Por Bruno Negromonte
O professor, maestro e arranjador pernambucano Jarbas Cavendish Seixas é graduado pela Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) desde 1992 e mestre em música brasileira; além disso é também professor auxiliar na UNIRIO, onde é responsável pelas disciplinas Harmonia e Teclado, Percepção Harmônica e Prática de Conjunto.
Seu "know-how" vai além, pois também exerceu funções administrativas tais como Chefe do Departamento de Educação Musical e Coordenador do Projeto de Pesquisa Universitária “Criação e Produção em Música Popular da UNIRIO. Atualmente, é professor na Escola de Música da UFG, onde é responsável pela disciplina Práticas Instrumentais e coordena o Núcleo de Música Popular, de onde é oriunda a Banda Pequi, banda esta que foi apresentada ao público do Musicaria Brasil ao longo deste mês.
Depois de um DVD lançado em 2004 e intitulado de "Banda Pequi Ao vivo Itaú Cultural " finalmente , depois de 10 anos de existência foi lançado no último novembro houve o álbum "Leila Pinheiro Banda Pequi Nelson Faria" (álbum esse já abordado em uma das matérias anteriores) , onde Jarbas divide os arranjos do disco com outros músicos. Segue abaixo uma entrevista exclusiva concedida por Jarbas ao nosso Musicaria Brasil!
O Brasil é sem dúvida um celeiro de grandes nomes da música instrumental, se levarmos em consideração nomes que enaltecem os instrumentos de sopro em nosso país como por exemplo Paulo Moura, Léo Gandelman, Pixinguinha, Mauro Senise, Carlos Malta e tantos outros que a lista não caberia aqui de tão extensa. Durante a sua infância e adolescência você já tinha predileção por algum músico, disco ou cantor específico?
JC - Cara, o cara em Recife na minha época ouvia de tudo, tudo mesmo, de Luis Gonzaga a Hermeto Pascoal, passando por Frank Sinatra, Lindomar Castilho e Chico Buarque, sem deixar de falar em Caju e Castanha. As rádios tocavam tudo o que era bom. Minha infância musical foi formatada dentro de uma ampla percepção da qualidade e estudei muito piano “erudito”. Acho que aos 13 ou 14 anos, quando comecei a estudar e tocar bastante violão popular já tinha mais ou menos uns 8 anos de estudo formal, no Conservatório Pernambucano de Música. Lá conheci músicos e professores como Clóvis Pereira, Guedes Peixoto, Eliana Silveira, Edson Rodrigues e o Mestre Duda. Na verdade em diversas fases da minha vida ouvi e vivi diversos músicos e "músicas".
E a convicção de que seguiria o caminho da música surgiu em que época de sua vida e se deu por que?
JC - Eu sempre tive a certeza que a música como profissão para mim era fato consumado. Afastei-me dela durante alguns anos, tendo a oportunidade de estudar economia (2 anos na UFPE), trabalhar no Banorte, ser proprietário de uma imobiliária e de um bar de relativo sucesso na época (1982), no bairro de casa amarela (Chop House). Mas em 1985 caiu a ficha e a partir de então direcionei minhas energias para a música. Transferi meu curso na UFPE para bacharelado em instrumento e me formei na UNIRIO, onde fiz concurso e de imediato comecei a carreira docente.
