O rapper GOG virou mestre de cerimônia, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sacolejou ao lado de mulatas e ritmistas, o calango voador do Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro entrou no auditório, uma senhora ensopada pela chuva resmungou por não ter encontrado Chico Buarque, o agora ex-ministro da Cultura Juca Ferreira emocionou-se na despedida, o pai de santo Doté Francisco d’Ynhasá pediu que os orixás iluminassem o caminho da sucessora de Juca, e, por falar nela, lá foi Ana de Hollanda, 62 anos assumir o cargo, na festa – vulgo cerimônia de transmissão de cargo – mais farofada do governo Dilma, que reuniu embaixadores, políticos, grupos de circo, samba e percussão e quem mais passasse na segunda à noite pelo Museu da República, em Brasília.
Adotando o tom conciliador do mundo político, Ana enalteceu o trabalho de Juca Ferreira, mesmo tendo pontos de conflito com ele – como a controversa revisão da Lei dos Direitos Autorais, colocada para consulta pública no ano passado e a reforma da Lei Rouanet, omitidos em seu discurso. A primeira ministra da Cultura da primeira mulher presidente do Brasil preferiu enaltecer as políticas públicas da era Lula, prometeu continuidade, observou que a emergente classe C tem consumido, até aqui, mais eletrodomésticos que cultura – e que isso precisa mudar. “A balança não pode permanecer assim tão desequilibrada. Cabe a nós alargar o acesso da população aos bens simbólicos, porque é necessário democratizar tanto a possibilidade de produzir quanto a de consumir”, disse, sob aplausos de uma plateia heterogênea, formada inclusive por colegas dos tempos em que foi secretária de Cultura de Osasco (SP) e vice-presidente do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.
A dama da Cultura aproveitou a ocasião – e a presença de alguns parlamentares – para pedir ajuda ao Congresso: “Vamos aprovar, este ano, nesses próximos meses, o nosso Vale Cultura (subsídio para entrada de cinema, teatro e outros eventos), para que a gente possa incrementar, o mais rapidamente possível, a inclusão da cultura na cesta do trabalhador e da trabalhadora.”
Da lista de projetos que envolvem a pasta, destacou o PAC das Cidades Históricas e ações do Mais Cultura, falou até em levar arte para as zonas rurais, uma espécie de Luz Para Todos para o campo. Emotiva, disse que cada artista pode ter a certeza de que seu coração “está batendo por eles” e que isso vai ser traduzido em mais iniciativas, com o ministério ligado às raízes nacionais.
O que Ana Hollanda trouxe de novo foi a ênfase na aliança com o Ministério da Educação e a aproximação estratégica com outras áreas do governo: “O ministério não será uma senhora excêntrica”.
Para o segundo escalão do MinC, Ana tem praticamente certo três nomes até o momento: o ator Antonio Grassi, que presidirá a Funarte, o administrador cultural gaúcho Vitor Ortiz, que será secretário-executivo, e Glauber Piva, diretor da Agência Nacional de Cinema (Ancine), ainda sem função na nova gestão.
A cantora Rosemary acredita que a chegada de Ana engrandece a participação feminina na Esplanada. “É uma pessoa muito ligada à área, que tem uma história. Gosto muito da família do Chico”, disse.
A SAÍDA
No final da festa (que custou por volta de R$ 50 mil, segundo a assessoria do MinC), teve show do GOG, uma fila de gente querendo cumprimentar a ministra, burburinho nos corredores do museu – e até quem dissesse que Chico se ausentou para não ofuscar a irmã. “O Chico não costuma sair muito de casa, isso é público e notório. Ele vem depois”, afirmou Ana à imprensa.
DIREITOS AUTORAIS
A proposta de revisão dos direitos autorais criminaliza o “jabá” (oferecimento de propina para que certas músicas sejam tocadas em rádios e na TV), dispensa a utorização dos titulares para a restauração de filmes e exibições em cineclubes e prevê supervisão do governo em associações de gestão coletiva de direitos autorais, como o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).
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