Raimundo Fagner Cândido Lopes, nascido em Orós/CE em 13/10/1949, é cantor, compositor, instrumentista, ator e produtor. Desde criança mostrou-se interessado por música. Com apenas cinco anos de idade, tirou o primeiro lugar num concurso de cantores infantis em homenagem ao dia das mães, promovido pela Rádio Iracema de Fortaleza. Nos colégios onde estudou, formou grupos vocais e conjuntos de rock.
Em 1968, já tendo composto diversas músicas, participou do IV Festival de Música Popular do Ceará e tirou o primeiro lugar, com a composição "Nada sou", feita em parceria com Marcus Francisco. Em 1969, participou do Festival de Música Popular promovido pela Rádio Assunção Cearense, com a composição "Luzia do algodão", também em parceria com Marcus Francisco e que seria sua primeira composição gravada.
Na mesma época, formou com Belchior, Rodger Rogério, Ednardo e Ricardo Bezerra o grupo chamado de "Pessoal do Ceará", que tomou parte num programa semanal na Rádio Ceará. Em 1971, mudou-se para Brasília, onde ingressou na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília. Desistiu, entretanto, logo no primeiro ano. No mesmo ano, participou do Festival de Música Popular do Centro de Estudos Universitários de Brasília, inscrevendo três obras. "Manera frufru manera", em parceria com Ricardo Bezerra, obteve o sexto lugar; "Cavalo ferro", ainda em parceria com Ricardo Bezerra, obteve o prêmio de melhor intérprete e também menção honrosa, e "Mucuripe", em parceria com Belchior, obteve o primeiro lugar. Suas músicas passaram a ser bastante executadas nos bares da Capital Federal e ele resolveu então mudar-se para o Rio de Janeiro.
Na Cidade Maravilhosa, formou dupla com Cirino, com quem lançou um compacto simples, com as composições "Nova conquista", de sua autoria, e "Copa luz", de autoria de Cirino e Sérgio Costa. Em 1972, Elis Regina gravou "Mucuripe", que se tornou um grande sucesso, divulgando o nome de Fagner pelo país afora. No mesmo ano, participou da série "Disco de Bolso", lançada pelo jornal "Pasquim", gravando num dos lados do segundo compacto da série, a música "Mucuripe". No outro lado, Caetano Veloso aparecia com "A volta da Asa Branca". No mesmo período, gravou pela Philips um compacto duplo com as composições "Amém-amém", "Cavalo ferro", "Fim do mundo", parceria com Fausto Nilo, e "Quatro graus", em parceria com Dedé. Esta última seria apresentada no VII Festival Internacional da Canção, na TV Globo. Ainda no ano de 1972, gravou o LP "Manera Frufru Manera", pelo selo Philips. No álbum, que contou com a direção de produção de Paulinho Tapajós, constaram as seguintes músicas assinadas por Fagner: "Penas do Tiê" (adaptação); "Mito 1" (c/ Belchior); "Mucuripe" (c/ Belchior); "Como se fosse" (c/ Capinan); "Canteiros", (com letra de um poema de Cecília Meirelles);"Sina" (c/ Ricardo Bezerra); "Tambores" (c/ Ronaldo Bastos); "Serenou na madrugada" (adaptação) e "Manera Frufru Manera" (c/ Ricardo Bezerra).
Em 1973, sua composição "Cavalo ferro" foi gravada no disco "Meu corpo, minha embalagem, tudo gasto na viagem", que reuniu o "Pessoal do Ceará", agora composto por Ednardo, Rodger Rogério, Teti e Cirino. No mesmo ano, gravou seu primeiro LP, "Manera frufu manera" pela Philips, onde interpretou, entre outras, as composições "Último pau-de-arara", de Venâncio, Corumba e J. Guimarães, "Mucuripe", dele e Belchior, e "Canteiros", sobre versos de Cecília Meirelles, que lhe renderia rumoroso processo da família da poetisa para retirar o disco de circulação, apesar do sucesso da composição. O disco contou com a participação do percussionista Naná Vasconcelos, de Ivan Lins no piano e da cantora Nara Leão, que interpretou "Penas do Tiê", do folclore nordestino. No mesmo período foi convidado para compor parte da trilha sonora do filme "Joana, a francesa", de Carlos Diégues. Os elogios recebidos no trabalho da trilha sonora do filme renderam-lhe convite para ir à França para trabalhar com o músico Pierre Barouh e com Naná Vasconcelos. Na viagem, conheceu Pedro Soler e Pepe de La Matrona. Na capital francesa, apresentou-se em espetáculo de músicos brasileiros no Teatro Olympia.