Por qual circunstância você pernambucano que é foi parar em Goiás e Como se deu esse inusitado encontro entre dois pernambucanos, amantes da música e de profissão semelhantes que é você e o Alexandre Magno? (Temos que levar em consideração que do Recife a Goiás há mais de 2000 km de distância)
JC - Antes de parar em Goiás vivi 13 anos no Rio de Janeiro, onde finalizei meu curso e comecei a carreira docente. Lá desenvolvi e coordenei um projeto semelhante a Pequi intitulado Orquestra de Música Popular da UNIRIO, chegando a gravar um Cd em 1995. No Rio conheci minha atual esposa, a flautista Verônica Alde, Napolitana de nascimento que veio viver com os pais em Goiânia. Encontramos-nos na UNIRIO e no período de 1996 até 1998, pedi licença da universidade e foi morar e administrar a fazenda do meu sogro, tendo uma ímpar experiência profissional e de vida. Retornei ao Rio e em 2000 já estava definitivamente morando em Goiânia, trabalhando na UFG. Quando cheguei aqui encontrei uma escola forte em diversas áreas de atuação e minha vinda deu-se por conta de um acordo técnico cooperativo entre as instituições, para o desenvolvimento da música popular na escola de música da ufg (EMAC). A razão da minha vinda deu-se primeiro pelo meu interesse pessoal em sair do Rio, uma cidade já extremamente violenta, e o fato de no meu currículo existir diversas ações na referida matéria. Entre outras ações destacam-se o Projeto de Extensão Orquestra de Música Popular da Unirio, ter sido membro da comissão de elaboração e implantação do curso de música popular da unirio, o Projeto Workshop de música popular, com parceria com o banco do Brasil, onde troxe para sala de aulas músicos como Carlos Malta, João Lira, Cristóvão Bastos, Pedro Luis e a Parede, Lenine, Ed Mota, Joyce, Cássia Eller e o trompertista Winton Marsales. Essas ações justificaram minha vinda pra Goiânia e logo que cheguei aqui, com esforço da diretora Glacy Antudes e por sua solicitação e incondicional apoio (nossa madrinha) montei o projeto Banda Pequi. Aqui conheci meu irmão Alexandre Magno, na época professor substituto de trombone e "cabôco arretado"de bom. A liga foi imediata a partir desse momento começamos a pesquisa de repertório, adequação ao nível dos alunos, aquisição de equipamentos,etc. Hoje o Alexandre é professor efetivo e está em fase final de doutoramento nos estados Unidos, com previsão de retorno para 2012.
A Banda Pequi é um projeto de extensão Projeto de Extensão e Cultura da Escola de Música da UFG, mas é possível fazer parte dela alunos de outras instituições ou esse projeto se dá apenas para atender a demanda da UFG?
JC - A ideia inicial do projeto foi fazer um rebuliço no cenário musical local, tanto acadêmico como de produção. A demanda de alunos disponíveis na escola sempre foi grande e o projeto estabeleceu a disciplina conjunto musical, disponível nas grades curriculares dos diversos cursos da EMAC como fonte de alimento. Porém por ser um projeto de Extensão a interação com a comunidade também tinha de ser contemplada, possibilitando sim a presença do músico não aluno no projeto. No início foi difícil colocar na cabeça das pessoas a possibilidade de se acreditar num projeto dessa natureza. Diziam que nossa história não duraria um ano. Completamos dez. Hoje temos sete professores tocando e envolvidos no projeto, alunos de mestrado, graduação, ex-alunos e músicos da comunidade. Todos os integrantes recebem bolsa de ajuda de custo da Pro-Reitoria de Extensão e somos um projeto também da Reitoria.
Quem acompanha a Pequi sabe que em 2006 foi lançado em DVD pelo Projeto Rumos do Instituto Itaú Cultural um show realizado no projeto Toca Brasil em 2004. Por que o caminho inverso? Por que não primeiro o CD e depois o DVD?
JC - Pelo fato da Pequi ser um projeto institucional de uma universidade federal, muito das necessidade de mercado como tocar sempre, em qualquer lugar, de qualquer forma, nós não temos. Tudo o que fizemos até hoje foi por convite, solicitação. Nosso encontro com o Itaú cultural começou de forma espontânea, quando o Rumos esteve em Goiânia e nos conheceu. O Edson Natale, gerente do Núcleo de música ficou encantado e nos convidou para participar da apresentação e Sampa e gravação do DVD. Foi um divisor de águas na vida da Pequi.
