segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Para dar início a essa nova coluna de nosso blog e não deixar cair no ostracismo a história de nossa música popular brasileira quero trazer ao conhecimento de nossos frequentadores um álbum lançado a exatamente 40 anos atrás. Tenho plena coonvicção de que muitos que aqui "passeiam" nesse espaço nem eram nascidos quando este álbum foi lançado (inclusive eu!), então fica aqui para o conhecimento de muitos o segundo LP na escassa discografia do Candeia.

Por falar em Candeia, vou trazer um breve resumo da biografia deste grande nome do samba brasileiro: Era de filho de sambista. Em seus aniversários, a festa era mesmo com feijoada, limão e muito partido alto. Coisa que não agradava muito ao menino Antônio, que gostaria na verdade de muito refrigerante , bolo, doces e salgados.

Seu pai, tipógrafo e flautista, foi, segundo alguns, o criador das Comissões de Frente das escolas de samba. Passava os domingos cantando com os amigos debaixo das amendoeiras do bairro de Oswaldo Cruz. Assim, nascido em casa de bamba, o garoto já freqüentava as rodas onde conheceria Zé com Fome, Luperce Miranda, Claudionor Cruz e outros. Com o tempo, aprendeu violão e cavaquinho, começou a jogar capoeira e a freqüentar terreiros de candomblé. Estava se forjando ali o líder que mais tarde seria um dos maiores defensores da cultura afro-brasileira.

Candeia começou a fazer músicas ainda na adolescência. Seu pai tocava flauta e carregava o filho para rodas de samba e de choro em Oswaldo Cruz e Madureira.

Compôs em 1953, aos 17 anos, seu primeiro enredo, Seis Datas Magnas, com Altair Prego: foi quando a Portela realizou a façanha inédita de obter nota máxima em todos os quesitos do desfile (total 400 pontos). É até hoje um dos grandes nomes no panteão da Portela.

No início dos anos 60, dirigiu o conjunto Mensageiros do Samba, no qual participavam Arlindo, Jorge do violão, Picolino, Casquinha e Casemiro. Em 1961, entrou para a polícia. Tinha fama de truculento e suas atitudes começaram a causar ressentimentos entre seus antigos companheiros. Provavelmente, não imaginava que começava a se abrir caminho para a tragédia que mudaria sua vida. Diz-se que, ao esbofetear uma prostituta no ano de 1965, ela rogou-lhe uma praga; na noite seguinte, após bater em um caminhão de peixe e atirar nos pneus do caminhão, Candeia levou cinco tiros, entre eles um atingiu a medula óssea e paralisou para sempre suas pernas. Viveu os seus últimos treze anos de vida numa cadeira de rodas, em decorrência daquele tiro. Candeia se aposentou por invalidez após o acidente e pôde, então, se dedicar exclusivamente à música.

Sua vida e obra se transformaram completamente. Em seus sambas, podemos assistir seu doloroso e sereno diálogo com a deficiência e com a morte pressentida: Pintura sem Arte, Peso dos Anos, Anjo Moreno e Eterna Paz são só alguns exemplos. Recolheu-se em sua casa; não recebia praticamente ninguém. Foi um custo para os amigos como Martinho da Vila e Bibi Ferreira trazerem-no de volta. "De qualquer maneira, meu amor, eu canto", diria ele depois num dos versos que marcaram seu reencontro com a vida.

No curto reinado que lhe restava, dono de uma personalidade rica e forte, Candeia foi líder carismático, afinado com as amarguras e aspirações de seu povo. Fiel à sua vocação de sambista, cantou sua luta em músicas como Dia de Graça e Minha Gente do Morro. Coerente com seus ideais, em dezembro de 1975 fundou a Escola de Samba Quilombo, que deveria carregar a bandeira do samba autêntico. O documento que delineava os objetivos de sua nova escola dizia: "Escola de Samba é povo na sua manifestação mais autêntica! Quando o samba se submete a influências externas, a escola de samba deixa de representar a cultura de nosso povo".

No mesmo ano de 75, Candeia compunha seu Testamento de Partideiro, onde dizia: "Quem rezar por mim que o faça sambando". Era também lançado o LP "Claridade", da cantora Clara Nunes, que se tornou recorde de vendagem, e cujo maior sucesso era a trilha de "O Mar Serenou", de Candeia.

Em 1978, ano de sua morte, gravou Axé um dos mais importantes discos da história do Samba, porém não chegou a ver o disco pronto. Ainda viu publicado seu livro escrito juntamente com Isnard: Escola de Samba, Árvore que Esqueceu a Raiz.

No dia 16 de Novembro de 1978 decorrente de uma infecção generalizada Candeia parte deixando esposa, filhos, amigos e fãs inconsoláveis.

Filosofia do Samba - Candeia (1971)
Uma curiosidade deste álbum é a inusitada parceria entre Candeia e o radialista Adelzon Alves, para quem não sabe Adelzon foi uma das primeiras pessoas a quem o cantor e compositor Djavan recorreu quando chegou ao Rio. O radialista conterrâneo do Djavan Edson Mauro apresentou-o a Adelzon Alves e este, por sua vez, o apresentaram a João Mello, produtor da Som Livre, que deu ao cantor sua primeira grande oportunidade. Djavan gravou músicas de outros compositores, incluídas em trilhas sonoras de novelas da Rede Globo.

Faixas:
01 - Filosofia do Samba (Candeia)
02 - Vem é Lua (Candeia)
03 - Silêncio Tamborim (Wilson Bombeiro - Anésio)
04 - Saudade (Candeira - Arthur Poerner)
05 - A Hora e a Vez do Samba (Candeia)
06 - Quarto Escuro (Candeia)
07 - Vai pro lado de lá (Candeia - Euclenes Rosa)
08 - Saudação à Toco Preto (Candeia)
09 - De Qualquer mandeira (Candeia)
10 - Imaginação (Candeia - Aldecy)
11 - Minhas Madrugadas (Candeia - Paulinho da Viola)
12 - Regresso (Candeia - Adelzon Alves)

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