domingo, 13 de fevereiro de 2011

JORGE MAUTNER, 70 ANOS

Por Bruno Negromonte



Jorge Henrique Mautner completou 70 anos agora em janeiro. Carioca da gema, Jorge Mautner vive de forma filosófica e intensa casa minuto de sua vida acho que desde o dia 17 de janeiro de 1941. Filho de Anna Illich e Paul Mautner. Ambos vieram para o Brasil como refugiados na Segunda Guerra Mundial. Sua mãe, Anna, era austríaca de origem iugoslava e católica, se ocupava dos afazeres domésticos; seu pai Paul, judeu-austríaco, era extremamente culto, e entre outras atividades, trabalhou no Brasil com a comunicação da agência de resistência judaica anti-nazista. Mautner nasceu pouco tempo depois do desembarque de seus pais em terras tupiniquins: "Eu nasci aqui um mês depois de meus pais chegarem ao Brasil, fugindo do holocausto".

Em sua vinda para o Brasil, os pais de Mautner deixaram na Europa a filha do casal, Susana, trazendo como consequência a mãe de Mautner uma paralisia em razão do trauma sofrido por essa separação imposta pelas condições adversas. Assim, devido a esse problema de saúde sofrido pela mãe de Maunter ele fica sob os cuidados de uma babá chamada Lúcia, que era ialorixá. Foi quando ele conhece o candomblé.

Pouco tempo depois, 1948, seus pais se separam e sua mãe casa-se cm um violonista chamado Henri Müller. Müller toca na Orquestra Sinfônica de São Paulo e por esse motivo Jorge Mautner passa a morar em São Paulo junto com o seu padrasto. Henri ensina Jorge a tocar violino.

Em São Paulo, Jorge vai estudar no Colégio Dante Alighieri. E apesar de ótimo aluno, é expulso do colégio antes de concluir o 3º ano do ensino médio, por ter escrito um texto considerado indecente. De quebra, sai do colégio com a "alcunha" de tarado. Mas aí o "tarado"Mautner já esta envolvido com o mundo das letras e começa a escrever seu primeiro livro, Deus da chuva e da morte, aos 15 anos de idade. O livro foi publicado em 1962 e compõe, com Kaos (1964) e Narciso em tarde cinza (1966), a trilogia hoje conhecida como Mitologia do Kaos.

Em 1962, adere ao Partido Comunista Brasileiro, convidado pelo professor Mario Schenberg para participar, com José Roberto Aguilar, de uma célula cultural no Comitê Central. Após o golpe militar de 1964, é preso. É liberado, sob a condição de se expressar mais "cuidadosamente",Coisa que óbviamente não vem a acontecer.

Em 1966, vai para os Estados Unidos, onde trabalha na Unesco e trabalha na tradução de livros brasileiros. Também dava palestras sobre esses livros para a Sociedade Interamericana de Literatura. A partir de 1967, passa a trabalhar como secretário do poeta Robert Lowell. Conhece Paul Goodman, sociólogo, poeta e militante pacifista anarquista da nova esquerda, de quem recebe significativa influência.

Em 1970, vai para Londres, onde se aproxima de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Volta ao Brasil e começa a escrever no jornal O Pasquim. Nesta época, conhece Nelson Jacobina, que será seu parceiro musical até os dias atuais.


Em 10 de dezembro de1973, no período mais duro da ditadura militar, participa do Banquete dos Mendigos, show-manifesto idealizado e dirigido por Jards Macalé, em comemoração dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Do espetáculo participam também Chico Buarque, Dominguinhos, Edu Lobo, Gal Costa, Gonzaguinha, Johnny Alf, Luis Melodia, Milton Nascimento, MPB-4, Nelson Jacobina, Paulinho da Viola, Raul Seixas, entre outros artistas. Com apoio da ONU, o show acontece no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, transformado em "território livre", e resulta em álbum-duplo gravado ao vivo. O disco foi proibido durante seis anos pelo regime militar e liberado somente em 1979. Já em 1987 lança, com Gilberto Gil, o movimento "Figa Brasil" no show O Poeta e o Esfomeado. Figa Brasil ligado ao movimento Kaos, voltado à discussão de questões ligadas à cultura brasileira.

Dentre as obras de Mautner estão os livros Deus da chuva e da morte, de 1962 (que recebeu o Prêmio Jauti de literatura); Fragmentos de sabonete, de 1973; Kaos; Narciso em Tarde Cinza; Floresta Verde Esmeralda; Miséria Douradaundamentos do Kaos; Sexo do Crepúsculo; Poesias de Amor e de Morte; Panfletos da Nova Era; O Vigarista Jorge. Seu mais recente livro, Mitologia do Kaos, lançado em 2002 pela Azougue, recebeu montagem para teatro realizada pelo diretor baiano Fábio Viana. O espetáculo, de criação coletiva, reúne música, dança e teatro e foi intitulado Filhos do Kaos. É parte de um trabalho de pesquisa cênica, artística e estética que vem sendo realizado há muito tempo pelo diretor para o projeto denominado Trilogia do Kaos.Mautner, " que esteve em Salvador especialmente para assistir à estréia da performance artística, declarou "Filhos do Kaos é a própria tragédia grega viva, e todos nós sabemos (e viva Rei Lopes!) que a Grécia Antiga é aqui no Brasil!".

Entre seus sucessos musicais gravados por grandes nomes da MPB, incluem-se O vampiro (Caetano Veloso), Maracatu atômico (Gilberto Gil e Chico Science & Nação Zumbi), Lágrimas negras (Gal Costa), Samba dos animas (Lulu Santos) Rock Comendo Cereja, O vampiro e Samba Jambo com (Jonge).

Seu último registro fonográfico foi o CD "Eu Não Peço Desculpas", em parceria com Caetano Veloso.

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