Na canção “Rapa côco” de sua autoria é perceptível ao longo do arranjo levadas que nos remetem a cultura pernambucana como o maracatu, assim como em todo o trabalho da Pequi é notável a música muito arraigada aos ritmos brasileiros mais genuínos. Como se dá a concepção dos arranjos entre vocês?
JC - No início do projeto tínhamos uma preocupação em adequação do nível dos arranjos com o potencial instrumental da banda. Fomos a Recife, Alexandre e eu e trouxemos vários arranjos de Duda, Flávio Fernandes, Edson Rodrigues e Dimas Sedícias entre outros. Como nossa formação musical passa com forte influência pela música pernambucana é lógico que sempre fizemos (e faremos) baião, frevo, maracatu, etc. Eu tenho escrito bastante para o grupo mas também utilizamos convidar amigos arranjadores para abastecer nosso banco de partituras. Podemos destacar Rafael dos Santos, Adail Rodrigues e recentemente meu amigo Nelson Faria.
Algo que observei entre os participantes do projeto é que o Nosso Trio (os músicos Nelson Farias, Ney Conceição e Kiko Freitas) coincidentemente tocaram (ou ainda tocam) com o João Bosco. Na concepção do projeto vocês cogitaram a ideia da participação do João ou desde o início a Leila já vinha sendo cogitada para protagonizar junto à Pequi esse projeto?
JC - Esse encontro surgiu de um convite feito pela organização de um belo festival de música chamado Canto da Primavera, realizado na cidade de Pirenópolis (GO) onde já estavam se apresentando e dando aulas o nosso trio. Quando o Nelson soube desse convite se animou bastante e indicou o convite para que a Leila pudesse participar conosco do show. A liga foi perfeita e fizemos uma bela apresentação. Dessa apresentação surgiu a idéia da gravação do Cd e nosso repertório foi basicamente dividido entre as músicas e arranjos do Nelson, nossas músicas e após músicas com a Leila. Nossa idéia sempre foi tentar um intercâmbio com os melhores músicos para elevar nossa performance. Já deram canja conosco Arismar do Espírito santo, Carlos Malta, Teço Cardoso, Zé Canuto, Marcelo Martins, Thiago Espírito Santo, Rafael dos Santos e Monica Salmaso. A Leila caiu como luva na nossa vida e existe sim para 2011 a tentativa de ampliar o repertório para fazermos com João Bosco um show completo. Seria o máximo.
Como se deu a escolha do repertório do CD ( um repertório que abrange desde Moacir Santos, Tom Jobim e Guinga até Chico Buarque, Milton Nascimento e Nelson Faria)?
JC - Nosso repertório e escolhido pela qualidade musical. Realmente tentamos tocar de tudo o que é bom. Hoje temos um banco de dados com músicas específicas para big band com mais de 80 peças. Tocamos Duda, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, e diversos outro feras. Um dado interessante é que os alunos de bacharelado em composição da EMAC têm no 5º período a disciplina conjunto musical obrigatório onde eles escrevem para diversos grupos como orquestra, coro, quarteto de violão e banda pequi. Atualmente abrimos nossas apresentações com a música Berimbau, de Baden Powell com arranjo de um de nossos alunos, o Talantilio.
Assim como a Pequi, existem outros grupos no estilo “Big Band” em nosso país como por exemplo a Spok Frevo Orquestra e a Mantiqueira; mesmo a música instrumental brasileira sendo tão rica nunca ela nunca teve o espaço merecido na mídia como um todo. Jarbas, desses 10 anos de existência da Banda Pequi, quais as maiores dificuldades encontradas a frente desse projeto?