Em 1975, lançou seu segundo disco, "Ave noturna", onde destacam-se as composições "Fracassos", que mais tarde seria gravada em dueto com o cantor Cauby Peixoto, "Ave noturna", em parceria com Cacá Diegues, do filme "Joana, a francesa", "Astro vagabundo", em parceria com Fausto Nilo, e "Riacho do navio", de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, grande sucesso do Rei do Baião. Em 1976, lançou pela CBS o LP "Raimundo Fagner", no qual fez uma mistura de ritmos, indo do puro rock de "ABC", ao romantismo de "Conflito" e "Asa partida", esta em parceria com Abel Silva, e a música nordestina, presente em "Matinada". Fez ainda uma surpreendente regravação de "Sinal fechado", de Paulinho da Viola, já gravada de forma marcante por diversos intérpretes, conseguindo criar uma nova versão para um clássico da MPB.
Em 1977, surpreendeu com um inusitado disco, "Orós", com arranjos e produção de Hermeto Pascoal, e que trazia músicas de grande elaboração, mas pouco aceitas pela mídia das rádios. A composição mais tocada do disco e que se tornou um enorme sucesso foi "Cebola cortada". Destacaram-se ainda "Orós" e "Flor da paisagem", de Fausto Nilo e Robertinho do Recife. No ano seguinte, lançou "Quem viver chorará", dedicado a seus pais José Fares e Dona Francisca, disco que fez com que estourasse definitivamente no mercado fonográfico. O disco destacou-se com diversos sucessos. "Revelação", de Clodô e Clésio, tocou sucessivamente em todas as rádios. Fizeram sucesso também as composições "Motivo", com letra do poema de Cecília Meirelles, "Jura secreta", de Sueli Costa e Abel Silva, e "Punhal de prata", que contou com a participação do cantor pernambucano Alceu Valença. Destacou-se, ainda, a regravação do samba "As rosas não falam", do compositor carioca Cartola. Por essa época, criou e dirigiu o selo Epic da gravadora CBS, destinado a lançar novos talentos, que lançou diversos artistas, entre os quais Amelinha, Terezinha de Jesus, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Robertinho do Recife, Petrúcio Maia e Manassés. Pela Epic foi lançado, pouco depois, o disco "Soro", no qual reuniu diversos poetas, músicos, compositores e cantores, que realizaram solos instrumentais, declamações e interpretações. Estiveram presentes, entre outros, Patativa do Assaré, Ferreira Gullar, Geraldo Azevedo, Fausto Nilo, Belchior, Nonato Luiz e Cirino.
Em 1979, lançou o LP "Beleza", que trazia a música "Noturno" grande sucesso que se tornou tema de abertura da novela "Coração alado", na TV Globo. O lançamento do disco foi realizado com grande êxito em show , no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, venceu o Festival 79 da TV Tupi, com a composição "Quem me levará sou eu", de Dominguinhos e Manduka. Em 1980, gravou "Raimundo Fagner", que marcou pela diversidade, onde gravou "Vaca Estrela e Boi Fubá", de Patativa do Assaré, e "Oh, my Love", de John Lennon e Yoko Ono, numa homenagem ao ex-Beatle, morto naquele ano. Fez grande sucesso com "Eternas ondas", a música mais executada do disco.
