quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NA TRILHA DE LENINE

Por José Teles

O termo multiartista não se aplica a Lenine, mas ele é um criador de múltiplas atividades. Atualmente, está na reta final da turnê Labiata, faz música para mais um filme e, ainda, a pré-produção das canções do repertório do seu próximo disco de inéditas, que será lançando em 2011. Por fim, mas não menos importante, lançou esta semana o CD Lenine.doc trilhas (Universal Music), um disco que acabou sendo o mais fácil de fazer de sua carreira: “Este projeto partiu de uma constatação de que tinha muita música feita para os mais diversos trabalhos, e que não saíram nos meus discos de carreira. Novelas, cinema, balé, publicidade. E não só em trilhas, muitas que gravei como intérprete, ou e em discos de amigos. Mais de 60 músicas”, conta Lenine, em conversa por telefone.

O “.doc” no título do disco é de documento mesmo. “Quando me debrucei sobre este material, vi que este disco seria apenas o início. Posso fazer um Lenine.doc sambas de bloco, ou um Lenine.doc intérprete, um projeto que tem um caráter documental”, diz o pernambucano. Peladeiro, ele já perdeu a conta de quantas participações especiais já fez em discos de amigos, aqui e no exterior. A lista é longa: vai de um dueto eletrônico com Luiz Gonzaga a participações em discos tributo para os forrozeiros Elino Julião e Marinês, Chico César, Moska, Mu Chebabi, Silvério Pessoa, Carlos Malta e o Pife Muderno, Massilia Sound System (França), Cesária Évora (Cabe Verde), Pedro Guerra (Espanha), Pedro Abrunhosa (Portugal), para citar uns poucos.

Das trilhas, muita coisa ficou de fora. Uma das primeiras que fez foi a da novela Ana Raio e Zé Trovão, na extinta TV Manchete (As voltas que o mundo dá), que ficou fora deste disco, assim como ficou O mundo, de Cama de gato (com Chico César, Moska e Zélia Duncan). Lenine.doc trilhas provavelmente não terá uma turnê própria: “Vou acrescentando as canções do Trilhas ao roteiro de Labiata, que já venho fazendo há dois anos e meio, e comporta mudanças no repertório. Não penso numa turnê deste disco novo. Também nunca cantei estas músicas no palco. Elas foram feitas para determinado projeto e assim permaneceram”, continua Lenine. Ele ressalta que também não foram feitas alterações nas gravações originais destas canções: “Por exemplo, a que escolhi para bônus track, Alpinista social – a primeira que fiz para uma novela – é a gravação original tirada do vinil, dá para ouvir o chiadinho da agulha no LP”.

Alguns dos fonogramas ele tinha em casa, vários foram gravados em seu estúdio doméstico, outras ele teve que correr atrás. Umas tem histórias curiosas. Minha cidade – menina dos olhos do mar (com Lula Queiroga), teria sido feita para um comercial institucional da prefeitura da Cidade do Recife, que acabou não a utilizando. A Rede Globo Nordeste a usou para um comercial celebrando seus 20 anos na região. O clipe foi gravado no bar Soparia na Herculano Bandeira. Já Sob o mesmo céu, acabou sendo umas das mais obscuras canções de Lenine.“Foi pensada para representar O Ano do Brasil na França, em 2005, a convite dos ministérios da Cultura da França e do Brasil, um motivo de orgulho e prazer”, comenta Lenine. Mas a música tocou apenas naquele período e, agora, é literalmente resgatada. O que não teve resgate foi a ficha técnica de cada música. Lenine conta que ainda pensou em procurar, mas atrasaria o projeto: “Não lembro quem tocou em muitas dessas músicas, algumas como Alpinista, já tem 20 anos”. Umas das poucas que lembra dos músicos é Quatro horizontes, que teve o acompanhamento de Pedro Luis e a Parede.

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