JC - Sinceramente nossa aceitação aqui é unânime. Onde tocamos temos sempre um bom público, fiel e já nosso fã. Tocamos bastante em festivais, feiras e congressos, onde temos a oportunidade de apresentar nosso trabalho a um público variado e nacional. Acredito que nossa dificuldade é logística, somos 20 músicos e transportar, alimentar e pagar tanta gente fica inviável. Nossa resistência se resume no grupo acadêmico, que dá suporte logístico e administrativo. Em 2010 fizemos uma apresentação em Florianópolis no congresso da associação nacional de pesquisa e pós graduação em música e foi um arraso. Foi universidade, prefeitura, congresso, governo estadual, todos ajudando nessa empreitada.
A Leila Pinheiro certa vez falou que o problema de alguns artistas não está na pirataria física, na carrocinha que negocia cd’s nos grandes centros urbanos do país; mas sim na pirataria feita em casa a partir de discos baixados na internet. Como se dá a sua relação enquanto músico com esse tipo de situação?
JC - Quando eu era adolescente fiquei maravilhado com a liberdade que trazia a nova tecnologia da fita cassete. Diversas músicas e autores numa mesma fita, era a liberdade total.
Comparo esse momento atual da internet como um processo sem volta. Não sei se é bom ou ruim, pois o problema de divulgação fica aparentemente resolvido, agora, como pagar direito a todos os profissionais envolvidos no processo?
Um dia após o lançamento do Cd o site “um que tenha” já disponibilizada o Cd na íntegra para ser baixado. Pela divulgação acho bom, só não vemos dindim.
Existem grandes festivais de música instrumental em nosso país como, por exemplo, o de Alto Paraíso aí em Goiás e aqui em Olinda (PE) a Mostra Internacional de Música (MIMO). Eu venho acompanhando a MIMO a cerca de 03 anos e o que tenho percebido é que a música instrumental é bem aceita como um todo. Os concertos geralmente são lotados e isso comprova que a música de qualidade, se concederem espaço, será bem aceita. A questão está no direcionamento que se é dado para a música. Como Educador e músico que você é gostaria de saber qual a sua concepção em relação a música e a educação básica em nosso país? Deveria ser algo curricular desde os primeiros anos escolares?
JC - A música instrumental sempre vai ter espaço, onde quer que seja ou esteja. É assim e sempre foi. É a qualidade quem rege essa relação e sempre haverá um bom ouvido perdido nessa massa. A música instrumental não deve se apoiara na mídia de entretenimento, pois não é seu local de atuação. Os festivais são a oportunidade de divulgação do nosso trabalho, tanto aqui como no exterior. Nosso objetivo para 2011 é tentar entrar em circuitos fora de Goiânia, como o próprio MIMO, que acompanho e estimo. Aqui em Goiás temos o Canto da Primavera e o Goyaz Jazz Festival que são referência para nós e já passaram por aqui diversos monstros da música instrumental.
Em 2007 você esteve a frente do projeto Pixinguinha assumindo a direção musical paralelamente com o projeto da Pequi. Em 2011 há mais algum projeto em vista ou esse ano que estamos iniciando, a princípio é apenas para a difusão desse álbum lançado?
JC - Todo ano tento realizar outras atividades tanto artística como de educação. Estamos tentando uma turnê com o projeto Sons do Cerrado, que participou do Pixinguinha, junto com Yamandu Costa. Outro grande desejo é uma ida da Pequi a Recife, Rio, São Paulo, Noruega e Canadá. São sonhos, planos. Nossa história mostra que já realizamos alguns que ninguém acreditava acontecer, portanto, vamos sonhar...
Seu "know-how" vai além, pois também exerceu funções administrativas tais como Chefe do Departamento de Educação Musical e Coordenador do Projeto de Pesquisa Universitária “Criação e Produção em Música Popular da UNIRIO. Atualmente, é professor na Escola de Música da UFG, onde é responsável pela disciplina Práticas Instrumentais e coordena o Núcleo de Música Popular, de onde é oriunda a Banda Pequi, banda esta que foi apresentada ao público do Musicaria Brasil ao longo deste mês.
