segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

DORA LOPES E GORDURINHA, 90 ANOS

Dois nomes, uma só idade. Se vivos estivessem, ao longo de 2012 estes dois nomes da MPB completariam nove décadas de existência.


Por Bruno Negromonte


O Ano de 2012 marca a história da música brasileira por diversos aspectos, dentre eles, pela passagem dos 90 anos de dois nomes da música popular brasileira: de um lado, a cantora e compositora carioca Dora Lopes de Freitas, mais conhecida por Dora Lopes e do outro Waldeck Artur de Macedo, que talvez poucos venham a conhecer pelo nome de batismo, pois o mesmo ganhou notoriedade a partir do pseudônimo Gordurinha. 

Dora Lopes fugiu de casa aos 14 anos de idade tendo por sonho cantar na rádio. Foi tentando a carreira artística ao longo de diversos anos até que em 1949 foi descoberta no programa de calouros de Ary Barroso e a partir daí não parou mais de cantar e se apresentar. Neste período, apresentou-se em diversas rádios como a Nacional e a Mayrink Veiga e era bastante comum ela apresentar-se ao lado de alguns dos maiores nomes da música popular na época, tais quais Dalva de Oliveira, Marlene e Emilinha Borba. Talvez por estar sempre ao lado dos maiores nomes femininos do rádio ficou nas décadas em que atuou, Dora não tenha se destacado do modo que merecia, mesmo tendo feito turnês pela Europa. Além de também ter ido ao México e participado da gravação do álbum do cantor, instrumentista e compositor Ary Barroso intitulado "Fantasia carioca", disco de 1953 e que conta com a cantora interpretando a canção "Risque". Apesar do nome de Dora Lopes (assim como o dos demais intérpretes) não constarem no disco, o saudoso instrumentista Paulo Moura (que acompanhou Ary nesta incursão pelo México) afirmou que a intérprete é mesmo a cantora.



Como compositora, no período áureo do rádio chegou a emplacar alguns sucessos de sua autoria, tais quais os sambas "Toalha de Mesa", "Ponto de Encontro" e "Samba na Madrugada" e a marchinha carnavalesca "Pó de Mico". Posteriormente começou a compor canções para artistas populares como Agnaldo Timóteo ("Amor proibido", em parceria com Clayton), Edith Veiga ("Canção de mulher sozinha" entre outras) e outros ao longo das décadas que sucederam seu sucesso no rádio.

Sua discografia inicou-se em 1948 pelo selo Star com um 78 rotações composto pelas canções "Volta Pro Teu Barracão" e "Roubei O Guarani", daí em diante foram mais cerca de vinte 78 rpm, 4 compactos e 4 lp's, sendo o último pelo selo Tapecar em 1976 intitulado "Esta é minha filosofia", morrendo cerca de sete anos depois, 1983, aos 62 anos praticamente esquecida e endividada. Uma curiosidade interessante sobre Dora Lopes é que a mesma, assim como Araci de Almeida, também foi jurada de programas de calouros, participou do programa Raul Gil.

O outro artista trata-se de Gordurinha, autor de clássicos do cancioneiro nordestino imortalizado nas vozes de alguns dos maiores intérpretes da região. Batizado como Waldeck Artur de Macedo, Gordurinha popularizou-se a princípio como humorista, e foi exercendo essa profissão que por volta dos 16 anos e já funcionário da Rádio Sociedade da Bahia, ganhou o apelido, uma ironia devido a sua magreza. Sua estreia profissional se deu em 1938, quando fazia parte do conjunto vocal "Caídos do céu", fazendo logo depois par cômico com o compositor Dulphe Cruz.

Sarcástico e de potencial humorístico destacável, Gordurinha logo fez carreira nas rádios soteropolitanas e posteriormente chegou ao teatro, onde teve a oportunidade de apresentar-se em diversas cidades de todo o Brasil com suas sátira e piadas sobre os mais variados temas e situações. Sua fama como humorista era tanta que Gordurinha acabou renegando a um segundo plano outro talento do qual dispunha: o de compositor. Vale salientar que nos anos 40 o artista ainda tentou a sorte na então capital federal (Rio de Janeiro) mas não obtendo êxito semelhante a Salvador, retornou para o Nordeste e indo para Recife, onde atuou em algumas das emissoras existentes na capital pernambucana tais quais Rádio Jornal de Comércio e a Rádio Tamandaré, onde conheceu o poeta Ascenso Ferreira, Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda Estes dois últimos gravariam em primeira mão várias das suas composições .

Em 1942, teve que optar entre os estudos e as sessões de rádio, e resolveu por aquilo que para ele era o mais óbvio: a carreira artistica. Waldeck acabou largando a Faculdade de Medicina e deu continuidade ao seu desejo maior que era dar vazão as suas habilidades artísticas.

Mas seu objetivo era de fato o Rio de Janeiro, tanto que em 1952 voltou para lá e depois  de passar por programas como "Varandão da Casa Grande" e "Café sem Concerto" em algumas das maiores emissoras do país à época, como a Rádio Nacional e a Tupi. Vem dessa época os primeiros registros fonográficos que resultaram em um total de cinco discos.




Algumas de suas composições hoje tornaram-se clássicos do cancioneiro popular e obtiveram centenas de regravações, tais quais "Chicletes com Banana", "Súplica Cearense", "Baiano Burro Nasce Morto", "Baiano Não É Palhaço", "Orora Analfabeta", "Mambo da Cantareira" e "Vendedor de Caranguejo". Alguns dessas canções foram regravadas por nomes como Gilberto Gil (que no álbum "Expresso 2222" gravou "Chicletes com Banana" e no álbum "Quanta", registrou a canção "Vendedor de Caranguejo"), Luiz Gonzaga (com "Súplica Cearense"), Ary Lobo (que pelo selo Cantagalo registrou "Se chovesse no nordeste", "Quero chorar um samba" e a faixa "Uma prece para os homens sem Deus" canção que deu nome ao disco), Clara Nunes (com o sua versão para "Vendedor de caranguejo", em 1974) entre outros.

Hoje, Gordurinha é considerado um dos baluarte do forró na Bahia ao lado do Trio Nordestino.

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