quinta-feira, 4 de novembro de 2010

AS MIL E UMA ATIVIDADES DE CHARLES GAVIN

Charles Gavin está em trânsito. Numa sala de espera do Aeroporto Santos Dumont, enquanto aguarda a hora de embarcar para São Paulo, ele fala sobre outro percurso, que o levou de baterista de uma das maiores bandas do pais, os Titãs (da qual se desligou no começo do ano), a pesquisador musical responsável pelo relançamento de inúmeros discos considerados perdidos e a apresentador do programa "O som do vinil", no Canal Brasil. Gavin - que vai produzir o próximo disco do grupo Canastra e sonha lançar um disco solo - explica essa jornada pessoal como se fossem os dois lados de um desses discos.

- O lado fácil de virar apresentador foi que sou um bom ouvinte. Não sou ansioso, escuto as pessoas contarem suas histórias - diz, enquanto toma café. - O lado difícil foi a postura e a dicção. Precisei mudar o meu sotaque, que era muito paulistano, mesmo para quem mora no Rio há 13 anos.

Em São Paulo, onde passou boa parte dos seus 50 anos, Gavin vai gravar um dos 26 programas da nova temporada (a quarta) de "O som do vinil", um dos líderes de audiência do Canal Brasil (é exibido às sextas, às 21h30), no qual comenta discos importantes da música brasileira. Lenine, Sidney Magal e o jurássico grupo Made in Brazil serão alguns dos seus entrevistados nessa fase

- O programa está cada vez mais eclético. Nossa única limitação, claro, é que os discos escolhidos tenham sido lançados em vinil. Mas com os lançamentos atuais nesse formato, podemos incluir também artistas contemporâneos, como a Fernanda Takai e o Lenine.

Baterista desde os 19 anos, quando ganhou um instrumento do pai, Gavin - que teve breves passagens por outros grupos fundamentais do rock brasileiro, como o Ira! e o RPM - conta que uma das entrevistas que mais o tocou foi com o grupo mineiro de música instrumental Uakti, famoso por construir seus próprios instrumentos:

- Quando comecei a estudar bateria, nos anos 80, meu professor indicou um disco do Uakti. E passei a acompanhar a banda desde então. Por isso, quando entrevistei os músicos e eles me mostraram a trilobita, um instrumento de percussão feito com tubos de PVC, eu quase não conseguia falar. Me impressionou também descobrir que só existe uma trilobita. Se a gente estivesse num país de Primeiro Mundo, esse original estaria preservado num museu de música e tecnologia.

Metódico e perfeccionista, Gavin não se contentou em ficar apenas à frente do programa, dirigido por Darcy Burger, e tem se envolvido cada vez mais no que acontece nos bastidores.

- Já que eu passei para o outro lado, que seja até o fim - brinca. - Gosto de acompanhar o roteiro e até mesmo de fazer a edição, outra coisa que aprendi na marra. Acho que isso é uma extensão do que eu fazia nos Titãs, já que foram raras as mixagens dos nossos discos das quais eu não participei. Vejo nisso também um paralelo com o trabalho de um produtor.




" Sinto falta de produzir. Quer dizer, sentia porque agora, sem os Titãs, posso voltar a me dedicar mais à produção "

Trabalho, aliás, que Gavin exerceu com brilho nas vezes em que foi convocado, fosse junto à cantora Vange Leonel (em disco lançado em 1991, que gerou o hit "Noite preta") ou com o espetacular début do Mundo Livre S/A, "Samba esquema noise", um trabalho dividido com Carlos Eduardo Miranda, em 1994.

- Aquele disco do Mundo Livre realmente é muito bom, né? Sinto falta de produzir. Quer dizer, sentia porque agora, sem os Titãs, posso voltar a me dedicar mais à produção - conta ele, já no segundo café.

Um dos frutos dessa liberdade recém-adquirida é a associação com o grupo Canastra. Por causa disso, Renato Martins, vocalista e guitarrista da banda, garante estar nas nuvens:

- Nunca sequer sonhamos ter um produtor desse calibre ao nosso lado. A gente se encontrou em um show do (grupo) Brasov, no começo do ano, e foi amor à primeira vista. Ele veio trabalhar com a gente trazendo toda uma bagagem de 20 anos de estrada, mas sem tirar onda por ser o Charles Gavin dos Titãs. Ele é muito generoso e deixa todo mundo à vontade. É um tremendo profissional. Chega aos ensaios e anota tudo, de forma quase científica, como se fosse um Professor Pardal. É um cara muito bacana e equilibrado.

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