Depois de um DVD lançado em 2004 e intitulado de "Banda Pequi Ao vivo Itaú Cultural " finalmente , depois de 10 anos de existência foi lançado no último novembro houve o álbum "Leila Pinheiro Banda Pequi Nelson Faria" (álbum esse já abordado em uma das matérias anteriores) , onde Jarbas divide os arranjos do disco com outros músicos. Segue abaixo uma entrevista exclusiva concedida por Jarbas ao nosso Musicaria Brasil!
A primeira pergunta é mais de cunho biográfico do que necessariamente profissional. Em que cidade pernambucana nasceu o menino Jarbas e de que origem vem o sobrenome Cavendish?
Jarbas Cavendish - O "menino" Jarbas é mameluco, de Casa Forte, de Pernambuco, Recife e leão do norte. Vivi anos de ouro no maravilhoso bairro de Casa Forte como verdadeiro menino de rua. Liberdade extrema em todas as fases, coisa complicada hoje em dia. Comecei música muito cedo, acho que com 4 ou 5 anos já arranhava um pianinho com minha mãe, Carmen Cavendish, virtuosa pianista tanto na linguagem erudita quanto popular.
Jarbas Cavendish - O "menino" Jarbas é mameluco, de Casa Forte, de Pernambuco, Recife e leão do norte. Vivi anos de ouro no maravilhoso bairro de Casa Forte como verdadeiro menino de rua. Liberdade extrema em todas as fases, coisa complicada hoje em dia. Comecei música muito cedo, acho que com 4 ou 5 anos já arranhava um pianinho com minha mãe, Carmen Cavendish, virtuosa pianista tanto na linguagem erudita quanto popular.
O Brasil é sem dúvida um celeiro de grandes nomes da música instrumental, se levarmos em consideração nomes que enaltecem os instrumentos de sopro em nosso país como por exemplo Paulo Moura, Léo Gandelman, Pixinguinha, Mauro Senise, Carlos Malta e tantos outros que a lista não caberia aqui de tão extensa. Durante a sua infância e adolescência você já tinha predileção por algum músico, disco ou cantor específico?
JC - Cara, o cara em Recife na minha época ouvia de tudo, tudo mesmo, de Luis Gonzaga a Hermeto Pascoal, passando por Frank Sinatra, Lindomar Castilho e Chico Buarque, sem deixar de falar em Caju e Castanha. As rádios tocavam tudo o que era bom. Minha infância musical foi formatada dentro de uma ampla percepção da qualidade e estudei muito piano “erudito”. Acho que aos 13 ou 14 anos, quando comecei a estudar e tocar bastante violão popular já tinha mais ou menos uns 8 anos de estudo formal, no Conservatório Pernambucano de Música. Lá conheci músicos e professores como Clóvis Pereira, Guedes Peixoto, Eliana Silveira, Edson Rodrigues e o Mestre Duda. Na verdade em diversas fases da minha vida ouvi e vivi diversos músicos e "músicas".
E a convicção de que seguiria o caminho da música surgiu em que época de sua vida e se deu por que?
JC - Eu sempre tive a certeza que a música como profissão para mim era fato consumado. Afastei-me dela durante alguns anos, tendo a oportunidade de estudar economia (2 anos na UFPE), trabalhar no Banorte, ser proprietário de uma imobiliária e de um bar de relativo sucesso na época (1982), no bairro de casa amarela (Chop House). Mas em 1985 caiu a ficha e a partir de então direcionei minhas energias para a música. Transferi meu curso na UFPE para bacharelado em instrumento e me formei na UNIRIO, onde fiz concurso e de imediato comecei a carreira docente.