Em 1981, lançou "Traduzir-se", arrojado trabalho lançado simultaneamente no Brasil e na Espanha. O disco, que foi dedicado a Glauber Rocha, contou com a participação de diversos artistas latinos, como Mercedes Sosa, que gravou "Años", de Pablo Milanês, Manzanita, Joan Manuel Serrat e Camaron de La Isla. Uma das composições mais executadas do disco foi "Fanatismo", com música de Fagner para poema de Florbela Espanca. No mesmo ano, participou do disco infantil "A Arca de Noé", com músicas de Vinicius de Moraes. No ano seguinte, foi lançado o LP "Fagner", que foi gravado no mesmo estúdio em que o músico inglês Jonh Lennon gravara seu último disco, o Hit Factory. No disco está presente outro poema de Florbela Espanca, "Fumo e tortura". Destacaram-se também "Qualquer música", que foi bastante executada nas rádios, e "Orós II", composição de João do Vale, especialmente dedicada a Fagner. A música "Pensamento", do mesmo disco, foi tema da novela "Final feliz", da TV Globo. No mesmo ano, produziu o disco "Homenagem a Picasso", com poemas do poeta espanhol Rafael Alberti, dedicados ao pintor. As melodias foram compostas por ele próprio, Paco de Lucia e Ricardo Pachón.
No ano de 1983, foi feito o lançamento de um disco mais romântico, "Palavra de amor", que teve como maior sucesso "Guerreiro menino", de Luiz Gonzaga Jr. Destacou-se, também, a regravação de "Prelúdio para ninar gente grande", um clássico de Luiz Vieira. O disco contou ainda com as participações de Chico Buarque, cantando "Contigo", e do conjunto Roupa Nova, na composição "Palavra de amor", de Manassés e Fausto Nilo. Em 1984, gravou na Inglaterra o disco "Cartaz", que obteve boa repercussão, tendo apenas a composição "Cartaz" razoavelmente tocada nas rádios.
Depois disso, Raimundo Fagner passou a ser muito cobrado pela parte mais exigente de seus fiéis fãs por misturar nos repertórios dos seus discos músicas de boa qualidade com outras de qualidade discutível. Dois exemplos dessa sua fase em que recebeu muitas críticas são as canções “Deslizes”, de Michael Sullivan e Paulo Massadas (1987) e “Borbujas de Amor”, de Juan Luiz Guerra em versão do poeta Ferreira Gullar (1991). Mas é indiscutível que foi com essas breguices românticas que ele invadiu as rádios FM do país e se tornou popularíssimo.
Nunca é demais lembrar que se aproveitando da amizade que tinha com o Rei do Baião e da admiração que Luiz Gonzaga tinha pelo artista Fagner, foi que conseguiu levá-lo para o estúdio em duas oportunidades: 1984 e 1987. Pois bem, esses dois LPs gravados que foram transformados em um único CD em 2001, trazem verdadeiras jóias do cancioneiro nordestino que haviam sido lançadas desde os anos 50 por Luiz Gonzaga. Algumas regravações são tão boas que se tornaram as versões definitivas para essas músicas.
Ninguém pode negar que Fagner sempre ficou muito à vontade cantando as músicas do Gonzagão. Eu não gosto de lembrar os clássicos de raízes nordestinas gravados pela dupla porque todos os têm na memória. Prefiro olhar para aquelas que ninguém nunca prestou muita atenção. E em uma dessas, o disco de 1984, trouxe uma omissão imperdoável. É que quando eles cantam a belíssima “Feira de Gado”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, emendam com “Aboio Apaixonado”, famosa música de Luiz Gonzaga (sem parceiros) gravada em 1956.
É com essas duas músicas que queremos lembrar essa parceria importante para a música brasileira. Dizem os mais entendidos que o aboio é uma forma de canto medieval trazida para o Brasil pelos primeiros portugueses que aqui chegaram. O aboio somente se firmou nos lugares chamados sertões. Sertão, gado e aboio estão para o sertanejo assim como rapadura e farinha.
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