domingo, 18 de janeiro de 2015

BIOGRAFIA PERCORRE TRAJETÓRIA DE SEU JORGE AO ESTRELATO

Por Adriano Barcelos


Em 1990, quando sua casa foi invadida e um irmão, assassinado, um dos tios de Jorge Mário da Silva queria saber o que ele –então com 20 anos, negro e pobre– faria para sustentar a casa, cuidar da mãe e dos irmãos mais novos.

A resposta, meio sem convicção, foi que ele "seria músico". O tio rebateu: "Você está maluco?".

Corta para 2014: o tal Jorge Mário é agora Seu Jorge, músico, cantor e ator, paparicado no exterior e dono de um dos maiores cachês entre artistas brasileiros.

No Réveillon de Copacabana, o mais disputado do país, foi a estrela principal: recebeu R$ 700 mil para animar a festa de mais de 2 milhões de pessoas na noite de 31/12.

Os acontecimentos que conduzem Seu Jorge da infância pobre no Gogó da Ema, subúrbio de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, aos cachês polpudos e à vida confortável em Los Angeles é retratada na biografia não autorizada "Seu Jorge, A Inteligência É Fundamental", livro de estreia do jornalista e produtor carioca Leonardo Rivera.

O autor refaz os passos que levaram o cantor à música e ao mainstream a partir de uma posição privilegiada.

Rivera era um dos caça-talentos da Polygram no final dos anos 1990, quando as gravadoras eram soberanas e todos os olhares estavam voltados para a cena carioca, mais precisamente a de Santa Teresa.

Por obra da gravadora, moravam no bairro Chico Science e Nação Zumbi.

A mescla regional/universal que marcou o manguebeat deu um estalo em Seu Jorge.


FAROFA CARIOCA

Inspirado pela alquimia do Recife, o cantor formou a Farofa Carioca. O disco de estreia, "Moro no Brasil" (1998), fez sucesso com a faixa-título que diz: "Moro no Brasil/ não sei se moro muito bem ou muito mal/ só sei que faço parte do país/ inteligência é fundamental".

A vida de Seu Jorge mudaria de vez com o papel em "Cidade de Deus" (2002). Celebridade planetária, chegou a dividir set com Bill Murray e Cate Blanchett em "A Vida Marinha com Steve Zissou" (2004), de Wes Anderson.

A expressão "biografia não autorizada" incomoda Rivera. Ele diz que Seu Jorge sabia que o livro seria escrito, mas não o leu e não proibiu sua publicação.

"É biográfico, mas é um tributo acima de tudo", diz Rivera. De fato, quem folhear as 176 páginas do livro atrás de fofocas sobre a vida pessoal do artista vai se frustrar.

"Não me interessei [por detalhes da vida pessoal]", diz. "O livro se fecha na questão dele como ator e músico, enaltece um cara que já morou na rua e hoje se liga na Bolsa, é empresário de si mesmo."

Atração à parte são as entrevistas de Seu Jorge. Muitas foram transcritas de programas de TV de que ele participou, algumas de publicações e outras ele concedeu ao autor. Procurado pela Folha, o cantor não respondeu ao pedido de entrevista.


SEU JORGE, A INTELIGÊNCIA É FUNDAMENTAL
AUTOR - Leonardo Rivera
EDITORA - MPM Neto
QUANTO - R$ 45 (176 págs.)

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