Por qual circunstância você pernambucano que é foi parar em Goiás e Como se deu esse inusitado encontro entre dois pernambucanos, amantes da música e de profissão semelhantes que é você e o Alexandre Magno? (Temos que levar em consideração que do Recife a Goiás há mais de 2000 km de distância)
JC - Antes de parar em Goiás vivi 13 anos no Rio de Janeiro, onde finalizei meu curso e comecei a carreira docente. Lá desenvolvi e coordenei um projeto semelhante a Pequi intitulado Orquestra de Música Popular da UNIRIO, chegando a gravar um Cd em 1995. No Rio conheci minha atual esposa, a flautista Verônica Alde, Napolitana de nascimento que veio viver com os pais em Goiânia. Encontramos-nos na UNIRIO e no período de 1996 até 1998, pedi licença da universidade e foi morar e administrar a fazenda do meu sogro, tendo uma ímpar experiência profissional e de vida. Retornei ao Rio e em 2000 já estava definitivamente morando em Goiânia, trabalhando na UFG. Quando cheguei aqui encontrei uma escola forte em diversas áreas de atuação e minha vinda deu-se por conta de um acordo técnico cooperativo entre as instituições, para o desenvolvimento da música popular na escola de música da ufg (EMAC). A razão da minha vinda deu-se primeiro pelo meu interesse pessoal em sair do Rio, uma cidade já extremamente violenta, e o fato de no meu currículo existir diversas ações na referida matéria. Entre outras ações destacam-se o Projeto de Extensão Orquestra de Música Popular da Unirio, ter sido membro da comissão de elaboração e implantação do curso de música popular da unirio, o Projeto Workshop de música popular, com parceria com o banco do Brasil, onde troxe para sala de aulas músicos como Carlos Malta, João Lira, Cristóvão Bastos, Pedro Luis e a Parede, Lenine, Ed Mota, Joyce, Cássia Eller e o trompertista Winton Marsales. Essas ações justificaram minha vinda pra Goiânia e logo que cheguei aqui, com esforço da diretora Glacy Antudes e por sua solicitação e incondicional apoio (nossa madrinha) montei o projeto Banda Pequi. Aqui conheci meu irmão Alexandre Magno, na época professor substituto de trombone e "cabôco arretado"de bom. A liga foi imediata a partir desse momento começamos a pesquisa de repertório, adequação ao nível dos alunos, aquisição de equipamentos,etc. Hoje o Alexandre é professor efetivo e está em fase final de doutoramento nos estados Unidos, com previsão de retorno para 2012.
A Banda Pequi é um projeto de extensão Projeto de Extensão e Cultura da Escola de Música da UFG, mas é possível fazer parte dela alunos de outras instituições ou esse projeto se dá apenas para atender a demanda da UFG?
JC - A ideia inicial do projeto foi fazer um rebuliço no cenário musical local, tanto acadêmico como de produção. A demanda de alunos disponíveis na escola sempre foi grande e o projeto estabeleceu a disciplina conjunto musical, disponível nas grades curriculares dos diversos cursos da EMAC como fonte de alimento. Porém por ser um projeto de Extensão a interação com a comunidade também tinha de ser contemplada, possibilitando sim a presença do músico não aluno no projeto. No início foi difícil colocar na cabeça das pessoas a possibilidade de se acreditar num projeto dessa natureza. Diziam que nossa história não duraria um ano. Completamos dez. Hoje temos sete professores tocando e envolvidos no projeto, alunos de mestrado, graduação, ex-alunos e músicos da comunidade. Todos os integrantes recebem bolsa de ajuda de custo da Pro-Reitoria de Extensão e somos um projeto também da Reitoria.
Quem acompanha a Pequi sabe que em 2006 foi lançado em DVD pelo Projeto Rumos do Instituto Itaú Cultural um show realizado no projeto Toca Brasil em 2004. Por que o caminho inverso? Por que não primeiro o CD e depois o DVD?
JC - Pelo fato da Pequi ser um projeto institucional de uma universidade federal, muito das necessidade de mercado como tocar sempre, em qualquer lugar, de qualquer forma, nós não temos. Tudo o que fizemos até hoje foi por convite, solicitação. Nosso encontro com o Itaú cultural começou de forma espontânea, quando o Rumos esteve em Goiânia e nos conheceu. O Edson Natale, gerente do Núcleo de música ficou encantado e nos convidou para participar da apresentação e Sampa e gravação do DVD. Foi um divisor de águas na vida da Pequi.
