Por Carlos Messias e Silvia Dalben
Há exatos 80 anos, nascia em Niterói (RJ) Cauby Peixoto Barros, que se tornaria o primeiro popstar brasileiro e o maior cantor da era do rádio. Ele nasceu numa família marcada pela música: seu pai tocava violão, sua mãe bandolim, seu tio Romualdo Peixoto era pianista e o primo Ciro Monteiro era cantor e compositor famoso. Assim, seguir a tradição da família foi um caminho natural para ele e seus irmãos, que se tornaram instrumentistas.Imortalizado por suas interpretações de sucessos como Conceição (Jair Amorim/Dunga) e Bastidores (Chico Buarque), o cantor também está completando 60 anos de sua primeira gravação em disco, o samba Saia branca (Geraldo Medeiros). E, pelo visto, ele ainda tem muita lenha para queimar.
Cauby começou a cantar num coral de igreja ainda no colégio e, em 1949, participou de um programa de calouros da Rádio Tupi, quando chamou a atenção pelo timbre de sua voz e ganhou elogios na Revista do Rádio. Lançou seu primeiro disco em 1951 e, no ano seguinte, se mudou para São Paulo, onde começou a se apresentar na boate Oásis, com o seu irmão, e na Rádio Excelsior.
Sua carreira começou a deslanchar em 1954, quando conheceu o empresário Di Veras, que buscava novos talentos para a Rádio Nacional. Famosa, a emissora tinha em seu elenco ídolos como Emilinha Borba e Orlando Silva. Seu lançamento foi preparado aos moldes norte-americanos, com estratégias de publicidade e promoção, o que o fez um ídolo da juventude em pouco tempo. Entre as estratégias, encabeçadas por Di Veras, o cantor passou a usar roupas extravagantes e também teve seus dentes arrancados e substituídos, para "melhorar" a imagem de galã que levava as fãs ao delírio.
O sucesso foi imediato! Ele foi eleito por cinco anos consecutivos o cantor mais popular do país, e sua agenda lotada incluia viagens para os Estados Unidos, onde usava o nome Ron Coby.
Vale salientar que de 1951 pra cá são 60 anos de música que será comemorado com o lançamento de três novos CDs em comemoração a data, que deve ser lançada no segundo semestre deste ano. E prossegue, sem descanso, com sua temporada no Bar Brahma (na região central da capital paulista), onde se apresenta, todas as segundas desde 2004. “Eu já mudei o repertório várias vezes e, desse jeito, consigo manter o show interessante”, explica Cauby.
Na última segunda-feira, a reportagem acompanhou sua apresentação. Cauby já começa a cantar no momento em que deixa o camarim e atravessa o salão caminhando, com a ajuda dos seguranças, até se sentar em uma cadeira no palco. Seu olhar parece perdido no espaço, como se estivesse com a vista falhando ou com a cabeça distante. Mas, quando solta a sua voz, é um estrondo. Ela sai, aparentemente, sem nenhum esforço, e o som preenche o ambiente. “Estou sempre cantando, mesmo sozinho em casa”, revela Cauby, residente do bairro Higienópolis (zona oeste). “Passo o meu dia a dia ensaiando. Ensaio bastante. Tenho esse prazer de ainda poder cantar e fazer discos bons, explica. Me vejo fazendo isso ainda por muito tempo”.
No repertório, há desde Conceição e Bastidores a diferentes canções do repertório de Frank Sinatra (1915-1998), registradas em seu último CD, Cauby sings Sinatra.
“Eu sempre quis gravar um CD em inglês com músicas só do Sinatra, mas nenhuma gravadora deixava. Minha trajetória é parecida com a dele, diz Cauby, que, como o cantor americano, foi crooner de boate no início da carreira”. “Ele é o Sinatra brasileiro”, diz Rodrigo Faour, autor da biografia Bastidores Cauby Peixoto: 50 anos da voz e do mito (2001). “Além da voz, ele tem um glamour que o torna representante direto dos anos dourados”, acrescenta.
Da fossa que marca o seu repertório, Cauby diz que tira apenas inspiração. “Não sou melancólico. Sou muito romântico, e, por incrível que pareça, sou muito feliz”.
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