trio usava uma tapadeira (aquele objeto colocado ao redor da bateria para minimizar o impacto do som) como rede de vôlei e mandavam ver na brincadeira. “Era para matar o tempo”, lembra o baixista Bi Ribeiro, por telefone.

O clima de amizade e descontração está presente em boa parte dos discos dos Paralamas do Sucesso, relançados agora em uma caixa. São 18 álbuns gravados entre 1983 e 2011. Entre eles, seis foram produzidos a partir de shows ao vivo. “Esse é um lado muito forte da gente, somos uma banda de estrada”, defende Bi, que forma a banda, desde 1982, ao lado do vocalista e guitarrista Herbert Vianna e do baterista João Barone. “Esses trabalhos retratam bem o que é o grupo e foram bem sucedidos por causa disso”. O artista se refere, sobretudo, a 'Vamo batê lata' (1995), disco mais vendido da trupe, ao vivo, que gerou mais de 1 milhão de cópias comercializadas.

Na caixa, é possível ouvir também um disco com raridades da banda e outro com versões de alguns hits em espanhol. O trio conquistou público robusto na América Latina. Expoentes do rock brasileiro da década de 1980, e também precursores na mistura do gênero com outros elementos no país, os Paralamas do Sucesso têm, em sua discografia, um retrato político e social do Brasíl nas últimas três décadas. O romantismo também é uma marca constante no trabalho da banda — muito por conta das letras apaixonadas escritas por Herbert Vianna.

Sobre as gravações dos trabalhos, Bi Ribeiro lembra que, de maneira geral, as sessões de estúdio foram sempre muito tranquilas. Isso porque os Paralamas sabiam bem o que queriam e chegavam para o registro com quase tudo pronto em suas cabeças. Foi assim, por exemplo, quando eles pensaram no nome de Djavan para participar do megassucesso 'Uma brasileira', um dos maiores hits do trio. “Ele estava inseguro por gravar com uma banda de rock, mas o convencemos e ele ficou muito feliz com o resultado”, conta Bi.

Já em 'Severino' (1994), na faixa 'Navegar impreciso', eles conseguiram juntar, em uma mesma faixa, os ídolos Tom Zé e o poeta jamaicano Linton Kwesi Johnson. Mas nem tudo foi calmaria na gravação deste álbum. Bi, aliás, considera o registro de Severino o mais conturbado da carreira da banda. Isso porque, ao convidarem o guitarrista Phil Manzanera, da banda Roxy Music, para produzir o álbum, tiveram que se deslocar para a Inglaterra. Até aí, tudo bem. O problema foi o técnico de som, que quis controlar a gravação e acabou tornando o projeto muito mais cansativo do que o previsto, deixando o ritmo no estúdio arrastado. “Chegamos com o arranjos prontos. Era gravar e ir embora. Mas acabamos ficando três meses”, relembra Bi. “Saiu como a gente queria, mas foi difícil. O técnico atrapalhou bastante, e o produtor ficou na mão dele. Mas o resultado é muito bom”.


Música brasileira

A ligação dos Paralamas com a MPB ficou mais estreita quando, em 1986, o trio convidou o mestre Gilberto Gil para dar uma palinha na faixa 'Alagados', do álbum 'Selvagem?'. A ideia era só cantar, mas o baiano acabou fazendo a letra de A novidade, que se tornou um hit instantâneo. “A gente ficou muito agradecido a ele. Era nosso terceiro disco e o cara concordou em ir”, vibra o baixista.

“A gente sempre teve esse namoro com a MPB. Ouvimos muita música brasileira em casa, desde pequenos, apesar de muito fãs de rock. Meus pais ouviam Chico e Caetano. Tem uma época que você renega, diz que não gosta de samba etc. É só rock. Mas aquilo está dentro de você e uma hora vem à tona”, acredita Bi.

O balaio de referências sonoras e estéticas dos Paralamas, para além do rock e da música brasileira, passa por reggae, ska, new wave e pós-punk. Música africana também entra no pacote de influências. “Quando entramos nesta, fomos chamados de traidores do rock. Mas o rock sempre foi um gênero aberto, se alimentando de tudo por onde passou”, observa ele. “Acaba que a música sempre tende para a África, ela vem de lá e volta pra lá”.

Mesmo não tendo nenhum lançamento marcado para breve, os Paralamas do Sucesso já trabalham, despretensiosamente, em um novo projeto. “Nos encontramos duas vezes por semana para bater um papo e pensar no que vamos fazer”, conta Bi. O local das reuniões é o escritório de João Barone, uma casa confortável no bairro Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, cidade onde os três vivem. “Até o fim do ano, devemos estar gravando um novo disco de inéditas”.

Segundo o baixista, o ritmo de composição da banda ainda é bastante intenso. Herbert é um criador compulsivo e está sempre escrevendo letras novas. “Ele não para nunca. Quando nos encontramos, juntamos nossas ideias”, comenta Bi.


De volta ao grande palco

Em 1985, acontecia pela primeira vez o festival Rock in Rio. Impulsionados pelo sucesso do segundo disco, 'O passo do Lui', aquele dos hits 'Óculos', 'Me liga', 'Meu erro' e 'Romance ideal', os Paralamas do Sucesso foram convidados a participar do evento, decolando de vez no showbiz nacional. O trio foi chamado de última hora e, mesmo sem banda de apoio, fez um dos shows mais marcantes daquela edição.

Os Paralamas tem um novo encontro com o público do Rock in Rio no próximo dia 20 de setembro, na noite que terá Rod Stewart como atração principal. Vale lembrar que, em 2011, o trio dividiu o Palco Mundo com os parceiros Titãs. Sozinhos, agora, 30 anos depois da estreia do festival, os Paralamas terão uma longa história para contar.


OS PARALAMAS DO SUCESSO 1983-2015

Caixa com 20 discos da banda. Lançamento Universal Music. Preço: R$ 366.


Mundo afora

Confira os países em que os Paralamas já tocaram
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5 milhões
Discos vendidos dos Paralamas

1,1 milhão
Vendagem do álbum Vamo batê lata

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