Na canção “Rapa côco” de sua autoria é perceptível ao longo do arranjo levadas que nos remetem a cultura pernambucana como o maracatu, assim como em todo o trabalho da Pequi é notável a música muito arraigada aos ritmos brasileiros mais genuínos. Como se dá a concepção dos arranjos entre vocês?
JC - No início do projeto tínhamos uma preocupação em adequação do nível dos arranjos com o potencial instrumental da banda. Fomos a Recife, Alexandre e eu e trouxemos vários arranjos de Duda, Flávio Fernandes, Edson Rodrigues e Dimas Sedícias entre outros. Como nossa formação musical passa com forte influência pela música pernambucana é lógico que sempre fizemos (e faremos) baião, frevo, maracatu, etc. Eu tenho escrito bastante para o grupo mas também utilizamos convidar amigos arranjadores para abastecer nosso banco de partituras. Podemos destacar Rafael dos Santos, Adail Rodrigues e recentemente meu amigo Nelson Faria.
Algo que observei entre os participantes do projeto é que o Nosso Trio (os músicos Nelson Farias, Ney Conceição e Kiko Freitas) coincidentemente tocaram (ou ainda tocam) com o João Bosco. Na concepção do projeto vocês cogitaram a ideia da participação do João ou desde o início a Leila já vinha sendo cogitada para protagonizar junto à Pequi esse projeto?
JC - Esse encontro surgiu de um convite feito pela organização de um belo festival de música chamado Canto da Primavera, realizado na cidade de Pirenópolis (GO) onde já estavam se apresentando e dando aulas o nosso trio. Quando o Nelson soube desse convite se animou bastante e indicou o convite para que a Leila pudesse participar conosco do show. A liga foi perfeita e fizemos uma bela apresentação. Dessa apresentação surgiu a idéia da gravação do Cd e nosso repertório foi basicamente dividido entre as músicas e arranjos do Nelson, nossas músicas e após músicas com a Leila. Nossa idéia sempre foi tentar um intercâmbio com os melhores músicos para elevar nossa performance. Já deram canja conosco Arismar do Espírito santo, Carlos Malta, Teço Cardoso, Zé Canuto, Marcelo Martins, Thiago Espírito Santo, Rafael dos Santos e Monica Salmaso. A Leila caiu como luva na nossa vida e existe sim para 2011 a tentativa de ampliar o repertório para fazermos com João Bosco um show completo. Seria o máximo.
Como se deu a escolha do repertório do CD ( um repertório que abrange desde Moacir Santos, Tom Jobim e Guinga até Chico Buarque, Milton Nascimento e Nelson Faria)?
JC - Nosso repertório e escolhido pela qualidade musical. Realmente tentamos tocar de tudo o que é bom. Hoje temos um banco de dados com músicas específicas para big band com mais de 80 peças. Tocamos Duda, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, e diversos outro feras. Um dado interessante é que os alunos de bacharelado em composição da EMAC têm no 5º período a disciplina conjunto musical obrigatório onde eles escrevem para diversos grupos como orquestra, coro, quarteto de violão e banda pequi. Atualmente abrimos nossas apresentações com a música Berimbau, de Baden Powell com arranjo de um de nossos alunos, o Talantilio.
Assim como a Pequi, existem outros grupos no estilo “Big Band” em nosso país como por exemplo a Spok Frevo Orquestra e a Mantiqueira; mesmo a música instrumental brasileira sendo tão rica nunca ela nunca teve o espaço merecido na mídia como um todo. Jarbas, desses 10 anos de existência da Banda Pequi, quais as maiores dificuldades encontradas a frente desse projeto?
JC - Sinceramente nossa aceitação aqui é unânime. Onde tocamos temos sempre um bom público, fiel e já nosso fã. Tocamos bastante em festivais, feiras e congressos, onde temos a oportunidade de apresentar nosso trabalho a um público variado e nacional. Acredito que nossa dificuldade é logística, somos 20 músicos e transportar, alimentar e pagar tanta gente fica inviável. Nossa resistência se resume no grupo acadêmico, que dá suporte logístico e administrativo. Em 2010 fizemos uma apresentação em Florianópolis no congresso da associação nacional de pesquisa e pós graduação em música e foi um arraso. Foi universidade, prefeitura, congresso, governo estadual, todos ajudando nessa empreitada.
A Leila Pinheiro certa vez falou que o problema de alguns artistas não está na pirataria física, na carrocinha que negocia cd’s nos grandes centros urbanos do país; mas sim na pirataria feita em casa a partir de discos baixados na internet. Como se dá a sua relação enquanto músico com esse tipo de situação?
JC - Quando eu era adolescente fiquei maravilhado com a liberdade que trazia a nova tecnologia da fita cassete. Diversas músicas e autores numa mesma fita, era a liberdade total.
Comparo esse momento atual da internet como um processo sem volta. Não sei se é bom ou ruim, pois o problema de divulgação fica aparentemente resolvido, agora, como pagar direito a todos os profissionais envolvidos no processo?
Um dia após o lançamento do Cd o site “um que tenha” já disponibilizada o Cd na íntegra para ser baixado. Pela divulgação acho bom, só não vemos dindim.
Existem grandes festivais de música instrumental em nosso país como, por exemplo, o de Alto Paraíso aí em Goiás e aqui em Olinda (PE) a Mostra Internacional de Música (MIMO). Eu venho acompanhando a MIMO a cerca de 03 anos e o que tenho percebido é que a música instrumental é bem aceita como um todo. Os concertos geralmente são lotados e isso comprova que a música de qualidade, se concederem espaço, será bem aceita. A questão está no direcionamento que se é dado para a música. Como Educador e músico que você é gostaria de saber qual a sua concepção em relação a música e a educação básica em nosso país? Deveria ser algo curricular desde os primeiros anos escolares?
JC - A música instrumental sempre vai ter espaço, onde quer que seja ou esteja. É assim e sempre foi. É a qualidade quem rege essa relação e sempre haverá um bom ouvido perdido nessa massa. A música instrumental não deve se apoiara na mídia de entretenimento, pois não é seu local de atuação. Os festivais são a oportunidade de divulgação do nosso trabalho, tanto aqui como no exterior. Nosso objetivo para 2011 é tentar entrar em circuitos fora de Goiânia, como o próprio MIMO, que acompanho e estimo. Aqui em Goiás temos o Canto da Primavera e o Goyaz Jazz Festival que são referência para nós e já passaram por aqui diversos monstros da música instrumental.
Em 2007 você esteve a frente do projeto Pixinguinha assumindo a direção musical paralelamente com o projeto da Pequi. Em 2011 há mais algum projeto em vista ou esse ano que estamos iniciando, a princípio é apenas para a difusão desse álbum lançado?
JC - Todo ano tento realizar outras atividades tanto artística como de educação. Estamos tentando uma turnê com o projeto Sons do Cerrado, que participou do Pixinguinha, junto com Yamandu Costa. Outro grande desejo é uma ida da Pequi a Recife, Rio, São Paulo, Noruega e Canadá. São sonhos, planos. Nossa história mostra que já realizamos alguns que ninguém acreditava acontecer, portanto, vamos sonhar...
2 comentários:
grande maestro Jarbas, até em entrevista dá aula.
SOU ALUNO DA EMAC(UFG) E SOU ALUNO DO MAESTRO jARBAS , POSSO AFIRMAR QUE SEM DUVIDA ESSE É O MELHOR PROFESSOR QUE JA TIVE.
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